Líder civil defende 'revolução' de Ibrahim Traoré em Burkina Faso
Kounharè Dabire detalha modelos de vigilância cidadã e de controle acionário de estatais pela cidadania
“Expressão direta de um despertar da consciência dos jovens em Burkina Faso”. Esta é a definição dada por Kounharè Dabire, jurista e secretário-geral da Coordenação Nacional das Associações de Vigilância Cidadã (CNAVC), sobre a liderança de Ibrahim Traoré no país africano.
A Opera Mundi, Dabire diz que Traoré emergiu em um “contexto particular” da história burquinense, com o país enfrentando uma dupla crise: a insegurança terrorista, que causa massivos deslocamentos populacionais, e a exploração descontrolada dos recursos naturais do país.
“Ele é um revolucionário que chegou no momento certo. Sua importância reside na coragem de liderar nossa luta contra o imperialismo e nos despertar para a importância da soberania sobre todas as formas”, afirmou o líder civil, descrevendo o movimento como uma “revolução dos jovens pan-africanos” perante o imperialismo.
Dabire descreveu as transformações em Burkina Faso como profundas e multifacetadas. No campo da segurança, destacou o “engajamento voluntário dos jovens” para combater o terrorismo. Na diplomacia, afirmou que o país adotou uma postura soberana, rompendo os laços com a antiga potência colonial, a França.
“Os recursos que eram governados pela França voltaram para Burkina Faso. Nacionalizamos todas as empresas colonizadoras e até mesmo o controle do espaço aéreo. A Air France não vem mais a Burkina enquanto não respeitar as condições exigidas pela população. Controlamos totalmente os nossos diferentes recursos”, declarou.
No eixo econômico, a grande inovação é o “acionariado popular”, um modelo em que os cidadãos contribuem financeiramente para a criação de empresas e se tornam co-proprietários. “O cidadão paga uma parte das ações e torna-se membro do conselho de administração. Isso evita o desvio de dinheiro, pois se você rouba, está roubando do povo que é dono, não de um fundo abstrato do governo”, explicou.
O objetivo, segundo ele, é desenvolver a industrialização do país através da contribuição direta dos cidadãos, eliminando a dependência de empréstimos externos que acarretam “controle da nossa sociedade”.

Presidente interino de Burkina Faso, Ibrahim Traoré
@CapitaineIb226/Instagram
Direitos humanos e defesa
Ao abordar a delicada questão dos direitos humanos, Dabire fez uma acusação direta: o imperialismo, que ele identifica como o financiador do terrorismo, é o principal agente das violações cometidas no continente africano e no mundo.
Ele argumenta que, quando as forças de defesa nacionais se protegem, são acusadas de violações, enquanto os terroristas, “de origens desconhecidas e armados por alguém que não sabemos”, matam mulheres, crianças e militares, além de perseguirem a população, privando-a de alimentos e abrigo.
“Gostaríamos que o mundo inteiro analisasse estas duas medidas e tirasse uma conclusão: quem está violando os direitos humanos? Aqueles que financiam o terrorismo. E quem está tendo seus direitos violados? Nós”, questionou, defendendo o direito à legítima defesa do país.
Sobre a Vigilância Cidadã e Acesso à Justiça (CNAVC), Dabire posicionou-a como uma peça fundamental na nova estrutura do Estado, atuando como o “braço civil” ao lado do sistema militar. Afirmou que a organização, da qual Traoré também faz parte, exerce um papel de vigilância na administração pública, privada e na mobilização social, sendo que o governo “não pode decidir hoje sem a sua consulta”.
Como jurista, Dabire enfatiza que o respeito pela legislação é absoluto para todos, incluindo militares e jornalistas, mesmo em um contexto de crise que exige “medidas de urgência” mais restritivas. Ele elogiou os esforços de Traoré para agilizar a justiça, combatendo longas prisões preventivas sem julgamento que “acabam com a vida das pessoas”.
“O capitão (Traoré) está lutando para que ninguém fique cinco, seis anos sem julgamento. A justiça desenvolve o seu papel e todos os cidadãos que cometeram crimes devem passar pelos juízes para se explicarem”, concluiu.























