Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O governo Lula está correto em responder às ameaças de Donald Trump como prevê a Lei de Reciprocidade Comercial do Brasil. Essa é a avaliação de Camila Vidal, que é professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Opera Mundi.

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Para a pesquisadora, a carta de Trump enviada ao presidente brasileiro é um ataque contra a soberania e a independência do Judiciário do país, um gesto que visa interferir na política doméstica e, “não conseguindo isso, pune as exportações”.

Vidal analisou que o documento “é claramente uma tentativa de intervenção externa”. “Se antes a gente ficava descobrindo esse tipo de intervenção anos após o ocorrido, agora, a prova está aí, aos olhos de todos”, complementou.

Nesse sentido, ela aprovou a resposta do governo Lula ante à ameaça de ser sobretaxado em 50%. “Espero que o Brasil possa usar isso em benefício próprio”, disse.

Também pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos Políticos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), Vidal apontou que a justificativa do tarifaço tem um “aspecto político”, enquanto outras cartas enviadas também pela Casa Branca estão em “termos de um suposto déficit comercial”.

Camila Vidal aponta ‘tiro no pé’ nas medidas da Casa Branca que podem aproximam ainda mais o Brasil da China
Reprodução vídeo / Iela UFSC

Segundo ela, a medida dos Estados Unidos é “contraprodutiva e um tiro no pé”: “Eles não entenderam o real contexto da situação aqui no Brasil, sequer entenderam o que é o Brasil e o país sob a Presidência do Lula”.

Efeitos imediatos

Para Vidal, a medida de Trump é capaz de unir setores da sociedade brasileira bastante antagonizados, destacando que o republicano conseguiu fazer o “improvável”. “É emblemático o editorial do Estadão de hoje, ainda que seja cedo para fazer esse tipo de suposição, dá para ver que houve mudanças”.

“Quem sabe agora fique claro o que é óbvio: não existe patriotismo batendo continência para bandeiras de outro país”, mencionou, ao se referir ao episódio em que Bolsonaro bateu continência à bandeira norte-americana, cujas imagens foram postadas nas redes sociais após o anúncio de Trump.

Outro aspecto contraprodutivo da medida é a presença da China. “Ainda que o comércio com os Estados Unidos seja importante para o Brasil – como o nosso é para eles – isso pode ser substituído por outro país, e aí entra a China, que pode usar esse vácuo em benefício próprio”, salientou.

Obviamente, destacou Vidal, os Estados Unidos não querem jogar o Brasil nos braços da China — pelo contrário. Por isso, avaliou que foi uma “decisão política, econômica e estrategicamente bastante equivocada e apressada, por parte da Casa Branca”.