Dezenas de mortos em protestos desde segunda: o que está acontecendo em Moçambique?
Governo diz que manifestações deixaram de ser pacíficas depois que o Conselho Constitucional anunciou o resultado final que levou à eleição de Daniel Chapo, candidato da Frelimo
Os protestos ocorridos após a proclamação dos resultados das eleições presidenciais de Moçambique deixaram 21 mortos, resultado dos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, segundo informou o governo do país nesta quarta-feira (25/12).
Além disto, houve mais 33 mortos e 15 feridos durante um motim em uma prisão na capital de Moçambique, Maputo, de acordo com o comandante geral da polícia do país, Bernardino Rafael.
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Os números de mortos, contudo, podem ser maiores. A Organização Não Governamental moçambicana Decide, que acompanha o processo eleitoral, segundo a agência de notícias francesa RFI, diz que o número de mortos chega a 56. O maior hospital de Moçambique não tem computados os números de feridos e mortos no panorama geral, mas afirma ter recebido 117 casos de trauma, sendo 62 vítimas de tiros. Destes, dois deles morreram. Nos motins, 1.534 pessoas fugiram da prisão e cerca de 150 foram recapturadas, afirmou Bernardino Rafael.
O Conselho Constitucional de Moçambique oficializou na segunda-feira, dia 23 de dezembro, a vitória de Daniel Chapo, candidato do partido governista Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) à Presidência. Ele alcançou 65,17% dos votos nas eleições gerais realizadas em 9 de outubro deste ano e deverá suceder o atual presidente, Filipe Nyusi.
O principal opositor de Chapo, Venâncio Mondlane, contudo, contesta os resultados. Concorrendo pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), de extrema-direita, Mondlane obteve 24% dois votos. Ele é pastor evangélico e incitou seus eleitores a reagirem ao resultado da votação já em outubro, questionando a transparência dos resultados iniciais que apontavam para a vitória de Chapo.
O ministro do Interior, Pascal Ronda, sublinhou que os protestos deixaram de ser pacíficos desde segunda e descreveu a situação como “desordem pública”, gerando “uma onda significativa de destruição que afeta tanto a propriedade pública como privada”.
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Desde então, foram mais de 230 incidentes em todo o país. Além dos 21 mortos, foram contados 25 feridos , segundo o balanço do governo. As informações foram concedidas pelo ministro do Interior, Pascal Ronda, que detalhou que entre os feridos estavam 12 policiais e 13 civis. A Decide diz que o número de feridos também é maior: 152 pessoas.

Paul Kagame/Wikicommons
Filipe Nyusi, atual presidente, será substituído por Daniel Chapo, candidato do partido governista Frelimo
Ataques a escolas e hospitais
Ronda afirmou ainda que escolas, hospitais, tribunais, empresas e até residências “têm sido alvo de vandalismo e saques” de “homens armados que pareciam seguir uma estratégia específica para realizar ataques que não são aleatórios”.
“Dada a gravidade dos acontecimentos, o Governo de Moçambique ordenou o reforço imediato das medidas de segurança em todo o país, e as Forças de Defesa e Segurança [FDS] vão intensificar a sua presença em pontos estratégicos e críticos”, anunciou Ronda, segundo o portal Club of Mozambique.
O ministro ainda declarou que os manifestantes atearam fogo em 25 viaturas da polícia e permitiram a fuga de presos em uma detenção de segurança máxima da capital Maputo.
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“Confirmamos a fuga, mas as nossas equipas continuam no terreno para apurar o número exato e outros detalhes”, afirmou Justino Tonela, ministro da Justiça, sobre a situação. Em uma segunda unidade prisional alcançada pelos protestos, 86 detentos foram libertados, segundo o governo.
Segundo a imprensa local, o Hospital Central de Maputo, o maior do país, afirmou estar em um “momento crítico” devido ao caos após o anúncio dos resultados eleitorais. A direção do centro de saúde especificou que seus profissionais não conseguem chegar ao hospital e relatou o impedimento da entrega de material, como alimentos e estoque de sangue.
“Estamos passando por um momento crítico, com um número maior de pacientes de trauma em comparação aos anos anteriores durante esse período, e um número reduzido de profissionais de saúde”, que estão trabalhando sem parar por “48 a 72 horas”, afirmou a diretor clínica interina Eugénia Macassa ao jornal.
(*) Com informações de Brasil247, TeleSUR e agências internacionais.























