Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva discursa nesta terça-feira (23/09) na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Há uma expectativa de que o mandatário defenda três tópicos centrais: a crise climática, o combate à fome e a questão Palestina.

Para a socióloga Rita Coitinho, as pautas levantadas por Lula são temas que já frequentaram “a maioria” dos discursos do líder brasileiro na ONU e que são “marcas” registradas dele nas relações internacionais. No entanto, ela não acredita na possibilidade do Brasil cortar relações com Israel durante o evento, já que, até o momento, isso não ocorreu “por razões multifacetadas, que vão do comércio à pressão do próprio lobby sionista”.

A especialista em assuntos da integração latino-americana disse a Opera Mundi e que esta edição da Assembleia da ONU ocorre em um “momento crítico no nosso tempo”. Isso por que, segundo Coitinho, o evento internacional acontece em uma “conjuntura de virada da opinião pública acerca dos crimes de Israel em Gaza”.

“Muitos dos governos de países que passaram os últimos 70 anos apoiando Israel incondicionalmente, como Inglaterra e França, anunciaram seu reconhecimento ao direto dos palestinos a um Estado. É claro que esse reconhecimento vem muito tarde, mas não deixa de marcar uma virada”, afirmou.

Ainda para a especialista, a 80ª edição também marca um “relativo isolamento” dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump. Coitinho disse que o governo norte-americano, por um lado, tem “rebaixado sua participação em espaços importantes em que foram protagonistas por décadas”, já de outro lado, “ainda gozam de grande influência sobre os países europeus”, destacando a imposição de acordos tarifárias com a União Europeia, o controle da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e a tentativa de resolver a guerra na Ucrânia.

Lula e Trump

Em relação a um possível encontro entre Lula e seu homólogo norte-americano, Coitinho disse ser difícil saber se há tal possibilidade. Entretanto, a socióloga acredita que o brasileiro “não desperdiçaria a chance de conversar sobre o tema das tarifas e outros“.

“Lula não se nega a conversar, muito menos com o presidente dos EUA. Mas é improvável que Trump queira encontrar-se com Lula em razão de sua agenda de ‘cruzada’ contra lideranças de esquerda, em especial da América Latina”, afirmou.

No entanto, Coitinho aponta que o governo Trump está “criando problemas” ao Brasil na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado. Para ela, a condenação do ex-mandatário e de militares “fez bem à imagem do Brasil no exterior, por mostrar compromisso das instituições brasileiras com a democracia.

Tal defesa não é, segundo ela, “por amor ao Bolsonaro”, mas “razões de sua política interna”: “é importante lembrar que quando Trump perdeu para Joe Biden, em 2020, houve uma tentativa de golpe parecida com a que ocorreu no Brasil alguns anos depois. Trump, ao defender a família Bolsonaro, defende seus próprios correligionários em sua intentona golpista”.

agenda cheia de compromissos na Assembleia Geral da ONU em Nova York © Ricardo Stuckert/PR/ Agência Brasil

Lula tem agenda cheia de compromissos na Assembleia Geral da ONU em Nova York
© Ricardo Stuckert/PR/ Agência Brasil

Porém, de acordo com a especialista, caso ocorra o encontro, seria positivo, pois “mostraria um mínimo de abertura de Trump para dialogar sobre o tema das tarifas”.

COP30 em Belém

Na ONU, Lula deve defender políticas de proteção contra as mudanças climáticas. A postura do presidente brasileiro é no sentido também de promover a COP30, que será realizada em Belém. Faltando aproximadamente dois meses para o evento, Coitinho afirmou estar pessimista, pois, segundo ela, seria necessário que a conferência climática fechasse “acordos efetivos”.

Seria necessário que a COP30 amarrasse algum acordo efetivo para os efeitos climáticos que já estão em curso para solucionar os problemas das populações que sofrem e sofrerão nos próximos anos. Mas não acredito que algo de fato irá ocorrer. Por fim, impossível não falar da COP30 e do fato de que os EUA não se comprometeram até aqui e agora talvez sequer participem das discussões”, disse.

De acordo com Coitinho, há uma ênfase em créditos de carbono e criação de fundos. Porém, já existem três fundos que destinam para a proteção de florestas e criação de alternativas de baixo carbono, “mas efetivamente o que se obtém com isso está muito aquém do que seria necessário”.

“Eu acredito que no máximo a COP termina com o anúncio de mais um fundo e o comprometimento dos países ricos em apenas pagar para que os mais pobres estanquem seu desenvolvimento, sem que façam qualquer movimento no sentido de uma mudança significativa em seus próprios estilos de vida e emissões”, disse.