Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, exigiu neste sábado (22/11) que a desigualdade seja declarada uma emergência global, em discurso na Cúpula de Chefes de Estado do G20, realizada em Joanesburgo, na África do Sul.

Na primeira sessão da cúpula de líderes, sobre crescimento econômico sustentável e inclusivo, Lula defendeu a taxação de super-ricos e a troca de dívidas dos países mais pobres por investimentos em desenvolvimento e em ação climática consistente.

“Está na hora de declarar a desigualdade uma emergência global e redesenhar regras e instituições que sustentam assimetrias”, disse ao defender a proposta da África do Sul sobre o tema.

“Essa iniciativa será fundamental para recolocar nos trilhos a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Sem financiamento a Agenda 2030 não passará de uma declaração de boas intenções”, alertou Lula.

O presidente dedicou parte expressiva do discurso à questão da dívida externa dos países em desenvolvimento. Ele afirmou que quase metade da população mundial vive em nações que gastam mais com o serviço da dívida do que com saúde ou educação.

Também mencionou que o custo anual do pagamento da dívida já chega a US$ 1,4 trilhão, superando o valor mobilizado pelo Plano de Ação Baku–Belém para financiar ações climáticas.

Segundo Lula, “a conta é simples”: existe atualmente um fluxo de capital negativo, no qual recursos do Sul Global migram para países ricos do Norte.

Lula também criticou, de forma indireta, a ausência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que não compareceu ao encontro. O boicote norte-americano levou Lula a alertar sobre a fragilidade do G20 como fórum de cooperação global.

“Nenhum país tem condições de prosperar em isolamento. As soluções que buscamos estão ao redor desta mesa”, declarou.

Ele também reforçou que “é preciso preservar a capacidade do G20 em tratar os grandes temas da atualidade”. “Se não formos capazes de encontrar caminhos dentro do G20, não será possível fazê-lo em um mundo conflagrado”, mencionando ainda que “o próprio funcionamento do G20 como instância de diálogo e coordenação está ameaçado”.

O líder brasileiro ainda falou sobre o ressurgimento do unilateralismo e de práticas protecionistas que estão agravando os problemas globais. Para ele, tais movimentos representam “respostas fáceis e falaciosas” à complexidade do cenário internacional e ameaçam o funcionamento do próprio G20 enquanto fórum de diálogo.

Da mesma forma, o líder brasileiro insistiu que os problemas socioeconômicos históricos da América Latina e do Caribe persistem “sem perspectiva de solução e que não serão resolvidos pela ameaça do uso da força”.

Lula também discursou na sessão do G20 que tratou sobre redução do risco de desastres, mudança do clima, transição energética justa e sistemas alimentares
Ricardo Stuckert / PR

Lula mencionou diretamente os conflitos na Ucrânia e em Gaza, destacando que, além das “trágicas consequências humanas e materiais”, estes confrontos provocam graves impactos sobre a segurança energética e alimentar.

Ele citou ainda a crise humanitária no Sudão, que classificou como “a maior dos últimos anos”, e afirmou não haver perspectiva de solução.

Transição energética e crescimento inclusivo

Neste sábado (22/11), Lula também discursou na sessão do G20 que tratou sobre a redução do risco de desastres, mudança do clima, transição energética justa e sistemas alimentares.

Segundo o mandatário brasileiro, o grupo das maiores economias do mundo tem a responsabilidade de desenvolver um novo modelo de economia que priorize a transição energética e a resiliência climática.

“Entramos agora numa nova etapa, que exigirá esforço simultâneo em duas frentes: acelerar as ações de enfrentamento da mudança clima e nos preparar para uma nova realidade climática. O G20 cumpre papel central em ambas”, disse.

Segundo Lula, “é do G20 que um novo modelo de economia deve emergir”, uma vez que o grupo responde por 77% das emissões globais. “O grupo é um ator-chave na elaboração de um mapa do caminho para afastar o mundo dos combustíveis fósseis”, acrescentou Lula.

A reunião na África do Sul ocorre paralelamente às negociações finais da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). Representantes da sociedade civil, entretanto, criticaram a falta de ambição para buscar as metas climáticas previstas no Acordo de Paris, que procura conter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5ºC, como limite para que o mundo não entre em um ciclo grave de catástrofes ambientais.

Um dos principais pontos de frustração foi a ausência do mapa do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão mineral, os principais responsáveis pelas emissões dos gases que causam o aquecimento global. O governo brasileiro e, especialmente, o presidente Lula insistiram na aprovação de um texto que abordasse alguma proposta de cronograma de implementação dessa transição energética.

“A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate. A semente dessa proposta foi plantada e irá frutificar mais cedo ou mais tarde. A mudança do clima não é uma simples questão de política ambiental. É, sobretudo, um desafio de planejamento econômico”, destacou Lula aos líderes do G20.

Ao associar o combate à desigualdade com justiça climática Lula disse que “vai contra o sentido mais elementar de justiça permitir que as maiores vítimas da crise climática sejam aquelas que menos contribuíram para causá-la”.

O G20, criado em 1999, é composto por 19 países, além da União Europeia e da União Africana. O fórum reúne as principais economias do mundo para coordenar políticas que beneficiem o desenvolvimento global.

Na cúpula de Joanesburgo, que começou neste sábado e se estende até domingo (23/11), presidentes, primeiros-ministros e outros representantes de alto nível discutirão questões cruciais como crescimento econômico inclusivo e sustentável, comércio e financiamento para o desenvolvimento. Eles também abordarão a crise da dívida que afeta diversos países pobres, buscando soluções conjuntas.

Neste primeiro dia serão abordados temas como crescimento econômico inclusivo e sustentável, comércio, financiamento para o desenvolvimento e a dívida dos países pobres, em um contexto de crescente divisão geopolítica.

(*) Com Brasil247, Brasil de Fato e Agência Brasil