Oregon questiona Trump por envio de 200 soldados ‘ilegais’ para Portland

O estado do Oregon ingressou com uma ação em um tribunal federal no domingo (28/09), solicitando o bloqueio do envio de 200 soldados da Guarda Nacional para Portland. Segundo o jornal britânico, The Guardian, governo estadual argumenta que a descrição de Donald Trump da cidade pacífica como “devastada pela guerra” é “pura ficção”.

A governadora do Oregon, Tina Kotek, afirmou em entrevista coletiva que foi notificada pelo Pentágono sobre a decisão do presidente de assumir o controle dos reservistas estaduais, invocando uma autoridade que lhe permitiria reprimir “rebeliões” ou atos de ilegalidade.

“Quando o presidente e eu conversamos ontem”, declarou Kotek, “deixei claro que não há nenhuma insurreição ou ameaça à segurança pública que justifique uma intervenção militar em Portland”.

Um memorando do Pentágono, datado de domingo e assinado pelo secretário da Defesa, Pete Hegseth, obtido pelo Washington Post, determinava: “200 membros da Guarda Nacional do Oregon serão convocados para o serviço federal com efeito imediato, por um período de 60 dias”.

De acordo com o procurador-geral do Oregon, Dan Rayfield, a decisão de Trump de federalizar as tropas da Guarda Nacional do estado é claramente “ilegal”, uma vez que não se trata de uma resposta a uma invasão estrangeira ou a uma situação de anarquia generalizada, mas a um pequeno protesto com dezenas de ativistas em frente a um único escritório do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em Portland.

Governadora tentou alertar Trump em ligação: ‘Portland é cidade vibrante e pacífica’, não o ‘inferno’ que ele descreve
Official White House Photo / Daniel Torok

“Vamos ser claros: a polícia local tem a situação sob controle”, reforçou Kotek. “Há manifestações pelo direito à liberdade de expressão próximas a uma instalação federal. A polícia de Portland está atuando diretamente no gerenciamento desses atos, com a presença de agentes federais no local. Quando alguém ultrapassa os limites, há atuação legal e os responsáveis são devidamente responsabilizados.”

A ação judicial movida pelo Oregon ressalta que as alegações falsas do presidente – de que as instalações do ICE estariam “sob cerco” e de que a vida dos moradores de Portland seria “como viver no inferno” – parecem basear-se em uma única reportagem da Fox News veiculada no início do mês, que mesclou um vídeo de redes sociais de um jornalista conservador sobre o protesto atual com imagens de manifestações muito maiores ocorridas em 2020, em outra parte da cidade.

“O problema é que o presidente está usando as redes sociais para formar suas opiniões”, observou o procurador-geral, questionando se a intenção seria enganar o público deliberadamente ou se ele estaria “conduzido por boatos das mídias sociais” sobre as condições reais em uma cidade norte-americana.

Kotek acrescentou que, durante uma ligação no sábado, tentou informar a Trump que ele estava seriamente mal informado sobre a situação atual em Portland – cidade que, segundo ela, retomou seu caráter vibrante e pacífico quase cinco anos após os protestos por justiça racial durante a pandemia.

“O que eu disse ao presidente foi: ‘Não entendo com base em quais informações o senhor está agindo’. Quando ele me diz que o tribunal federal está sob ataque, isso simplesmente não é verdade”, afirmou Kotek. O vídeo exibido na reportagem recente da Fox News sobre Portland continha imagens de um protesto de 2020 em frente ao tribunal federal no centro da cidade, que foram erroneamente apresentadas como registros dos atuais protestos anti-ICE.

“Se o único ponto que ele está levantando são algumas manifestações perto de uma instalação federal – as quais estão sendo administradas normalmente pelas autoridades locais –, então ele recebeu informações incorretas”, concluiu Kotek. “Não podemos olhar para imagens de 2020 e presumir que essa ainda é a realidade de Portland hoje.”