Lula critica interferência de Trump e diz que ‘gringo’ não manda no povo brasileiro
À CNN norte-americana, presidente insistiu que magnata não foi eleito para ser ‘imperador do mundo’; Casa Branca rebateu: ‘é líder do mundo livre’
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender nesta quinta-feira (17/07) a soberania nacional e criticar o governo norte-americano de Donald Trump, com quem tem escalado tensões desde a semana passada, com o anúncio do tarifaço.
“Nós não aceitamos a ideia do presidente [dos EUA] mandar uma carta via e-mail dizendo que, se não libertar o Bolsonaro, vai taxar em 50%”, afirmou o mandatário. “Temos duzentos e um anos de relações diplomáticas com os Estados Unidos […] e temos um déficit comercial de serviços e de comércio de US$ 410 bilhões em 15 anos. Portanto, os Estados Unidos são muito superavitários com o Brasil.”
A declaração foi dada na plenária do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO), onde o presidente discursou durante meia hora diante de aproximadamente 10 mil alunos.
“Nós não aceitamos que ninguém, de nenhum país fora do Brasil, se meta nos nossos problemas internos. É a primeira vez na história desse país que temos três generais de quatro estrelas presos. E não estão presos à toa. Estão presos porque tentaram dar um golpe. E vão ser julgados, não porque o Lula quer. Vão ser julgados com base nos autos do processo”, destacou, em referência direta a Trump, que justificou a medida tarifária alegando proteção ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que pode ser condenado a 43 anos de prisão por tentativa de golpe, junto com outros sete réus.
“Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República. Eu sei a quem eu devo respeitar neste país. O nome dessa pessoa só tem quatro letras: chama-se povo brasileiro”, pontuou.

Presidente Lula no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia
PR/Ricardo Stuckert
Lula diz que Trump não é ‘imperador do mundo’
Nesta quinta-feira, a emissora norte-americana CNN publicou uma entrevista exclusiva concedida por Lula, durante a qual o presidente brasileiro declarou estar disposto a negociar o tarifaço imposto por Trump. O petista ainda ressaltou que o republicano não foi eleito “para ser o imperador do mundo”.
“A melhor coisa do mundo é sentarmos à mesa e conversarmos. Caso Trump estiver disposto a levar a sério as negociações em andamento, estarei aberto a negociar o que for necessário. No entanto, o importante é que a relação entre os países não pode continuar dessa forma”, disse, negando que suas origens ideológicas poderão afetar as conversas com os EUA.
Durante a conversa com a jornalista Christiane Amanpour, Lula também mencionou que não vê Trump como um presidente de extrema direita, mas como um chefe de Estado “eleito pelo povo americano”.
Na avaliação do petista, o magnata “não está interessado” em negociar as taxas, pois o magnata “acredita que pode fazer tudo o que acha que quer com as tarifas”. Contudo, recordou que o republicano “foi eleito para governar os Estados Unidos, não para ser imperador do mundo”.
“Eu ainda não vejo crise, mas acho que precisamos negociar. Posso garantir que o Brasil dará a resposta certa à carta do Trump na hora e no momento certo”, relatou.
Trump responde
Após a divulgação da entrevista, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que Trump “não está tentando ser o imperador do mundo”.
“O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre. E vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da liderança firme deste presidente”, respondeu ao ser questionada pelos jornalistas na Casa Branca a respeito da declaração de Lula.
Na coletiva, a porta-voz comentou sobre a investigação comercial iniciada pelos EUA contra o Brasil. De acordo com Leavitt, as regulações digitais do país sul-americano e a “fraca proteção à propriedade intelectual” prejudicam empresas norte-americanas de tecnologia e inovação.
“Além disso, a tolerância do país com o desmatamento ilegal e outras práticas ambientais coloca os produtores, fabricantes, agricultores e pecuaristas americanos — que seguem padrões ambientais melhores — em desvantagem competitiva”, disse, acrescentando que as medidas de Trump são conversam com os interesses do povo norte-americano.
(*) Com Ansa e Brasil de Fato























