Petro acusa EUA de ‘chantagem colonial’ sob ‘rótulo’ de combater narcotráfico
Declarações do presidente colombiano, que mantém críticas contra Casa Branca, ocorreram após governo Trump desclassificar Bogotá como ‘aliado na luta contra drogas’
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, discursou sobre a decisão norte-americana de desclassificar seu país como “aliado na luta contra as drogas” e afirmou que a medida “não é uma guerra às drogas”, mas sim “chantagem colonial”.
Em discurso nacional na noite da última quarta-feira (17/09), o mandatário afirmou que “a Colômbia derramou seu sangue contra o narcotráfico”, mas mesmo assim o presidente dos EUA, Donald Trump, descredenciou o país.
O chefe de Estado colombiano também criticou o rótulo de “guerra às drogas” usado pelo governo norte-americano. Segundo ele, essa abordagem se tornou “uma guerra contra os povos do Terceiro Mundo”.
“A guerra permite a expansão do narcotráfico; a paz permite a redução do narcotráfico porque a sociedade se torna dona do poder. Na guerra, quem manda é a máfia [tráfico de drogas]; na paz, quem manda é a cidadania. Aprenda esta lição com o presidente da Colômbia”, recomendou Petro.
Ao classificar a medida como “uma injustiça” e “um profundo insulto”, defendeu que “soberania não é negociável”.
O mandatário acusou o governo Trump de ignorar “os números concedidos” pela Colômbia sobre o assunto e de “escolher uma ideologia da aliança de extrema direita de colombianos ricos que moram Miami em vez da verdade”.
Abordando a inconsistência da decisão de Washington, Petro observou que, entre 2020 e 2021, quando o conservador Iván Duque foi presidente da Colômbia, a porcentagem de hectares de terras cultivadas com coca aumentou 43%, mas o país não foi descertificado pelos EUA.
Para fundamentar seu argumento, ele apresentou um histórico de apreensões de carregamentos de cocaína, que demonstra o aumento da taxa de apreensões. Em 2024, essa variável atingiu um recorde histórico, com apreensões dessa substância ilícita atingindo 889,2 toneladas, quase quadruplicando o número registrado em 2015.
Uma das principais bandeiras do governo republicano é culpar o narcotráfico pela crise que o uso abusivo de fentanil tem causado nos EUA. Sobre isso, Petro rechaçou a responsabilidade latino-americana e disse que as autoridades americanas “não fizeram nada para reduzir o consumo [do medicamento], mas sim pioraram a situação”.
Segundo o líder colombiano, a política antidrogas norte-americana “fracassou” diante das três mil mortes anuais por overdose de cocaína em comparação com as 100 mil mortes anuais por overdose de fentanil nos EUA.

Gustavo Petro declarou que “soberania não é negociável”, em repúdio à decisão norte-americana
Presidencia Colombia
“Números, Sr. Trump, não ideologias, não mentalidades de extrema direita. Não concordo com isso. Concordo com os números. O senhor disse que é o atual governo colombiano que não está cooperando, embora parabenize meu Exército – não o seu –, parabenize minha Força Aérea e minha Marinha, que receberam ordens e cumpriram mais com o presidente eleito na Colômbia do que com as suas ordens, que são absolutamente equivocadas”, discursou, referindo-se às políticas de combate ao tráfico de drogas implementadas pelo seu governo.
Petro ainda recomendou que Trump “abandone sua proximidade com certos políticos de direita” e fortaleça a cooperação com líderes latino-americanos “que têm mais experiência no combate” ao tráfico de drogas.
“Não se trata apenas de invadir países, de navios de cruzeiro ou de mísseis. Trata-se de matar jovens inocentes, isso se chama assassinato. Trata-se de inteligência coordenada e de colocar o campo do lado da redução da produção de drogas”, explicou, referindo-se às tensões provocadas por Washington no Mar do Caribe contra a Venezuela, sob a mesma bandeira de combate às drogas.
“Não me ameace. Estarei esperando aqui, se quiser. Não aceito invasões, não aceito mísseis, não aceito assassinatos. Aceito inteligência. Venha aqui e fale com inteligência, e nós o receberemos. E falaremos cara a cara com números reais, não mentiras”, concluiu.
Descertificação controversa
Na última segunda-feira (15/09), o Departamento de Estado dos EUA anunciou que, pela primeira vez em três décadas, a Colômbia seria adicionada à lista de países que não cooperam suficientemente no combate ao narcotráfico.
O procedimento foi estabelecido em 1987, pela Lei de Assistência Estrangeira, e tem impacto direto na ajuda econômica concedida pelos Estados Unidos. Os países certificados como colaboradores recebem assistência financeira, enquanto aqueles que não obtêm a certificação ficam excluídos desses benefícios e sujeitos a diversas sanções.
Assim, a decisão pode resultar na suspensão da ajuda econômica e militar, na imposição de tarifas, em dificuldades no acesso ao crédito internacional e em obstáculos à aquisição ou reparo de equipamentos militares para a Colômbia.
No entanto, em seu comunicado, o Departamento de Estado — ao anunciar a descertificação — esclareceu que Trump “emitiu uma isenção para que a cooperação crítica, incluindo o combate às drogas, continue”. Esse gesto foi interpretado em Bogotá mais como uma ameaça política do que como uma avaliação técnica e objetiva das ações do governo Petro.
A medida foi anunciada em um contexto de crescente militarização dos Estados Unidos no Caribe e classificada como uma “questão política” pelo governo de Gustavo Petro, que mantém uma postura crítica em relação à atual administração da Casa Branca.
As sanções ocorrem após o presidente Gustavo Petro adotar uma postura crítica em relação ao deslocamento militar que os Estados Unidos mantêm no Caribe desde meados de agosto. No âmbito dessa operação, Washington afirma ter realizado dois ataques — cujas circunstâncias ainda não foram esclarecidas — contra embarcações venezuelanas: o primeiro, em 2 de setembro, e o segundo, em 15 do mesmo mês, com um saldo total de 14 mortos.
(*) Com Brasil de Fato e RT en español























