Madagascar destitui presidente que fugiu em avião militar francês; militares assumem governo
Coronel dissolve instituições e diz que junta governará por dois anos até novas eleições
O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, foi destituído nesta terça-feira (14) em um processo de impeachment , após semanas de crise política e protestos liderados pela chamada Geração Z. O presidente pró-França havia deixado o país dias antes para local não revelado a bordo de um avião militar francês.
Também nesta terça, o coronel do Exército Michael Randrianirina anunciou que os militares estavam tomando o poder na ilha africana.
“Tomamos o poder”, disse Randrianirina, acrescentando que os militares estavam dissolvendo todas as instituições, exceto a câmara baixa do parlamento. Posteriormente, ele disse a repórteres que um comitê liderado pelos militares governaria o país por um período de até dois anos, juntamente com um governo de transição, antes de organizar novas eleições.
“O período de renovação durará no máximo dois anos. Durante esse período, será realizado um referendo para estabelecer uma nova constituição, seguido de eleições para estabelecer gradualmente as novas instituições”, disse ele a repórteres. Houve comemorações nas ruas da capital, Antananarivo, após o anúncio do coronel Michael Randrianirina.
Muitos manifestantes zombaram do deposto Rajoelina, dizendo que ele não passa de fantoche francês, país que colonizou Madagascar de 1896 a 1960 e que mantém o controle da exploração de inúmeros recursos da ilha.
“As seguintes instituições estão suspensas: o Senado, o Tribunal Superior Constitucional, a Comissão Eleitoral Nacional Independente, o Tribunal Superior de Justiça e o Conselho Superior de Defesa dos Direitos Humanos e do Estado de Direito”, afirmou um comunicado dos líderes militares do país.
Em um dia de turbulência, o presidente deposto Rajoelina, cujo paradeiro é desconhecido, tentou dissolver a câmara baixa por decreto. Mas os legisladores prosseguiram com a votação para impeachment, deixando o país em um impasse constitucional que os militares aproveitaram para declarar que estavam assumindo o comando.

Geração Z zombou do deposto Rajoelina, dizendo que ele não passa de um fantoche francês
X/@SE_Rajoelina
Crise
O chefe de Estado enfrentou mais de duas semanas de protestos nas ruas, liderados por jovens manifestantes furiosos com a elite pró-França que governa o país. Os protestos começaram devido a cortes de água e energia elétrica ocorridos, mas, aos poucos, passaram a incluir denúncias contra a corrupção, os políticos e a falta de oportunidades no país, com símbolos do mangá japonês One Piece, presente também em inúmeros protestos de jovens da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) contra governos ao redor do mundo.
Soldados se uniram no sábado aos manifestantes e pediram às forças de segurança que rejeitassem “as ordens para atirar” contra a população. Rajoelina, ex-prefeito da capital Antananarivo, foi eleito em 2018 e reeleito em 2023 para um novo mandato de cinco anos em uma votação boicotada pela oposição.
Seus rivais tentam destituí-lo por suposta negligência nas funções, após relatos de que teria abandonado o país. Mas Rajoelina afirmou na segunda-feira que estava refugiado em um “lugar seguro”, que não revelou, após denunciar supostos atentados contra sua vida.























