Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Conselho de Direitos Humanos da ONU rechaçou a megaoperação policial em curso nos Complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28/10). As Nações Unidas pedem que o episódio seja investigado de forma “rápida e eficaz”.

Estamos horrorizados com a operação policial em andamento nas favelas do Rio de Janeiro, que, segundo relatos, já resultou na morte de mais de 60 pessoas, incluindo 4 policiais”, afirmou em publicação no X.

A ação, deflagrada pelo governador do estado do Rio, Cláudio Castro (PL), já é considerada a mais letal da história do estado e resultou, até o momento, em 64 mortes e 81 prisões.

“Lembramos às autoridades suas obrigações perante o direito internacional dos direitos humanos e instamos investigações rápidas e eficazes”, afirmou a ONU. Em entrevista a repórteres em Genebra, o porta-voz do escritório de Direitos Humanos, Rupert Colville, reiterou: “estamos profundamente perturbados com os assassinatos”, informa The Guardian.

“Lembramos às autoridades brasileiras que o uso da força deve ser aplicado somente quando estritamente necessário, e que devem sempre respeitar os princípios da legalidade, da precaução, da necessidade e da proporcionalidade”, acrescentou, ao destacar que “a força letal deve ser usada como último recurso e somente em casos em que haja ameaça iminente à vida ou ferimento grave.”

ONU afirma estar ‘horrorizada’ com megaoperação policial no Rio de Janeiro
Fernando Frazão/ Agência Brasil

‘Massacre’

A megaoperação teve ampla cobertura na imprensa mundial que destacou o grau de violência, a dimensão da ação policial e o histórico de enfrentamento armado no Rio.

Sob a manchete “Brasil: pelo menos 60 mortos no pior dia de violência do Rio, em meio a operações policiais em favelas”, o britânico The Guardian afirmou que o Rio está “em guerra”, mencionando as imagens chocantes de algumas vítimas que circularam nas redes sociais.

A reportagem destaca que “policiais e seus apoiadores na imprensa sensacionalista carioca celebraram a missão como um ataque essencial às quadrilhas de traficantes que há décadas usam as favelas como base”; e ouve vários especialistas em direitos humanos. Entre eles, o pesquisador Pedro Paulo Santos Silva, pesquisador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Cidadania do Rio, que afirmou: “é extermínio — não há outra maneira de descrever. Foi um massacre.”

O português Publico também destacou a letalidade da operação e apontou que o uso de drones por parte do Comando Vermelho. “Levada a cabo por cerca de 2500 membros das polícias militar e civil, a operação foi descrita pelo governo como a maior já realizada contra o Comando Vermelho. À chegada das forças de segurança, na madrugada desta terça-feira, os membros do CV utilizaram drones para lançar granadas sobre a polícia, obstruindo também as ruas para evitar a aproximação policial”, afirma o texto.

A francesa RFI, sob o título Cenário da guerra no Rio de Janeiro: dezenas de mortos em operação antidrogas“, afirma que “operações policiais pesadas são comuns no Rio, principal polo turístico do Brasil, especialmente nas favelas, bairros pobres e densamente povoados, frequentemente dominados por traficantes de drogas”.

A reportagem destaca que foram mobilizados 2.500 agentes, dois helicópteros, 32 blindados e 12 veículos de demolição e enfatiza a declaração das Nações Unidas. Lembra também que, “em 2024, aproximadamente 700 pessoas morreram durante operações policiais no Rio, ou quase duas por dia.”

‘Cenas de Guerra’

O argentino Clarín traz a manchete “Cenas de guerra no Rio de Janeiro: pelo menos 60 mortos e mais de 80 presos em megaoperação em duas favelas“, destacando uso de drones pelo Comando Vermelho. A reportagem lembra que se trata de “uma das organizações criminosas mais antigas e conhecidas do Brasil”, surgida nas prisões do Rio na década de 1970.

A reportagem destaca a postagem do deputado e pastor evangélico Henrique Vieira no X, denunciando que o governo estadual do Rio de Janeiro “trata a favela como território inimigo, com licença para atirar e matar”. Clarín informa que, em 2020, o Supremo Tribunal Federal impôs algumas restrições às operações nas favelas, mas que a medida foi suspensa este ano pela Corte.

A agência Reuters trouxe imagens da operação fluminense, apontando-a como “a maior já realizada contra o Comando Vermelho”. A matéria relata que “50 unidades de saúde e educação tiveram suas rotinas interrompidas pelos confrontos, e as rotas dos ônibus tiveram que ser alteradas para evitar os tiros”.

Já o espanhol El País destacou as críticas do governador bolsonarista Cláudio Castro ao governo Lula: “o Rio está sozinho nesta guerra”, disse ele. A reportagem destaca que “um em cada quatro brasileiros, ou 50 milhões de pessoas, vive em bairros dominados pelo crime organizado”.

Em coletiva de imprensa na tarde de ontem, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, contestou as declarações, afirmando que o governo federal vem atendendo todos os pedidos da administração fluminense. “Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense, todas acatadas”, afirmou.