Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Milhares de militantes do Partido Socialista Espanhol (PSOE) saíram às ruas da capital Madrid neste sábado (2704) para implorar ao primeiro-ministro, Pedro Sánchez, que ele permaneça no cargo, após o premiê ter dito, na quarta-feira (25/04) que considerava renunciar em razão da abertura de uma investigação contra a sua esposa.

No poder desde 2018, o chefe de Governo, de 52 anos, surpreendeu os espanhóis na quarta-feira ao cogitar a sua demissão, após o anúncio por um tribunal de Madrid da abertura de uma investigação por tráfico de influência e corrupção direcionada a sua esposa. O procedimento na Justiça espanhola acontece na sequência de denúncia feita por uma associação próxima da extrema direita.

Desde então, Sánchez permanece em silêncio e cancelou todos os seus compromissos, deixando o país em suspense até o anúncio da sua decisão, na próxima segunda-feira (29/04).

Na quinta-feira, o Ministério Público pediu o encerramento da investigação, mas o juiz responsável pelo caso ainda não revelou as suas intenções.

Cerca de 12.500 pessoas, segundo a prefeitura de Madrid, se reuniram ao meio-dia para manifestar apoio ao primeiro-ministro, em frente à sede do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), onde lideranças da legenda se reuniam. 

“Pedro, presidente”, “Pedro, não desista”, “A Espanha precisa de você”, lia-se nos cartazes carregados pela multidão.

“Espero que Sánchez diga na segunda-feira que vai ficar”, disse à AFP Sara Domínguez, uma consultora de 30 anos, que considera que o seu governo “tomou medidas muito boas para as mulheres, pessoas LGBT+ e minorias”.

Se ele sair e forem convocadas eleições antecipadas, corre-se o risco de que “a extrema direita governe” em aliança com a direita conservadora e que “isto nos atrapalhe em termos de direitos e liberdades”, observou José María Díez, um funcionário público de 44 anos de Valladolid, no norte do país.

Pedro Sánchez garante que a investigação aberta contra a sua esposa é a mais recente ilustração de uma campanha de desestabilização orquestrada por “uma coligação de interesses de direita e de extrema direita” que “não aceitam o veredito das urnas”.

Wikimedia Commons/Pool Moncloa
Primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez cogita deixar o cargo após primeira-dama entrar na mira do tribunal por denúncias da extrema direita

Após ficar em segundo lugar nas eleições legislativas de 23 de julho, atrás do rival conservador Alberto Núñez Feijóo (Partido Popular, PP), o socialista conseguiu ser reconduzido, em novembro, para um novo mandato de quatro anos, graças ao apoio da esquerda radical, do Partido Basco e de partidos regionalistas.

Reunidos na sede do PSOE, os dirigentes do partido vieram cumprimentar a multidão e apelaram, também, ao primeiro-ministro para que ele não deixe o governo. Os ministros mais próximos de Pedro Sánchez garantem que ele não os consultou antes de avaliar a sua demissão.

“Pedro, fique, estamos com você, devemos avançar, devemos continuar a fazer avançar este país. A Espanha não pode retroceder”, declarou a número dois do governo, a ministra do Orçamento, María Jesus Montero.

De acordo com a imprensa espanhola, a investigação contra a esposa de Pedro Sánchez, Begoña Gómez, diz respeito a ligações que ela estabeleceu com o grupo Globalia, patrocinador da fundação em que trabalhava quando a Air Europa, companhia aérea pertencente à Globalia, negociou com o governo Sánchez para obter ajuda pública.

Cenários possíveis

Até o momento, ninguém na Espanha se atreve a prever a decisão que o primeiro-ministro poderá tomar. Se decidir permanecer no cargo, Sánchez poderá optar por se submeter a um voto de confiança do Parlamento, a fim de mostrar à oposição que conta com o apoio da maioria dos deputados.

Caso ele renuncie, poderão ser convocadas eleições legislativas antecipadas neste verão espanhol, com ou sem Sánchez à frente do PSOE.

A oposição de direita está convencida de que o socialista não vai renunciar e denuncia uma estratégia de “vitimização” e de “espetáculo”. O anúncio do primeiro-ministro é “tático e eleitoral”, afirmou, neste sábado, o secretário-geral do PP, Cuca Gamarra, que considera que Sánchez pensa em “obter apoios dos quais hoje não se beneficia ao se vitimizar”.