Lula reafirma soberania e diz que Brasil não aceitará ofensas dos EUA
Presidente também defendeu cassação de mandato de Eduardo Bolsonaro, acusado de articular sanções norte-americanas contra Brasília
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou nesta terça-feira (26/08) que o Brasil não aceitará “desaforo, ofensas e petulância de ninguém”, referindo-se à guerra tarifária do governo dos Estados Unidos.
A declaração, realizada na segunda reunião ministerial de 2025, foi acompanhada de uma orientação do mandatário brasileiro aos seus ministros: para que defendam a soberania do país em seus discursos públicos.
“É importante que cada ministro, nas falas que fizerem daqui para frente, façam questão de retratar a soberania desse país. Nós aceitamos relações cordiais com o mundo inteiro, mas não aceitamos desaforo e ofensas, petulância de ninguém. Se gostássemos de imperador, o Brasil ainda seria monarquia. Mas queremos esse país democrático e soberano”, acrescentou.
Mesmo classificando a política econômica do governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump, como “descabidas”, Lula disse que o Brasil segue à disposição para negociar as questões comerciais.
“Estamos dispostos a sentar na mesa em igualdade de condições. O que não estamos dispostos é sermos tratados como se fôssemos subalternos. Isso nós não aceitamos de ninguém. É importante saber que o nosso compromisso é com o povo brasileiro”, disse Lula.
Impacto do tarifaço no comércio brasileiro
Durante a reunião ministerial, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que está à frente das negociações sobre o tarifaço, também apresentou números atualizados sobre o impacto das medidas norte-americanas no comércio brasileiro.
Segundo ele, 35,6% de todas as exportações do Brasil para os EUA estão sob uma tarifa de 50%. Isso significa que para que os produtos brasileiros cheguem ao mercado norte-americano, os importadores do país precisarão pagar 50% a mais, aumento que é repassado no valor final ao consumidor.
Além disso, Alckmin explicou que 23,2% das exportações ao país norte-americano são taxados de acordo com a Seção 232 da Lei de Expansão Comercial norte-americana, que é aplicada a todos os países, com exceção do Reino Unido. Para aço, alumínio e cobre, por exemplo, a tarifa é de 50%; automóveis e autopeças são taxados em 25%.
O restante dos 41,3% de produtos exportados aos EUA tem uma tarifa de 10%.
“O presidente Lula tem orientado diálogo permanente e soberania. O Brasil não abre mão da sua soberania, do Estado de Direito, e da separação dos poderes, que é a peça basilar da democracia e, ao mesmo tempo, negociação e diálogo para a gente corrigir essa absoluta distorção da política regulatória”, acrescentou.
Ainda nesta terça-feira, Alckmin e outros ministros embarcam para uma viagem ao México, para tratar do potencial de ampliação do comércio entre os dois países. Segundo ele, há possibilidades nas áreas agrícola, de biocombustível, aviação, energia e industrial.

“Não existe nada mais grave do que um cidadão que já deveria ter sido expulso da Câmara dos Deputados, insuflando um outro Estado contrao Brasil”, disse Lula sobre Eduardo Bolsonaro
Ricardo Stuckert / PR
Lula defende cassação de Eduardo Bolsonaro
O tarifaço imposto ao Brasil faz parte da nova política da Casa Branca, inaugurada pelo presidente Donald Trump, de elevar as tarifas contra parceiros comerciais na tentativa de reverter a relativa perda de competitividade da economia dos Estados Unidos para a China nas últimas décadas. No dia 2 de abril, Trump impôs barreiras alfandegárias a países de acordo com o tamanho do déficit que os Estados Unidos têm com cada nação. Como os EUA têm superávit com o Brasil, na ocasião, foi imposta a taxa mais baixa, de 10%.
Porém, em 6 de agosto, Trump aplicou uma tarifa adicional de 40% contra o Brasil em retaliação a decisões que, segundo ele, prejudicariam as big techs norte-americanas e em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022.
Lula não deixou a articulação da família Bolsonaro com o governo Trump nos EUA fora das pautas da reunião ministerial, e defendeu que o Congresso Nacional comece a discutir a cassação do deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Eduardo pediu licença de 122 dias do mandato parlamentar em março e foi morar nos Estados Unidos, sob a alegação de perseguição política. Desde então, tem atuado junto às autoridades norte-americanas para a aplicação de sanções ao Brasil.
Para Lula, o comportamento do deputado é, “possivelmente, uma das maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus”.
“Não existe nada que possa ser mais grave do que um filho custeado pela família, um cidadão que já deveria ter sido expulso da Câmara dos Deputados, insuflando com mentiras e com hipocrisias, um outro Estado contra o Estado nacional do Brasil”, disse o mandatário.
O presidente brasileiro disse ainda que a situação exige “a uma frente de batalha no campo da política” e não apenas “no campo do governo” para que o Brasil “seja respeitado”.
Na última semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro e Eduardo foram indiciados pela Polícia Federal pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
A decisão foi tomada após a PF concluir as investigações sobre a atuação de Eduardo junto ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para promover medidas de retaliação contra o governo brasileiro e ministros do Supremo.
(*) Com Agência Brasil























