Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A megaoperação da polícia do Rio de Janeiro, que deixou mais de 130 mortos na capital fluminense, repercutiu amplamente no noticiário internacional. O jornal espanhol El País escreveu que a cidade brasileira foi “refém” do fogo cruzado entre criminosos e policiais, amanhecendo nesta quarta-feira (29/10) de forma atípica, com as ruas esvaziadas e sem engarrafamentos. Em seu texto, comparou o governador estadual Cláudio Castro ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem mobilizado suas forças armadas no Mar do Caribe alegando, sem provas, tratar-se de um mecanismo de combate contra o tráfico de drogas na região.

Segundo El País, Castro “abraçou a tese de que os traficantes de drogas são terroristas que são confrontados, como Donald Trump, com ataques extrajudiciais”. Acrescenta ainda que o governador se referiu aos criminosos como “narcoterroristas”, um  termo que “também foi usado pelo senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro”.

“Flávio Bolsonaro sugeriu na semana passada aos Estados Unidos que atacassem os barcos que, segundo ele sem provas, estão navegando carregados de drogas na Baía de Guanabara, em frente ao Rio”, recordou o jornal.

Na mesma linha, o jornal norte-americano The New York Times, disse que a declaração em que Castro mencionou o combate contra “narcoterroristas” ecoou um termo que se tornou “central para a campanha em andamento do presidente Trump” contra o alegado contrabando de drogas na América Latina.

“No Brasil, isso foi visto por alguns como uma tentativa de Castro, um aliado de extrema direita do ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de marcar pontos políticos sobre a questão do crime organizado, um importante ponto de discussão conservador”, afirmou o veículo.

Por sua vez, o jornal britânico The Guardian enfatizou que se tratou do dia “mais mortal da história do Rio”, com intensos tiroteios dentro e ao redor das favelas do Alemão e da Penha, que abrigam cerca de 300 mil pessoas. Destacou também o repúdio manifestado por ativistas de direitos humanos e políticos da oposição.

“Nas últimas quatro décadas, as favelas de tijolos vermelhos do Rio caíram ainda mais sob o controle de grupos criminosos fortemente armados, principalmente o Comando Vermelho, o Terceiro Comando Puro e uma constelação de gangues paramilitares cujas fileiras geralmente incluem membros das forças de segurança fora de serviço”, disse.

O português Público deu ênfase à letalidade do crime, “superando o chamado massacre de Carandiru, em Outubro de 1992, quando tropas da Polícia Militar paulista mataram 111 presos na extinta Casa de Detenção, segundo a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno”.

Centenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas na Penha depois da megaoperação da policia do Rio de Janeiro
Tomaz Silva/Agência Brasil

Nesta manhã, moradores dos conjuntos de favelas do Alemão e da Penha recuperaram mais corpos como resultado do massacre, o que levou ao aumento no número de vítimas. Segundo o jornal argentino Clarín, os cidadãos, “sem a ajuda das autoridades”, colocaram os corpos enfileirados na Praça São Lucas, no bairro da Penha. O periódico também destacou que a operação foi televisionada, e que retratou o “choque” do cenário.

O jornal francês Le Monde destacou que as incursões das forças de segurança no Rio de Janeiro, “apesar de sua eficácia contestada, são frequentes no Rio nas favelas” e que a recente operação, por “sua escala e seu custo humano, causou um choque”. O veículo ainda citou que a informação do ministro da Justiça brasileiro, Ricardo Lewandowski, que disse inicialmente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia ficado “espantado com o número de mortes e ficou surpreso com o fato de que uma operação dessa magnitude foi montada sem o conhecimento do governo federal”.

A emissora catari Al Jazeera também frisou que batidas policiais contra organizações criminosas “não são incomuns nas favelas do Brasil, e muitas se tornam mortais”. Relembrou que em 2024, aproximadamente 700 pessoas morreram durante operações policiais no Rio, “uma taxa de quase duas por dia”.

“Grupos de direitos humanos questionaram o momento de tais operações policiais em grande escala no Brasil, que não são incomuns antes de grandes eventos internacionais”, afirmou o veículo, acrescentando que na próxima semana, a capital fluminense sediará a Cúpula Mundial de Prefeitos C40 e o Earthshot Prize do Príncipe William, concedido por realizações ambientais. Já em novembro, o Brasil receberá líderes mundiais para a cúpula climática das Nações Unidas, COP30, na cidade de Belém, no Pará.