Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Enquanto Nova York vai às urnas nesta terça-feira (04/11) para escolher um novo prefeito, Andrew Basta, membro do partido Socialistas Democráticos da América, uma das primeiras organizações a apoiar a campanha de Zohran Mamdani, analisou que uma possível vitória do deputado na eleição municipal seria histórica. A Opera Mundi disse que, caso o candidato pelos democratas seja eleito, “outra visão de sociedade” será possível, mostrando que a esquerda “pode vencer” nos Estados Unidos.

Mamdani liderou as pesquisas eleitorais até poucos dias antes do pleito. Segundo os dados da AtlasIntel divulgados no sábado (01/11), o socialista liderava com 41%, seguido pelo ex-governador Andrew Cuomo (Partido Democrata) com 34%; em terceiro estava Curtis Sliwa (Partido Republicano), com 24%. Ele também liderou todas as pesquisas destacadas pelo jornal New York Times realizadas desde junho passado, com exceção de três que mostraram Cuomo na liderança, sendo apenas uma com diferença confortável entre os candidatos (14% a mais para o ex-governador).

Para Basta — que atua como um dos mais de 500 líderes de campo, responsáveis pela campanha semanal e preparação dos voluntários que conversam com os eleitores —, os esforços políticos de Mamdani foram exitosos por uma série de fatores. “Quando nos concentramos na acessibilidade, humanidade universal e conversamos com os trabalhadores onde eles vivem, trabalham, rezam, socializam e se envolvem no mundo [como fez a campanha do deputado socialista pelo Queens], então podemos construir uma base maior do que a dos bilionários”, afirmou.

No âmbito municipal, Basta declarou que um futuro governo Mamdani tiraria a classe trabalhadora de Nova York “da própria sorte” — referindo-se ao abandono promovido tanto por políticos do Partido Democrata, quanto do Republicano. Segundo o membro da campanha, democratas e republicanos “cortaram o financiamento para serviços sociais e educação durante décadas” e confiaram em sucessivas vitórias com baixa participação eleitoral.

Basta também explicou um fator inédito na campanha do político muçulmano: seu foco no alto custo de vida em Nova York, enquanto em outras eleições os candidatos apenas discutiam segurança pública e o papel da polícia. “Nesta eleição, Mamdani trouxe a acessibilidade financeira para o centro das atenções. Ao se concentrar em moradia, transporte e creches, a campanha reuniu uma ampla coalizão que considera a cidade muito cara para se viver e vota com essa questão em mente”, detalhou.

Campanha focada no alto custo de vida

Segundo Basta, a campanha de Mamdani foi focada nos custos de vida altos em Nova York. Diante disso, o deputado sugeriu uma agenda para o congelamento de aluguéis na cidade, estabelecer creches universais para crianças menores de cinco anos e tornar os ônibus municipais mais rápidos e gratuitos.

“Outros planos da campanha incluíam a criação de um Departamento de Segurança Comunitária separado do departamento de polícia, responsável por responder a crises de saúde mental, construção de centenas de milhares de unidades habitacionais realmente acessíveis e criação de cinco supermercados municipais para reduzir o custo dos alimentos”, disse.

Campanha de Mamdani é uma das primeira a levar voto muçulmano a sério em Nova York, avalia militando socialista
Zohran Kwame Mamdani/X

De acordo com o membro do DSA, todos esses programas sociais seriam financiados com a tributação de empresas e super-ricos.

Outro ponto da campanha de Mamdani foi “a variedade de esforços nas redes sociais para conscientizar as pessoas sobre a campanha por meio de vídeos atraentes, mas substantivos e focados em políticas”. Basta ainda reconheceu o fator multilíngue dos materiais, que eram disparados em inglês, espanhol, árabe e urdu/hindi como motivo para o sucesso da campanha.

Por outro lado, o membro do DSA apontou um fator que a campanha de Mamdani usou ao seu favor: os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Em 2024 [nas eleições presidenciais], muitos eleitores da classe trabalhadora de Nova York votaram nele esperando pela redução do custo de vida e que ele acabasse com as guerras aparentemente intermináveis financiadas pelos EUA na Europa Oriental e na Palestina. Mas a campanha viu essas pessoas como possíveis eleitores caso focasse nos custos de vida”.

Caso Mamdani saia vitorioso dessa eleição, Basta avalia que os ataques de Trump continuarão ocorrendo, incluindo o corte do financiamento central para as instituições e a governança da cidade, como ameaçou o presidente. Porém, “a tarefa será tributar os ricos para aumentar os cofres e nossa resiliência diante dos inevitáveis ataques de Trump”.

A Palestina na eleição de Nova York

Opera Mundi questionou Basta sobre a influência da questão palestina no voto do eleitor nova-iorquino. Para ele, a maioria dos eleitores não pensa na Palestina em primeiro plano nas urnas, mas que o genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza e a liberdade do povo palestino “têm um papel a desempenhar” no pleito.

Essa pauta se dá, em especial, diante da divergência entre Mamdani e Cuomo sobre o assunto. Enquanto o ex-governador atua na equipe jurídica do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para evitar o mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) pelo genocídio em Gaza, Mamdani já deixou claras as suas intenções de colocar Nova York em conformidade com o direito internacional e o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra o governo israelense.

Para além dos posicionamentos de Mamdani, sua identidade como muçulmano é muito importante para grande parte dos eleitores, avalia Basta. Segundo o membro da campanha socialista, essa relevância se dá porque após os atentados da Al-Qaeda contra as Torres Gêmeas em Nova York, em 2001, o governo local e federal implementaram políticas para criminalizar e discriminar os muçulmanos, incluindo políticas de abordagem e revista. “Estas políticas levaram a uma marginalização prolongada dos nova-iorquinos muçulmanos e a campanhas políticas tradicionais que os ignoravam como eleitores. Assim, esta é uma das primeiras campanhas em que vimos o voto muçulmano, seja árabe, sul-asiático, africano ou afro-americano, ser levado a sério”, afirmou.

Segundo Basta, a campanha de Mamdani coordenou “a maior ação de aproximação com mesquitas da história da cidade de Nova York” para mobilizar “uma parte frequentemente ignorada da cidade”. “À medida que Trump e Cuomo intensificam os sentimentos antimuçulmanos e antipalestinos, votar em Mamdani é uma forma de expressar oposição a essa desumanização”, disse.