Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente Lula participou nesta quinta-feira (16/10) da abertura do 16º Congresso do PCdoB, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, onde quebrou o silêncio em relação às ameaças dos Estados Unidos contra a Venezuela.

“Todo mundo diz que a gente vai transformar o Brasil na Venezuela. O Brasil nunca vai ser a Venezuela e a Venezuela nunca vai ser o Brasil, cada um será ele [próprio]. O que nós defendemos é que o povo venezuelano seja o dono do seu destino. Nenhum presidente de outro país tem que dar palpite de como vai ser a Venezuela ou vai ser Cuba”, afirmou Lula, sem citar explicitamente o presidente norte-americano.

A declaração foi dada um dia após Donald Trump autorizar a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir ações na Venezuela; e no mesmo dia em que os chanceleres do Brasil e dos EUA se encontraram para negociar o tarifaço imposto pelo republicano aos produtos brasileiros.

Mais cedo, o assessor para Assuntos Internacionais do governo brasileiro, o ex-chanceler Celso Amorim, disse ao UOL ser “inconcebível um ataque militar ou uma ação secreta para derrubar um governo”. “O Brasil é contra o uso da força e de operações secretas. Seguimos fielmente a política de não intervenção. Trata-se de um princípio básico do direito internacional”, afirmou.

Lula rompe o silêncio e critica ameaça norte-americana à Venezuela
Marcelo Camargo / Agência Brasil

O Partido dos Trabalhadores também divulgou uma nota condenando “com veemência mais um ataque dos EUA à soberania da Venezuela” e repudiando as declarações de Trump: “são uma afronta à soberania do país sul-americano e uma violação do Direito Internacional. É uma iniciativa inaceitável e deplorável”.

Primeira declaração direta de Lula

Esta foi a primeira manifestação direta do presidente Lula desde a escalada das agressões de Washington contra a Venezuela. Em janeiro, a Casa Branca anunciou uma recompensa de US$ 25 milhões em troca de informações que levassem à prisão de Maduro; o valor foi dobrado em julho para US$ 50 milhões.

Em agosto, a ameaça se intensificou com o envio pelos Estados Unidos de caças, militares, navios de guerra e um submarino nuclear para a costa venezuelana.

Em seu discurso na ONU, no dia 23 de setembro, de forma indireta, Lula citou a questão, ao afirmar que “na América Latina e Caribe, vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade” e que manter a região como zona de paz era prioridade, destacando ser “preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo”.

“Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias. A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela”, salientou.

Relações Venezuela-Brasil

As relações entre os países esfriaram quando o governo brasileiro não reconheceu a vitória do presidente Nicolás Maduro, nas eleições presidenciais de 28 de julho, ocorridas no ano passado. Na época, o presidente brasileiro afirmou que a situação política estava “ficando deteriorada na Venezuela” e que “o colégio [Conselho Nacional Eleitoral] tinha que dar o parecer sobre as atas”.

“Ele [Maduro] que arque com as consequências do gesto dele. Eu arco com as consequências do meu gesto. Eu tenho consciência política de que eu tentei ajudar muito, mas muito e muito”, afirmou.

A situação se agravou com o veto brasileiro à entrada da Venezuela nos BRICS, em 24 de outubro do ano passado, no contexto da 16ª cúpula do bloco na cidade de Kazan, na Rússia. A instrução para vetar a possível adesão de Caracas partiu do presidente brasileiro, em uma mudança de posicionamento, após as eleições venezuelanas.

Na época,  Amorim afirmou que não se tratava de um “julgamento moral ou político’ e que “os BRICS têm países que praticam certos tipos de regimes, e outros tipos de regimes, a questão é se têm capacidade, pelo seu peso político e capacidade de relacionamento, de contribuir para um mundo mais pacífico”.

Em julho deste ano, novamente, a Venezuela voltou a não ser convidada para a reunião dos BRICS, ocorrida no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira do bloco.