Sábado, 6 de dezembro de 2025
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https://homolog.operamundi.serverdo.in/politica-e-economia/zapatistas-alertam-que-mexico-esta-a-beira-de-uma-guerra-civil-no-estado-de-chiapas/As mulheres indígenas e suas lutas foram destaque no encontro Rebeldia e Resistência promovido pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) em comemoração ao 31º aniversário da insurreição indígena que teve lutar em Chiapas, México. O encontro ocorreu em Tapachula, estado de Chiapas, entre 28 e 30 de dezembro.

“As avós nos ajudaram a compreender que devemos lutar pelos nossos direitos como mulheres que somos. No levante de 1994, elas enfrentaram o exército e os paramilitares sem armas, só com sua voz e sua palavra. Em tempos de deslocamentos, caminharam por lama e espinhos, guiaram crianças e gestantes pelas montanhas”. Trabalhavam para que o povo pudesse viver”, explicou uma das integrantes da mesa As Mulheres e os Primeiros Passos do Comum Zapatista.

Hoje, as avós integram o movimento zapatista como voluntárias: elas decidem como vão participar. Muitas vezes, atuam como professoras, ali onde houver necessidade, frisaram as participantes.

Superando o sexismo dentro do movimento

As palestrantes também destacaram as conquistas feitas pelas mulheres zapatistas nessas três décadas. “Antes, nossos companheiros não nos deixavam sair. Hoje, podemos sair para trabalhar sozinhas, com o apoio de nossos colegas, mesmo que alguns companheiros ainda não tenham compreendido totalmente”, disseram. Hoje, as mães solteiras podem ocupar cargos na organização.

“Compreendemos como exercer nossos direitos como mulher, deixar nossos filhos, nossa casa e nossos animais para trabalhar. E temos colegas que carregam nossos bebês quando ainda os amamentamos”.

As zapatistas também lembraram que as mulheres aprenderam a andar de bicicleta, dirigir motocicletas e carros, atividades que antes eram exclusivamente masculinas. “Também se esforçam para preservar a luta quando os maridos desertaram ou quando são mães solteiras. Elas mantém culturas tradicionais como milho e feijão, partilham conhecimentos ancestrais sobre saúde, entre outras ações de resistência”, acrescentaram.

Já as mulheres das gerações mais jovens do movimento começam a se profissionalizar, aprendem informática, são promotoras de saúde e atuam como instrumentistas em cirurgias. Elas também têm participação cultural intensa, em peças teatrais, cantos e danças. “Dessa forma também lutamos”.

Radio Zapatista
Mesa das Mulheres Zapatistas

A despeito dos avanços, porém, as zapatistas também destacaram que a repressão governamental sobre elas continua. Elas lembraram que sua manifestação pacífica de 5 e setembro passado, Dia da Mulher Indígena, foi brutalmente reprimida pela polícia mexicana. Várias prisões foram feitas e vários equipamentos, como câmaras e celulares, foram roubados pela polícia. E a repressão se repetiu na manifestação seguinte, pela libertação das detidas. “Lutamos contra a criminalização das lutas sociais!”

Solidariedade às mães de desaparecidos

As representantes do EZLN também enviaram uma mensagem às mães que buscam filhos e outros entes queridos desaparecidos, geralmente levados arbitrariamente pela política ou pelo exército nas últimas décadas. O México hoje tem mais de 116 mil desaparecidos.
“Companheiras buscadoras (como são conhecidas), para nós vocês também são zapatistas porque não desistem, não se vendem e não desistem”, disse uma das participantes.

O movimento zapatista começou a se organizar em Chiapas, México, em meados dos anos 80, para lutar pelos direitos dos povos indígenas e contra as injustiças a que eram submetidos. Mas o EZLN só se tornou conhecido mundialmente, porém, quando organizou uma insurreição armada, que começou dia 1º de janeiro de 1994 e durou 12 dias.

Incapaz de vencer o exército nacional mexicano, os zapatistas passaram a investir em conquistar as consciências, sobretudo, mais recentemente, através da internet, onde eles, e das redes sociais. mantêm inclusive uma web rádio, e das redes sociais.

Cada vez mais democracia interna

Os zapatistas levam 27 anos organizando as comunidades indígenas de forma autônoma do Estado em todas as esferas, desde a polícia e o sistema de justiça até a assistência médica, a economia e a educação.

Outro eixo central do encontro realizado nos últimos dias foi exatamente o aprimoramento dessa forma de organização descentralizada. O objetivo é que  todas as decisões e ações dos zapatistas relacionadas à sua luta pela autonomia, pela defesa do território e pelos direitos indígenas passem a ser tomadas de forma mais coletiva e participativa e não pela hierarquia do movimento.

“Agora, para tomar uma decisão no zapatismo, fazemos uma grande assembleia geral, cujas propostas são divulgadas nas comunidades, onde são feitos os ajustes e, então, são devolvidas para implementação. Não trabalhamos mais em pirâmide, como antes”, explicou o subcomandante insurgente Moisés.

Não à propriedade privada, sim ao trabalho coletivo

Ele explicou também que o movimento, que nasceu nos povos indígenas, agora está aberto não à participação do público em geral, a todos os que concordem com a ideia de construir um novo e melhor modo de vida fora do sistema governamental.

“Queremos que as nossas diferenças acabem porque somos os mesmos pobres”, frisou Moisés. Ele explicou a confluência da luta dos indígenas e dos pobres em geral ficou evidente quando muitos pequenos proprietários foram pressionados pelo governo a vender suas terras. “Seus filhos vieram para as comunidades zapatistas em busca de terras para cultivar”.

Ali, esses camponeses foram obrigados a se integrar a novas formas de organização do cultivo onde eles são proprietários da colheita, mas não da terra. Há, porém, quem queira aplicar a lei de direito sobre a terra após três anos. “Mas aqui a lei do governo não entra. Aqui, está no contrato, que a terra é emprestada. Não à propriedade privada, sim ao trabalho coletivo organizado”.