Sábado, 6 de dezembro de 2025
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“A Espanha sempre foi muito aberta à chegada de estrangeiros. Porém, com as notícias falsas que circulam hoje em dia e que acabam aumentando o ódio e a violência contra os imigrantes, essa percepção positiva poderia se radicalizar no futuro”, avaliou a socióloga Leticia Florez-Estrada Chassonnaud a Opera Mundi.

Na Espanha, o assunto imigração está na agenda do dia dos principais partidos políticos do país e diariamente seus líderes trocam acusações. As discussões, marcadas por discursos polarizados, evidenciam o peso do tema na disputa eleitoral e nas decisões de políticas públicas.

Atualmente no país ibérico, 18% da população é estrangeira e a maioria desses imigrantes são do Marrocos, Colômbia e Venezuela. Segundo uma enquete divulgada em junho pelo Centro de Investigações Sociológicas (CIS), a imigração figura entre as três maiores preocupações dos espanhóis, atrás apenas da crise habitacional e da corrupção.

No ano passado, 44% dos crimes de ódio na Espanha estiveram relacionados com racismo e xenofobia, de acordo com um estudo recente divulgado pelo Ministério do Interior do país. Em segundo lugar ficaram os delitos contra a orientação sexual e identidade de gênero.

O tema voltou à tona na Espanha após grupos de extrema direita se reuniram para “caçar” pessoas de origem marroquina em uma pequena cidade da região de Murcia, Torre Pacheco. Durante diversos dias o policiamento no local foi ostensivo, 14 pessoas foram detidas.

Em Torre Pacheco, um de cada três moradores é estrangeiro e a grande maioria imigrou do Marrocos para trabalhar na lavoura espanhola.

“Esses estrangeiros trabalham no campo, essa região é conhecida como a lavoura da Europa. Eles estão ali porque os espanhóis não querem fazer esse trabalho. Precisam deles, mas ao mesmo tempo algumas pessoas não entendem que muitos vêm para ficar e criar raízes aqui”, explicou a socióloga.

Tendência global

Após os recentes episódios de xenofobia, a direita radical, que na Espanha é representada pelo partido Vox, cresceu na intenção de votos. Se hoje houvesse eleições no país, a sigla seria a terceira mais votada, com cerca de 19% da preferência eleitoral. Enquanto os partidos tradicionais, como Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Partido Popular (PP), ficariam na liderança praticamente empatados.

18% da população na Espanha é estrangeira
PxHere

“O Vox é abertamente racista e faz discursos criminalizando estrangeiros e ameaçando deportá-los. O PP, de direita, quer ficar no meio porque aparentemente não deseja estar do lado do partido governista (PSOE), mas também não quer apoiar o Vox diretamente”, disse.

Para Chassonnaud, de certa maneira, a Europa também está seguindo o movimento de anti-imigração que está acontecendo mais visivelmente em países como Portugal, Itália ou Reino Unido e com mais força nos Estados Unidos. “Essa é uma tendência global: a de culpar imigrantes chamando-os de criminosos, fomentando esse ódio para que as pessoas acabem votando nesses partidos. Essa é uma estratégia típica da extrema direita”.

Imigração e partidos políticos

O partido governista do primeiro-ministro Pedro Sánchez defende a imigração abertamente. Para o PSOE, a imigração é uma oportunidade para “rejuvenescer” a população e suprir as necessidades de mão de obra em setores chave da economia do país, como a agricultura e a hotelaria.

Enquanto o PP está a favor de uma imigração controlada e que esteja diretamente ligada ao mercado de trabalho, defendem que é preciso aumentar os controles nas fronteiras e que exista uma coordenação europeia para controlar os fluxos migratórios.

Já o grupo de extrema direita Vox bate de frente com os outros partidos. Em seu discurso, eles associam a imigração ao crime, constantemente pedem leis mais duras e que imigrantes em situação de irregularidade que cometam crimes na Espanha sejam expulsados imediatamente.

A especialista em imigração lamenta essa postura exacerbada do partido de extrema direita. “O crescimento do discurso de ódio está se normalizando e isso obviamente leva a um aumento do racismo nas ruas e nas redes sociais. Tudo isso acaba gerando medo, ódio e violência social”, afirmou.