Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

A Embaixada do Japão no Brasil enviou ao Palácio do Planalto, através do Itamaraty, uma carta pedindo a extradição do ambientalista canadense Paul Watson, uma das figuras mais destacadas da 30ª Conferência das Partes (COP30) sobre Mudança Climática, evento organizado com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e que acontece neste mês de novembro, na cidade de Belém do Pará.

Watson chegou ao Brasil dias atrás para participar do evento, razão pela qual o governo japonês solicitou sua prisão e extradição ao país, alegando que o ativista responde por supostos atentados cometidos contra embarcações que realizam pesquisas científicas.

O ativista possui renome internacional por participar da fundação de algumas das mais conhecidas organizações não governamentais ambientalistas, como o Greenpeace e o Sea Sheppard.

Entre as atividades promovidas por essas entidades, está a atuação contra barcos japoneses que caçam baleias no Oceano Pacífico. O governo do Japão afirma que a indústria baleeira deixou de funcionar no país a partir de 1986, no entanto, os ambientalistas contestam essa versão e afirmam que muitas embarcações continuam caçando baleias, aproveitando uma brecha na legislação que permite a caça com “interesses científicos”, e depois vendendo ilegalmente a carne dos animais capturados.

A entidade Sea Shepherd Brasil entrou na Justiça com um pedido de habeas corpus preventivo para garantir a liberdade de Watson enquanto ele estiver no país participando de eventos relacionados à COP30.

Em um comunicado difundido pela mesma entidade, o ativista disse que “o governo japonês está usando todo o seu poder para defender a caça ilegal às baleias e para me punir”.

“Tudo o que conseguirão é expor ainda mais sua natureza criminosa, sua ganância desmedida e seu compromisso imoral em destruir a diversidade da vida no oceano”, acrescentou Watson, ao comentar o caso.

A presidente da Sea Shepard Brasil, Nathalie Gil, pediu às autoridades brasileiras que “tenham em conta que proteger quem protege o planeta é um dever ético e jurídico”.

“Às vésperas de um dos eventos mais importantes no combate à crise climática e após todo o embate jurídico já finalizado, receber este novo pedido de extradição de um dos maiores defensores do meio ambiente no mundo é um grande desrespeito ao planeta, à humanidade e a todos os demais seres que vivem na Terra”, afirmou Gil.

Paul Watson é uma das figuras destacadas que participam da COP30, em Belém do Pará
Sea Shepard Brasil

Até o momento da publicação desta matéria, nem o Palácio do Planalto nem o Itamaraty se pronunciou oficialmente a respeito do pedido feito pelo Japão.

Histórico do caso

A cruzada internacional para tentar prender Paul Watson teve início em 2012, quando a Interpol acatou um pedido feito em conjunto pelos governos do Japão e da Costa Rica para que o nome do ativista fosse incluído em sua lista vermelha.

A lista vermelha da Interpol é um instrumento de cooperação internacional para localização de pessoas procuradas, e que normalmente é acionada para casos de pessoas condenadas ou investigadas por terrorismo, assassinatos em série, tráfico de pessoas e tráfico de drogas.

As entidades que defendem Watson reclamam que inclusão do seu nome na lista configura um uso indevido do sistema internacional para fins políticos.

Prisão na Groenlândia

Em julho de 2024, a lista foi utilizada e resultou na prisão de Watson enquanto participava de um evento na cidade de Nuuk, capital da Groenlândia.

O ambientalista passou cinco meses em uma penitenciária local, enquanto o Japão tramitou um pedido de extradição.

Em dezembro de 2024, porém, o governo da Dinamarca decidiu libertar Watson, justificando que não havia garantias de um processo justo contra o ambientalista – que viajou à França após deixar a prisão.

Em julho deste ano, a Interpol anunciou que removeu oficialmente o nome de Watson da sua lista vermelha, afirmando que o pedido se baseia em motivações políticas do governo de Japão e que há uma desproporcionalidade entre a acusação e a pena que o país asiático pretende impor ao ativista.