Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A nova primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, recebeu o presidente americano Donald Trump em Tóquio nesta terça-feira (28/10), prometendo uma “era de ouro” nos laços bilaterais. A visita de Trump, que ocorre entre uma viagem à Malásia e um encontro com o homólogo chinês Xi Jinping na Coreia do Sul, serviu como o primeiro teste de Takaichi no cenário internacional.

Os dois líderes focaram suas discussões em temas cruciais de segurança e comércio, buscando fortalecer a aliança ao “mais alto nível”. Em um contexto de agravamento das relações com a China, a segurança dominou a pauta. Takaichi, a primeira mulher a exercer o cargo de chefe de governo do Japão, é uma defensora de uma postura militar mais robusta, afastando-se do pacifismo de longa data do país.

Diante de Donald Trump, Takaichi declarou que Tóquio está comprometida em “reforçar fundamentalmente” as suas capacidades militares face a ameaças de segurança “graves e sem precedentes”. Ela afirmou que a paz exige “determinação e ações inabaláveis” e que o Japão está pronto para contribuir de forma mais proativa para a estabilidade regional.

O governo japonês antecipou a meta de gastar 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa para este ano, dois anos antes do previsto. Especialistas sugerem que essa antecipação pode ser uma tática para “desviar a pressão americana” para que o Japão aumente ainda mais os gastos em defesa, com os EUA buscando um compromisso talvez próximo aos 5% prometidos pelos membros da OTAN em junho.

Acordos comerciais e minerais estratégicos

A reunião resultou na assinatura de um acordo visando a “resiliência e segurança das cadeias de abastecimento de minerais críticos e terras raras”. O acordo busca reduzir a dependência em relação à China, que anunciou restrições abrangentes sobre a indústria de terras raras neste mês, levando Trump a ameaçar tarifas de 100% sobre importações chinesas em retaliação.

Nova premiê japonesa recebe Trump e promete ‘era de ouro’ nas relações bilaterais
White House

No campo comercial, os Estados Unidos impõem atualmente tarifas de 15% sobre a maioria das importações japonesas, o que contribuiu para uma queda de 24% nas exportações de automóveis destinadas aos EUA em setembro, em termos de valor. Em um acordo comercial de julho, o Japão também se comprometeu a investir U$ 550 bilhões (quase R$ 3 trilhões) nos Estados Unidos até 2029, em áreas como construção naval, exportações de soja e gás americano, e picapes Ford.

Alguns meios de comunicação chegaram a qualificar essa “oferta forçada” como extorsão, pois foi obtida sob a ameaça de tarifas mais elevadas.

Esforço diplomático

Takaichi fez um esforço notável para estabelecer um bom relacionamento com Trump, chegando a anunciar que o indicaria para o Prêmio Nobel da Paz. Ela elogiou os esforços do presidente americano para um cessar-fogo entre a Tailândia e o Camboja, bem como a sua “conquista histórica sem precedentes” no acordo de Gaza.

Como sinal de amizade, Takaichi presenteou o presidente americano com tacos de golfe que pertenceram ao ex-primeiro-ministro assassinado Shinzo Abe, com quem Trump tinha uma relação próxima.

Durante a visita, Trump também se reuniu com famílias de japoneses sequestrados pela Coreia do Norte décadas atrás, garantindo que os EUA estavam com eles “o tempo todo”. Ele também proferiu um discurso a bordo do porta-aviões USS George Washington, ancorado na base naval americana de Yokosuka.

Julgamento do assassinato de Abe

O dia da visita de Trump a Tóquio coincidiu com a abertura do julgamento de Tetsuya Yamagami, o homem acusado de ter assassinado o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe há mais de três anos. Yamagami, de 45 anos, compareceu ao tribunal em Nara — cidade natal de Takaichi.

Acusado de assassinato com premeditação e infração à lei de controle de armas, Yamagami declarou-se culpado, afirmando: “Tudo é verdade, eu o fiz”. Ele teria disparado contra Abe com uma arma artesanal durante um comício eleitoral em 8 de julho de 2022. O veredito é esperado para janeiro.

O assassinato chocou o mundo em um país onde crimes com armas de fogo são extremamente raros. Yamagami nutria um profundo ressentimento contra a Igreja da Unificação (conhecida como “Seita Moon”), responsabilizando-a pela ruína de sua família após sua mãe ter doado cerca de 100 milhões de ienes (cerca de R$ 5,38 milhões na época).

Os debates no tribunal devem se concentrar nas circunstâncias atenuantes ligadas à infância difícil de Yamagami, marcada por “maus-tratos religiosos” devido à devoção de sua mãe à seita. A investigação subsequente revelou laços estreitos entre a Igreja da Unificação e vários políticos do Partido Liberal-Democrata (PLD) do Japão, resultando na época na demissão de quatro ministros.

O assassinato também expôs falhas no dispositivo de segurança de Abe, levando a um reforço da legislação sobre armas em 2024.