Lula reafirma soberania às vésperas de tarifaço de Trump: ‘Brasil é independente’
Presidente nega possibilidade de discutir tarifas com homólogo norte-americano, mas sugere convite a Donald Trump para COP30
Em discurso ao fim de encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social nesta terça-feira (05/08), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a soberania brasileira enquanto voltou a criticar as taxas de 50% sobre produtos brasileiros impostas por seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump.
Durante sua fala ao fim do apelidado de “Conselhão”, Lula destacou que a medida ao Brasil foi inaceitável: “O presidente norte-americano não tinha o direito de anunciar as taxações como ele anunciou para o Brasil. Poderia ter pegado o telefone, ligado para mim, ligar para o Alckmin, para qualquer um. Estaríamos ávidos em conversar. E, depois, o pretexto da carta e da taxação não é nem político, é eleitoral”, disse.
Ainda, o presidente teria defendido que “seria tão importante que a gente trabalhasse baseado na verdade e somente na verdade”, afirmando que “não é possível o mundo dar certo se a gente perder o mínimo de responsabilidade, de respeito à soberania, à Suprema Corte dos países, ao funcionamento do Congresso”.
“Se nós passamos a dar palpite sobre as coisas que acontecem em todos os países, estamos ferindo uma palavra mágica chamada soberania”, acrescentou Lula.

Presidente Lula discursa ao fim de encontro do ‘Conselhão’, colocando em pauta a soberania brasileira
Ricardo Stuckert/PR
Há espaço para diálogo com Donald Trump?
Lula teria expressado que não gostaria de conversar sobre as tarifas pela falta de abertura, mas que existe a possibilidade de ligar para seu homólogo norte-americano para convidá-lo para a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que ocorrerá em Belém.
“Eu não vou ligar para o Trump porque ele não quer falar. Mas pode ficar certa, Marina [Silva], eu vou ligar para o Trump para convidá-lo para vir para a COP porque eu quero saber o que ele pensa da questão climática. Vou ter a gentileza de ligar. Vou ligar para ele, para o Xi Jinping, para o primeiro-ministro [Narendra] Modi. Só não vou ligar para o [Vladimir] Putin, porque ele não está podendo viajar”, afirmou.
O presidente brasileiro também reiterou a intenção de evitar tensões com Washington ao dizer: “Eu confesso que, na última vez que vim ao Conselhão, fiz um discurso muito inflamado, e hoje, devido à seriedade do momento político que estamos vivendo, resolvi fazer um discurso lido para medir cada palavra”.
O presidente estava acompanhado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), que deve conversar nos próximos dias com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e Mauro Vieira (Relações Exteriores), que, na semana passada, manteve diálogo com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
O que está em jogo com as tarifas dos EUA?
É estimado pelo governo brasileiro que 35,9% das exportações brasileiras para os Estados Unidos serão impactadas pelas tarifas republicanas, o que, por sua vez, representaria um total de US$14,5 bilhões em vendas externas de produtos brasileiros.
De fora do tarifaço, ficariam, no entanto, 44,6% dos produtos vendidos para os EUA. Conforme o governo, seria um montante equivalente a US$18 bilhões (que leva em conta, também, as vendas de 2024). Na lista de exceções, figuram 694 itens, como o suco de laranja, a madeira e os derivados de petróleo.
O que é o Conselhão?
Trata-se de um colegiado formado por agentes que atuam em diversos espectros da sociedade, como artistas, empresários, influenciadores digitais e médicos, além de integrantes de movimentos sociais e sindicais, professores, líderes indígenas e outros.
O Conselhão foi, inicialmente, uma iniciativa de Lula, criado em seu 1º mandato (2003-2006), e extinto em 2019 pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em meio ao seu terceiro governo, o político petista retomou as atividades do grupo em 2023, visando manter um canal de diálogo direto entre o plano Executivo e a sociedade.























