Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O bairro do Queens, em Nova York, é conhecido por sua multiculturalidade. Seus moradores têm raízes em tantas regiões do mundo que o distrito é oficialmente o lugar dos Estados Unidos onde mais línguas são faladas, estima-se mais de 160.

A pluralidade étnica é tão grande que cada bairro pode ser reconhecido pelos idiomas e dialetos de seus moradores. Um simples passeio por uma avenida do Queens vira uma viagem por diferentes culturas e latitudes.

É aqui que vive o novo prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, e foi aqui que milhares de nova-iorquinos se reuniram para acompanhar a contagem dos votos.

Em uma cervejaria de Astoria, em uma das festas organizadas pelos Democratas Socialistas da América, antigos companheiros de militância de Mamdani, a fila dobrava o quarteirão uma hora antes do fechamento das urnas.

Cervejaria de Astoria, em uma das festas organizadas pelos Democratas Socialistas da América
Luciana Rosa / Opera Mundi

Representação é tudo

A fila era tão grande que muitas pessoas ficaram de fora, como a colombiano-americana Monica Cardona, de 30 anos, que vestia uma camiseta “Latinas por Mamdani”. Ela lamentava não conseguir entrar, mas celebrava o motivo.

Disse que estava triste, porém feliz ao mesmo tempo. Segundo ela, a fila gigante significava que “muita gente veio apoiar”.

Monica contou que viajou de Long Island, apenas para tentar participar da festa. Embora não vote no distrito porque mudou para Nassau County há dois anos, afirmou que cresceu no Queens e faz questão de apoiar o agora prefeito eleito.

Monica Cardona, de 30 anos, com camiseta ‘Latinas por Mamdani’
Luciana Rosa / Opera Mundi

Ela destacou que líderes progressistas precisam “aparecer mais, especialmente para os jovens”. Para ela, o fato de Mamdani ser muçulmano e falar espanhol em um dos seus vídeos de campanha, mesmo sem ser latino, mostra o “poder da representação”.

Segundo Monica, depois de anos de divisão e racismo, especialmente no governo Trump, ver tanta gente unida é emocionante. E completou que a islamofobia não pode ser tolerada em uma cidade tão diversa.

O que ele fez foi unir as pessoas

Lindsay Klipner, voluntária da campanha, comemorava com entusiasmo. Ela contou que passou o dia conversando com eleitores nas ruas e via esperança no ar. Disse que a energia estava linda e que a vitória era resultado dessa mobilização.

Sobre o futuro, afirmou que espera comunidades “cada vez mais próximas”.

Ao lado dela, a amiga Nefeli Papaioannou, grega recém naturalizada, participava de sua primeira eleição nos Estados Unidos. Ela disse estar em êxtase e descreveu o momento como enorme. Contou que nem sabia da festa e acabou entrando quando voltava para casa. Declarou que não poderia perder “esse momento histórico”.

Juventude e política de base

Com 22 anos, a estudante Sam Vasu esperava pacientemente na fila para entrar. A cada grito vindo de dentro da cervejaria, seu sorriso aumentava. Ela afirmou se sentir sortuda por viver em uma cidade liderada por alguém que “se importa com pessoas comuns e com a crise de moradia”.

Nova-iorquinos comemoram vitória de Mamdani no Queens
Luciana Rosa / Opera Mundi

Sam destacou o caráter comunitário da campanha, que chamou de “totalmente de base”. Para ela, todos ali “fizeram um pouquinho” e isso torna a vitória também uma conquista dos eleitores.

Ela afirma que o resultado tem um significado nacional e demonstra que ainda é possível transformar a política institucional. Disse que às vezes parece que a população não tem voz, mas que a vitória de Mamdani prova o contrário.

Para Sam, o fato de Mamdani ser o primeiro muçulmano eleito prefeito de Nova York e um socialista democrático torna a eleição histórica.

Um espelho da cidade

Nascido em Uganda, filho de mãe indiana e pai ugandês, Mamdani cresceu em Nova York. Sua trajetória, como imigrante, muçulmano e progressista, é vista como símbolo da própria cidade.

Tim, eleitor que carregava um cartaz da campanha com texto em chinês, disse que Mamdani representa o espírito nova-iorquino. Segundo ele, o novo prefeito é “um imigrante que virou cidadão, cresceu aqui e tem uma história diversa”. Para ele, Mamdani simboliza o que Nova York é e o que pode ser.

Luciana Rosa / Opera Mundi