Nobel de Economia alerta para ascensão da extrema direita na França
Philippe Aghion apelou ao premiê Sébastien Lecornu que suspenda reforma da Previdência, condição exigida pelos socialistas para evitar nova queda do governo
Um dos três pesquisadores agraciados com o novo Prêmio Nobel de Economia, o francês Philippe Aghion, fez, nesta terça-feira (14/10), um apelo para evitar o “perigo da chegada” da extrema direita ao poder na França. Ele instou o primeiro-ministro Sébastien Lecornu a suspender a reforma da Previdência, condição exigida pelos socialistas para não votarem uma moção de censura e, assim, evitar uma nova queda do governo.
“Eu não quero a chegada do partido Reunião Nacional (RN) ao poder na França”, declarou Aghion à rádio France Inter. O Nobel de Economia se referia ao partido de extrema direita liderado por Marine Le Pen, que atualmente possui o maior grupo parlamentar na Assembleia Nacional francesa.
“Não quero a instabilidade política que uma nova censura poderia provocar. Acredito que (a suspensão da reforma da Previdência) é um preço modesto a pagar”, afirmou o economista francês. Philippe Aghion foi premiado na segunda-feira (13) com o prestigioso Nobel, ao lado do americano-israelense Joel Mokyr e do canadense Peter Howitt, por seus estudos sobre o impacto da inovação tecnológica no crescimento econômico.
Em meio à grave crise política que atravessa a França, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu fará nesta terça-feira o discurso de política geral de seu segundo governo na Assembleia Nacional. O premiê de centro-direita foi reconduzido ao cargo na sexta-feira pelo presidente Emmanuel Macron, poucos dias após ter renunciado.
Os ministros que compõem o novo governo foram anunciados no domingo e empossados na segunda-feira. O novo gabinete é formado por 34 ministros, oriundos da sociedade civil, técnicos de alto escalão da administração pública e políticos conservadores que já integravam o governo anterior.
Discurso no Parlamento
No discurso de política geral, Sébastien Lecornu deve apresentar as diretrizes do orçamento para 2026, que derrubou seu antecessor François Bayrou. A grande expectativa gira em torno de uma possível suspensão da impopular reforma da Previdência aprovada em 2023, que elevou para 64 anos a idade mínima para aposentadoria no país.

Premiê Sébastien Lecornu fará nesta terça-feira (14/11) o discurso de política geral de seu segundo governo na Assembleia Nacional
Sébastien Lecornu/X
Os partidos Reunião Nacional e A França Insubmissa (LFI, de esquerda radical) já apresentaram uma moção de censura contra o governo Lecornu II, mas, sozinhos, não têm votos suficientes para aprová-la no Parlamento. A suspensão da reforma é uma condição indispensável para obter o apoio dos socialistas e evitar a queda do premiê.
“Espero que os socialistas percebam que isso é uma grande concessão” e que o partido aceite o gesto para salvar “o país do perigo da chegada do RN ao poder”, continuou Philippe Aghion. O Nobel de Economia francês já havia pedido, na noite de segunda-feira, que a reforma fosse “interrompida” até a próxima eleição presidencial, prevista para 2027.
O objetivo do governo Lecornu II é manter o déficit da França abaixo de 5% do PIB, em vez dos 4,7% inicialmente previstos. Essa diferença abre uma margem de € 9 bilhões para atender às demandas da oposição.
Segundo o governo, suspender imediatamente a reforma da Previdência custaria pelo menos € 3 bilhões em 2027. Embora a medida agrade ao Partido Socialista, ela divide o campo presidencial e enfrenta resistência da direita e do setor empresarial. O premiê está, como diz a expressão popular, em uma sinuca de bico.
“O custo da instabilidade, especialmente em termos de aumento das taxas de juros, seria muito maior do que o que se gastaria com essa suspensão”, afirmou Aghion. “Não hesito nem por um segundo”, concluiu.























