Lula diz que ‘fome é irmã da guerra’ e denuncia desnutrição na Palestina
Presidente criticou políticas protecionistas prejudiciais à produção agrícola global durante Fórum Mundial da Alimentação
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva denunciou nesta segunda-feira (13/10) que a “desnutrição tem sido usada como arma de guerra” na Palestina. O mandatário retomou as críticas à conduta tomada pelo governo israelense contra os palestinos ao longo de dois anos de genocídio, durante o seu discurso de encerramento da 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, em Roma, na Itália. O evento foi copresidido pelo Brasil e pela Espanha.
“Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças.”, assegurou o petista, acrescentando que já há nove projetos-pilotos prontos para isso por meio do recém inaugurado “Mecanismo de Apoio da Aliança”, uma iniciativa que tem como apoio a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).
“É hora de colocar os pobres no orçamento. A inclusão social não pode ser só uma promessa – ela precisa estar refletida na arquitetura fiscal, nos investimentos públicos e nos planos de transformação produtiva”, enfatizou.
Vale lembrar que em julho, a FAO anunciou que o Brasil saiu do Mapa da Fome, com apenas 2,5% da população em risco de subnutrição ou sem acesso à alimentação suficiente entre 2022 e 2024. O país havia voltado para o índice entre 2019 a 2021, durante a gestão de Jair Bolsonaro. Lula atribuiu o resultado positivo às políticas integradas de transferência de renda, citando a recente aprovação da isenção de imposto para quem ganha até R$ 5 mil mensalmente.
Esta reunião teve como objetivo avaliar o progresso da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza desde a sua criação, em 2024, na 19ª cúpula do G20. Já em agenda posterior, no Fórum Mundial da Alimentação, Lula reforçou o seu posicionamento de mais cedo ao declarar que “a fome é irmã da guerra”.
“Conflitos armados, além do sofrimento humano e da destruição da infraestrutura, desorganizam cadeias de insumos e alimentos. Barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento”, afirmou. “Da tragédia em Gaza à paralisia da Organização Mundial do Comércio, a fome tornou-se sintonia do abandono das regras e das instituições multilaterais”, completou.
As declarações se dão no mesmo dia em que o Hamas e Israel operam a libertação de reféns, com base no que prevê a primeira fase do cessar-fogo acordado entre as partes na semana anterior. Todos os 20 prisioneiros israelenses vivos em Gaza foram devolvidos em troca de cerca de 2 mil palestinos detidos pelo regime sionista ao londo dos dois anos de genocídio.

Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva participa do Fórum Mundial de Alimentação em Roma, na Itália
Ricardo Stuckert/PR
Multilateralismo
Não basta o assistencialismo para combater a fome, de acordo com Lula. No Fórum, o mandatário voltou a destacar a necessidade de incluir “os pobres no orçamento e transformar esse objetivo em política de Estado, para evitar que avanços fiquem à mercê de crises ou marés políticas”.
Segundo ele, a fome está diretamente vinculada às políticas comerciais internacionais, uma vez que o mundo produz alimento suficiente para sustentar uma vez e meia a população global e, mesmo assim, 673 milhões de pessoas estão em condição de insegurança alimentar.
Lula também reforçou a importância do multilateralismo ao reconhecer os esforços da FAO em seus 80 anos de trabalho juntamente ao Programa Mundial de Alimentos e ao Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura.
Contudo, ao recordar que participou dos 70 anos da entidade, o petista lamentou que, em apenas uma década, “muito mudou”, e que o senso de coletividade visando um “futuro promissor” está “abalado”.
“Hoje, tanto nossa capacidade de agir coletivamente quanto o otimismo que nos animava estão abalados. Os desafios se aprofundaram, mas não temos alternativa senão persistir. Enquanto houver fome, a FAO permanecerá indispensável”, concluiu.
‘Excelentes relações’ com Trump
Em entrevista concedida ao jornal italiano Corriere della Sera, quando chegou a Roma, Lula avaliou suas relações com seu homólogo norte-americano Donald Trump como “excelentes”.
“Tive duas excelentes reuniões com o presidente Trump, primeiro em Nova York e depois, na semana passada, por telefone. Foram conversas muito amigáveis entre dois presidentes experientes de países que representam as maiores democracias do Ocidente”, afirmou, acrescentando que ambas as partes preparam um encontro de caráter presencial para negociações envolvendo as tarifas impostas por Washington.
“O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo e à negociação, mantendo uma posição muito clara: nossa democracia e soberania são inegociáveis”, reforçou.
Ao jornal, o petista também abordou a fome e a pobreza mundial, destacando que elas não são naturais, mas sim fruto de uma escolha política. O presidente brasileiro mencionou que os gastos militares em 2024 foram os maiores registrados desde o fim da Guerra Fria, chegando a US$ 2,7 trilhões. “Essa situação continua sendo uma vergonha para a humanidade”, acrescentou.
(*) Com Ansa























