7 de Setembro: imprensa internacional destaca manifestações no Brasil
NYT aponta adesão bolsonarista aos EUA, El País foca na polarização interna às vésperas de julgamento, TeleSur traz afirmação da soberania nas ruas
A imprensa internacional destacou as manifestações que aconteceram neste domingo (07/09), Dia da Independência, no Brasil. A pressão bolsonarista, em torno da anistia para Jair Bolsonaro e os demais acusados de conspirarem um golpe de Estado no pais, ganhou repercussão em meio ao julgamento no Supremo Tribunal Federal, que acontece nesta semana.
Também foram destaques os atos organizados por setores progressistas e a fala do presidente Lula, que divulgou um vídeo no sábado (06/09) e participou do tradicional desfile militar de 7 de Setembro, em Brasília.
The New York Times destacou que as manifestações foram “em grande parte pacíficas” e ocorreram em cidades por todo o país. Os militantes da direita, destaca a reportagem, “envoltos em bandeiras brasileiras e americanas protestaram contra o processo criminal contra Bolsonaro”; enquanto, à esquerda, “as pessoas pediram a prisão de Bolsonaro e denunciaram os esforços do presidente Trump para proteger o ex-líder”.
Segundo o jornal estadunidense, “as imagens aéreas de vários protestos deixaram poucas dúvidas de que os apoiadores de Bolsonaro superavam significativamente em número os manifestantes da esquerda, mostrando que — mesmo em meio a seus problemas legais — ele continua sendo uma força política significativa no Brasil”.
O texto destaca que os protestos de domingo se concentraram em grande parte na questão da anistia e aponta que o “diferente este ano, foi a abundância de elogios aos Estados Unidos”, citando que, em São Paulo, “manifestantes passaram uma enorme bandeira americana sobre suas cabeças”.
A reportagem traz trechos da fala do presidente Lula na noite de sábado (06/09), em vídeo que antecedeu o tradicional desfile militar comemorativo da data. “Não somos, e nunca mais seremos, colônia de ninguém”, afirmou o presidente, ao garantir que o “não aceitará “ordens de ninguém”, disse Lula.

7 de Setembro
Paulo Pinto / Agência Brasil
‘Dois Brasis”
Sob o título “Os dois Brasis se enfrentam nas ruas na véspera do veredito de Bolsonaro”, o jornal espanhol El País apontou que “o Brasil institucional, liderado pelo presidente Luiz Inácio da Silva, e o bolsonarismo — sem seu líder, Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar — foram às ruas neste domingo”, em manifestações separadas.
“A esquerda reuniu cerca de 8 mil pessoas em São Paulo, enquanto o bolsonarismo reuniu cerca de 42 mil pessoas na maior de suas passeatas na mesma cidade, segundo o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento”, destacou o jornal.
“Os bolsonaristas estão dando a condenação como certa e pensando no dia seguinte, como evidenciado pelo fato de que a anistia, que já está sendo debatida pelos parlamentares, tem sido o principal slogan da mobilização bolsonarista”, afirma o texto. A reportagem também traz as palavras de Lula no desfile oficial de 7 de setembro, destacando que não houve presença de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o desfile.
O jornal britânico The Guardian, sob o “Ele é nosso último recurso’: apoiadores de Bolsonaro suplicam para que Trump intervenha no julgamento do ex-presidente por golpe”, destaca que enquanto Lula prometia que o país não aceitará ordens de ninguém, seguidores de Bolsonaro pediam “que Donald Trump endurecesse contra o governo”.
“Se condenado esta semana, [Bolsonaro] pode pegar uma pena de até 43 anos”, lembra o jornal britânico ao afirmar que “a alegria da esquerda com a condenação antecipada de um político que, segundo promotores, tentou levar o Brasil de volta a um regime autoritário foi esfriada pela raiva com a intervenção de Trump e pelos temores de que o Congresso do país, dominado pelos conservadores, possa eventualmente aprovar uma anistia para Bolsonaro“.
Julgamento
Já o francês Le Monde, sob o título “No Brasil, apoiadores de Jair Bolsonaro se manifestam na véspera do veredito contra o ex-presidente de extrema direita”, questiona: “última resistência ou contra-ataque?”. A reportagem aponta que milhares de apoiadores da extrema direita voltaram às ruas para defender Bolsonaro, “processado por tentativa de golpe de Estado” e traz vários dizeres dos cartazes levantados em prol da anistia.
“Na Avenida Paulista, em São Paulo, uma enorme faixa com a bandeira americana foi desfraldada pela multidão, uma forma de implorar ajuda ao presidente americano Donald Trump, que impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros para defender seu protegido”, comenta o texto.
Le Monde lembra que “como sempre, o principal alvo dos manifestantes foi o juiz Alexandre de Moraes, responsável por processar a extrema direita”, destacando que Flávio Bolsonaro, senador e filho do ex-presidente, “comparou a provável condenação do pai a ‘uma segunda facada’: uma referência ao atentado sofrido por este em 2018”.
O argentino La Nación, sob o título “Manifestações bolsonaristas desafiam Lula antes do julgamento por suposto Golpe de Estado”, destaca que “o Brasil viveu neste domingo um dia marcado pela polarização política”.
A reportagem diz que “enquanto milhares de apoiadores do ex-presidente exigiam uma anistia legislativa que o beneficiaria caso fosse condenado por uma tentativa de golpe, Lula apelou ao slogan “Brasil Soberano” para reafirmar a autonomia do país diante da pressão externa e alertou para os riscos de perdoar os responsáveis pelo ataque às instituições em janeiro de 2023”.
O texto também aponta que o desfile em Brasília “foi marcado por forte conteúdo político e tensão em torno do futuro dos condenados pelo atentado às instituições ocorrido em 8 de janeiro de 2023” e detalha que, “sem citar nomes, Lula atacou setores internos, chamando-os de “traidores da pátria “, referindo-se aos políticos brasileiros que, segundo ele, incentivaram ataques às instituições democráticas”.
Brasília
A venezuelana TeleSur traz imagens das marchas dos movimentos progressistas que ocorreram em todo o país contra a anistia a Bolsonaro e à interferência dos EUA. A reportagem conversou com Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP).
“Fomos às ruas lutar pela soberania nacional porque não aceitamos interferência de outros países no Brasil. Quem governa o Brasil são os brasileiros”, declarou Bonfim. Ele também destacou que, além de questões de soberania e democracia, a manifestação abordou as bandeiras pela “redução da jornada de trabalho, com o fim da jornada de 6×1, e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês”.
TeleSur também destacou as comemorações oficiais em Brasília. “Mais de 45.000 pessoas compareceram ao desfile para protestar contra a intrusão da Casa Branca e a tentativa da direita de conceder anistia aos golpistas no Brasil. Tratou-se de uma cerimônia com participação popular, colorida e massiva”, afirma.
A agência explica que o local do desfile é o mesmo “onde, em janeiro de 2023, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) vandalizaram a sede dos Três Poderes e tentaram um golpe de Estado para impedir a posse de Lula, que havia derrotado seu oponente nas urnas meses antes”.
“Duas mensagens de exaltação patriótica lideraram o evento: ‘Brasil Soberano’ e ‘Brasil dos Brasileiros’ , que respondem à agressividade de Trump e às manobras da direita , com a cumplicidade da Casa Branca, para anistiar Bolsonaro — aliado de Washington — e outros supostos golpistas”, afirma a reportagem.























