Macron renomeia premiê que pediu demissão cinco dias antes
Sébastien Lecornu declarou que aceita nova nomeação ‘por dever’ e que tentará construir ‘nova equipe de governo'
Após duas horas e meia de conversas com lideranças partidárias no Palácio do Eliseu, na tarde desta sexta-feira (10/10), o presidente Emmanuel Macron anunciou por volta de 22h (hora de Paris) que decidiu reconduzir Sébastian Lecornu à chefia do governo francês. Político do círculo próximo de Macron, Lecornu, que havia apresentado sua demissão na última segunda-feira (6), declarou que “aceita” a sua nomeação “por dever” e tentará construir uma “nova equipe de governo” que “deve incorporar renovação e diversidade de competências”.
A recondução de Lecornu ao cargo de primeiro-ministro provocou imediatamente críticas da oposição. É “mais um tapa na cara dos franceses”, denunciou Manuel Bompard, coordenador do partido de esquerda radical LFI, no X. “Estamos propondo esta noite aos parlamentares de esquerda na Assembleia que assinem uma moção de censura imediata e uma nova moção de impeachment do presidente”, declarou Mathilde Panot, do mesmo partido, no X.
“O governo Lecornu 2, nomeado por Emmanuel Macron, mais isolado e desconectado do que nunca no Palácio do Eliseu, é uma piada de mau gosto, uma vergonha democrática e uma humilhação para o povo francês. O Reunião Nacional, é claro, censurará imediatamente esta coalizão sem futuro, cuja única razão de ser é o medo da dissolução, ou seja, do povo”, afirmou Jordan Bardella, presidente do partido de extrema direita fundado por Marine Le Pen, no X.
Debates no Eliseu
Durante a tarde, Macron discutiu o impasse sobre a falta de maioria na Assembleia de deputados com líderes centristas, de direita, socialistas, ecologistas e comunistas. Os representantes das siglas França Insubmissa (LFI) e da Reunião Nacional (RN) – respectivamente de esquerda radical e de extrema direita – não foram convidados para o encontro no Eliseu. Ao deixarem o palácio, ecologistas, socialistas e comunistas disseram à imprensa que Macron havia descartado nomear um chefe de governo de esquerda.
“O primeiro-ministro não será do nosso campo político”, lamentou a ecologista Marine Tondelier, que se declarou “chocada” com a atitude do líder francês.

O premiê Sébastien Lecornu foi reconduzido ao cargo pelo presidente Emmanuel Macron na mesma semana em que pediu demissão
Serviço de Informação Governamental da França
Emmanuel Macron não “deu nenhuma resposta clara”, nem “sobre o poder de compra, nem sobre as aposentadorias, nem sobre qualquer outro assunto”, lamentou o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, aos jornalistas que davam plantão na saída do Eliseu.
Apesar de especialistas descartarem uma dissolução da Assembleia Nacional, Faure deixou clara a possibilidade de censura, pelo PS, de um futuro governo escolhido pelo presidente da República. “Não há nenhuma garantia de que não apresentaremos uma moção de censura”, alertou Faure, enquanto aguardava a escolha presidencial. “Não buscamos a dissolução, mas também não a tememos”.
Já os dirigentes do chamado “bloco comum”, que vai do partido de centro Renascimento, fundado por Macron, aos Republicanos de direita (LR), não se pronunciaram ao deixar o palácio.
Quinto premiê do segundo mandato de Macron
Lecornu, o quinto primeiro-ministro desde a reeleição de Macron, em 2022, surpreendeu o país ao anunciar a sua demissão na manhã de segunda-feira (6), 27 dias após chegar ao cargo. Homem de confiança de Macron, Lecornu chefiava a pasta das Forças Armadas quando foi convocado para controlar a crise provocada pela renúncia de François Bayrou, que também não conseguiu alinhavar uma costura política no Parlamento para negociar a aprovação do Orçamento de 2026.
Desde a dissolução da Assembleia provocada por Macron e das eleições antecipadas ocorridas em meados de 2024, o Parlamento francês se encontra dividido em três blocos polarizados, que travam uma guerra pela conquista do poder.
Nem a esquerda, nem o centro, nem a direita têm interesse neste momento em negociar uma aliança que reúna pelo menos 289 deputados, o número mínimo necessário para a formação de um governo estável. Todos estão de olho nas eleições municipais de 2026 e não querem perder eleitores se associando a um novo governo sob as ordens de Macron, cujo índice de popularidade caiu para 14%.
Negando a possibilidade de renúncia do presidente, a equipe de Macron havia confirmado durante a tarde que havia “um caminho possível para construir compromissos e evitar a dissolução”.























