Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Um dos três pesquisadores agraciados com o novo Prêmio Nobel de Economia, o francês Philippe Aghion, fez, nesta terça-feira (14/10), um apelo para evitar o “perigo da chegada” da extrema direita ao poder na França. Ele instou o primeiro-ministro Sébastien Lecornu a suspender a reforma da Previdência, condição exigida pelos socialistas para não votarem uma moção de censura e, assim, evitar uma nova queda do governo.

“Eu não quero a chegada do partido Reunião Nacional (RN) ao poder na França”, declarou Aghion à rádio France Inter. O Nobel de Economia se referia ao partido de extrema direita liderado por Marine Le Pen, que atualmente possui o maior grupo parlamentar na Assembleia Nacional francesa.

“Não quero a instabilidade política que uma nova censura poderia provocar. Acredito que (a suspensão da reforma da Previdência) é um preço modesto a pagar”, afirmou o economista francês. Philippe Aghion foi premiado na segunda-feira (13) com o prestigioso Nobel, ao lado do americano-israelense Joel Mokyr e do canadense Peter Howitt, por seus estudos sobre o impacto da inovação tecnológica no crescimento econômico.

Em meio à grave crise política que atravessa a França, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu fará nesta terça-feira o discurso de política geral de seu segundo governo na Assembleia Nacional. O premiê de centro-direita foi reconduzido ao cargo na sexta-feira pelo presidente Emmanuel Macron, poucos dias após ter renunciado.

Os ministros que compõem o novo governo foram anunciados no domingo e empossados na segunda-feira. O novo gabinete é formado por 34 ministros, oriundos da sociedade civil, técnicos de alto escalão da administração pública e políticos conservadores que já integravam o governo anterior.

Discurso no Parlamento

No discurso de política geral, Sébastien Lecornu deve apresentar as diretrizes do orçamento para 2026, que derrubou seu antecessor François Bayrou. A grande expectativa gira em torno de uma possível suspensão da impopular reforma da Previdência aprovada em 2023, que elevou para 64 anos a idade mínima para aposentadoria no país.

Premiê Sébastien Lecornu fará nesta terça-feira (14/11) o discurso de política geral de seu segundo governo na Assembleia Nacional
Sébastien Lecornu/X

Os partidos Reunião Nacional e A França Insubmissa (LFI, de esquerda radical) já apresentaram uma moção de censura contra o governo Lecornu II, mas, sozinhos, não têm votos suficientes para aprová-la no Parlamento. A suspensão da reforma é uma condição indispensável para obter o apoio dos socialistas e evitar a queda do premiê.

“Espero que os socialistas percebam que isso é uma grande concessão” e que o partido aceite o gesto para salvar “o país do perigo da chegada do RN ao poder”, continuou Philippe Aghion. O Nobel de Economia francês já havia pedido, na noite de segunda-feira, que a reforma fosse “interrompida” até a próxima eleição presidencial, prevista para 2027.

O objetivo do governo Lecornu II é manter o déficit da França abaixo de 5% do PIB, em vez dos 4,7% inicialmente previstos. Essa diferença abre uma margem de € 9 bilhões para atender às demandas da oposição.

Segundo o governo, suspender imediatamente a reforma da Previdência custaria pelo menos € 3 bilhões em 2027. Embora a medida agrade ao Partido Socialista, ela divide o campo presidencial e enfrenta resistência da direita e do setor empresarial. O premiê está, como diz a expressão popular, em uma sinuca de bico.

“O custo da instabilidade, especialmente em termos de aumento das taxas de juros, seria muito maior do que o que se gastaria com essa suspensão”, afirmou Aghion. “Não hesito nem por um segundo”, concluiu.