Haddad diz que reunião com EUA sobre tarifaço foi cancelada por manobra da extrema direita
Para ministro da Fazenda, suspensão do encontro teve influência da 'militância antidiplomática' e de assessores de Trump, o que evidencia motivações políticas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou nesta segunda-feira (11/08) que a reunião prevista com o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, para tratar do tarifaço, foi cancelada. O encontro seria feito, em um primeiro momento, remotamente, por videoconferência, nesta quarta-feira (13/08).
Em entrevista concedida à GloboNews, o ministro brasileiro mencionou uma “militância antidiplomática” dos EUA como pano de fundo do cancelamento, associando motivações políticas, e não econômicas, ao recuo norte-americano.
“A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada”, disse Haddad.
Um dia após o presidente Donald Trump assinar o decreto que formaliza a tarifa de 50% contra uma lista de produtos importados do Brasil, o ministro havia revelado que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi procurado pela assessoria do Tesouro norte-americano. A postura de Washington foi interpretada como “favorável” por Brasília, uma vez que Lula tenta construir pontes com a gestão republicana para debater alternativas para a medida tarifária.
Em entrevista, Haddad revelou ter tido conhecimento do cancelamento via e-mail “um ou dois dias depois” que Bessent confirmou o encontro à imprensa. Depois de desmarcada sob argumento de “falta de agenda”, a reunião não foi remarcada até o momento, segundo o ministro, que classificou a situação como “bem inusitada”.
“Agiram junto a alguns assessores do presidente Trump”, afirmou. “O que fica claro para nós é que a questão comercial não está em foco”.
As tensões entre o Brasil e os EUA se intensificaram durante a cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, em julho. Uma das pautas sustentadas pelo grupo de países que defendem os interesses do chamado Sul Global consiste na “desdolarização”, ou seja, na adoção da moeda local para transações financeiras – o que é criticado pela gestão Trump.
Na avaliação de Haddad, o Brasil, que sediou a cúpula e tem desafiado as manobras políticas dos EUA, que incluem interferência na soberania nacional com ataques ao Judiciário, está tendo um tratamento diferenciado em relação a outros países e blocos econômicos que acabaram por negociar com a Casa Branca, como a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad diz que reunião com secretário de Tesouro dos Estados Unidos foi cancelada por motivações políticas da Casa Branca
Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Brasil prepara MP contra sobretaxas
À GloboNews, Haddad detalhou que a Medida Provisória (MP) que Brasília tem estudado para responder à tarifa norte-americana prevê três linhas de atuação: financiamento, incentivos tributários e ajustes nas regras de compras governamentais.
A MP se empenha em fortalecer os instrumentos de apoio às exportações, com foco especial em empresas afetadas pela sobretaxa. De acordo com o ministro, as reformas estruturais em pauta devem ampliar o alcance desses mecanismos, ajudando os negócios brasileiros a buscar novos mercados internacionais.
“Incluímos na MP duas mudanças muito importantes que envolvem o FGE (Fundo de Garantia à Exportação). Estamos fazendo uma reforma estrutural do FGE, com suporte dos demais fundos, para garantir que toda empresa brasileira, não só as grandes, que tiver vocação de exportação, terá instrumentos modernos para fomentar a exportação para o mundo inteiro. Muitas das exportações brasileiras que iam para os EUA vão ter que procurar outros mercados”, explicou.
A MP também incluirá ajustes no chamado draw-back, um regime de benefícios fiscais para importação de insumos destinados à exportação. A proposta será apresentada ainda nesta terça-feira (12/08) após reunião no Planalto com o presidente Lula, o vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e a equipe econômica.























