Hoje na História: Domingo Sangrento deixa mais de mil mortos em São Petersburgo
Hoje na História: Domingo Sangrento deixa mais de mil mortos em São Petersburgo
No domingo, 9 de janeiro de 1905, segundo o calendário juliano então vigente*, é organizada uma manifestação pacífica liderada pelo padre ortodoxo Gregório Gapone, com destino ao Palácio de Inverno do czar Nicolau II, em São Petersburgo, com o objetivo de entregar uma petição assinada por cerca de 135 mil trabalhadores, reivindicando direitos básicos do povo.
Milhares de operários, súditos fiéis do czar, conduzidos pelo padre Gapone, encaminharam-se de todos os pontos da cidade para o centro da capital, em direção ao palácio, para entregar uma petição ao monarca. Os operários caminhavam com ícones, e Gapone tinha escrito ao czar dando garantia da sua segurança pessoal e pedindo que se apresentasse diante do povo.
O grão-duque Sérgio Aleksandrovitch ordena à guarda cossaca do czar que não permita que povo se aproxime e, nesse caso, que disperse a manifestação. Ajoelhados, os trabalhadores suplicam que permitam aproximarem-se do palácio. A massa não recua e a tropa é alertada. Os cossacos disparam contra a multidão, matando mais de mil manifestantes desarmados.
A indignação que se seguiu foi indescritível. Uma greve geral logo se estende a toda a Rússia. A repressão sangrenta marcou o início da primeira revolução russa. Mais tarde, Lenin afirmaria que o Domingo Sangrento de 1905 constituiu o “ensaio geral” da revolução de outubro de 1917.
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Pintura de Ivan Vladimiriv retrata o massacre do Domingo Sangrento
A greve de massa que se seguiu foi o agente mais poderoso da revolução de 1905. O número total de grevistas foi de 2,8 milhões – ou seja, o dobro do número total dos operários industriais. A originalidade dessa revolução está no fato de ter sido democrático-burguesa pelo conteúdo social, mas proletária pelos meios de luta. Foi uma revolução democrático-burguesa porque o fim a que aspirava e que podia alcançar imediatamente, pelas próprias forças, eram a república democrática, a jornada de oito horas, o confisco das imensas propriedades fundiárias da alta nobreza, medidas realizadas quase inteiramente pela revolução na França em 1792 e 1793.
A petição que os operários queriam entregar ao czar começava assim: “Nós, operários, habitantes de São Petersburgo, dirigimo-nos a Vós. Somos escravos miseráveis, humilhados; somos subjugados pelo despotismo e pelo arbítrio. Com a paciência esgotada, cessamos o trabalho e pedimos aos nossos patrões que nos dessem pelo menos aquilo sem o qual a vida não passa de uma tortura. Mas isso nos foi recusado; dizem os industriais que não está conforme com a lei. Somos milhares e, tal como todo o povo russo, estamos privados de todos os direitos humanos. Os Vossos funcionários reduziram-nos à escravatura.”
E a petição enumerava as seguintes reivindicações: anistia, liberdades cívicas, salário normal, entrega progressiva da terra ao povo, convocação de uma assembleia constituinte eleita por sufrágio universal. O texto terminava com essas palavras: “Senhor! Não recuses ajudar o Vosso povo! Derrubai a muralha que Vos separa do Vosso povo! Ordenai que seja dada satisfação aos nossos pedidos, ordenai-o publicamente e tornareis a Rússia feliz; senão, estamos prontos a morrer aqui mesmo. Só temos dois caminhos: a liberdade e a felicidade ou o túmulo.”
O curioso é que o czar era muito popular. O povo, mesmo quando se rebelava, colocava a culpa dos problemas do país nos nobres, nos ministros, nos funcionários públicos, nos latifundiários ou, com muita frequência (nisso apoiados pela propaganda oficial), nos judeus. Segundo palavras do próprio Lenin, em 1917, “o ódio do czarismo voltou-se sobretudo contra os judeus”.
Contudo, a revolução russa foi simultaneamente uma revolução proletária, não só porque o proletariado era então a força dirigente, a vanguarda do movimento, mas também porque o instrumento de luta específico do proletariado, a greve, constituiu a alavanca principal para pôr em movimento as massas e levá-las a acontecimentos decisivos.
*Excepcionalmente, a seção usou como base hoje uma data do calendário juliano, por se tratar de fato histórico ocorrido na Rússia. No calendário gregoriano, seria equivalente a 22 de janeiro.
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