Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Embora a política externa adotada pelo governo sul-coreano de Lee Jae Myung (Partido Democrático da Coreia) contraste com a do ex-presidente deposto Yoon Suk Yeol (Partido do Poder Popular), tendo como premissa a expansão de sua autonomia dentro da aliança com os Estados Unidos para aliviar as tensões com a Coreia do Norte, “há pouco que o país possa fazer” para mudar o cenário. A avaliação é de Paik Woo Yeal, professor de Relações Internacionais e vice-diretor do Instituto de Estudos da Coreia do Norte da Universidade de Yonsei, em Seul.

A Opera Mundi, o especialista destacou serem “insuficientes” as recentes estratégias sul-coreanas que visam o apaziguamento com o vizinho, tais como o desmantelamento de aparelhos de transmissão de propaganda anti-Coreia do Norte na fronteira, como também a tentativa de recuperação do chamado “OPCOM”, o controle operacional sobre as forças armadas do país, atualmente assumido pelos EUA.

Pyongyang já deixou claro que rejeita qualquer tipo de aproximação com uma nação que esteja diretamente atrelada a Washington. Em julho, Kim Yo Jong, a irmã do líder Kim Jong Un e vice-diretora do Partido dos Trabalhadores, apontou que os esforços de Lee durante seus primeiros 50 dias de governo não afetaram o posicionamento norte-coreano com relação à Coreia do Sul devido à manutenção de sua “fé cega” na aliança com os EUA.

É por isso que o atual mandatário sul-coreano, apesar de querer mostrar que está tentando se distanciar de Washington, “vê o presidente norte-americano Trump como a única alternativa para resolver o impasse na Península Coreana”, de acordo com Paik. E esta posição foi reforçada na conversa bilateral no Salão Oval, em 25 de agosto.

Por outro lado, apesar da complexidade no assunto, o vice-diretor de Yonsei reconhece que os esforços podem eventualmente dar abertura a uma “mudança na dinâmica” na Península Coreana ao longo dos cinco anos do mandato de Lee, dado que sua gestão coincide com a do presidente norte-americano Donald Trump, caracterizado pela “imprevisibilidade em suas ações diplomáticas”.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe seu homólogo sul-coreano, Lee Jae Myung, para um encontro bilateral no Salão Oval, em 25 de agosto de 2025
The White House

Ameaça militar

No 80º aniversário do Dia da Vitória, celebrado em Pequim na última quarta-feira (03/09), o governo da China liderado por Xi Jinping convidou lideranças de dezenas de países não ocidentais, colocando em sua lista de prioridade os mandatários da Coreia do Norte, Kim Jong Un, e da Rússia, Vladimir Putin. As imagens históricas das três lideranças unidas, que reafirmaram continuidade da “amizade tradicional”, e dos equipamentos bélicos exibidos no desfile militar chamaram a atenção do mundo. 

“Os líderes da China, Rússia e Coreia do Norte permaneceram lado a lado na Praça da Paz Celestial para ver o desfile. O presidente dos Estados Unidos, Trump, expressou pouca preocupação com a cooperação militar trilateral, não a vendo como uma ameaça significativa à sua agenda diplomática. Mas na minha opinião, o presidente Trump pode estar muito errado”, afirmou Paik. 

Particularmente em relação ao desenvolvimento nuclear norte-coreano, o professor classificou este como sendo “a maior ameaça” à segurança da Coreia do Sul, dos EUA e do Japão. Se por um lado o ex-presidente sul-coreano Yoon reforçou a aliança trilateral entre Seul, Washington e Tóquio, dando ênfase ao combate contra as supostas “ameaças antiestatais” de Pyongyang, o atual mandatário tenta reconfigurar o xadrez geopolítico.

“A aliança Coreia do Sul-EUA está mudando um pouco de seu papel de dissuasão à ameaça militar norte-coreana (em prol da paz na Península Coreana) para um papel (mais notável) na região do Indo-Pacífico, especificamente, na China”, explicou.