Petro pede que mundo e povo colombiano se mobilizem em defesa da democracia do país
Presidente da Colômbia contestou constitucionalidade do processo referente ao financiamento de sua campanha em 2022
Em discurso na noite de terça-feira (08/10), o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, realizou um apelo ao mundo para que defenda a democracia de seu país. O mandatário classificou como “início do golpe de Estado” o anúncio feito pelo Conselho Nacional Eleitoral da Colômbia (CNE) no mesmo dia, referente à abertura de um processo para investigar possíveis irregularidades no financiamento da campanha da coalizão governista Pacto Histórico nas eleições presidenciais de 2022.
“A decisão de hoje é um golpe contra os 11 milhões de pessoas que votaram neste governo progressista”, disse ele, convocando uma “ampla mobilização do povo colombiano” a favor da democracia, e ordenando as forças policiais a não levantarem “uma única arma” contra a população.
“O que eles vão fazer é um golpe de Estado, não com militares e canhões. Ordenei às forças públicas que não levantassem uma única arma contra o povo. E vai haver mobilização do povo, porque esse povo se cansou de ter que chorar sem justiça”, enfatizou.
De acordo com Petro, o CNE viola a Constituição ao apresentar falsas acusações contra ele. O presidente explicou que “as supostas contribuições do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petrolífera (USO) e da Federação Colombiana de Trabalhadores da Educação (Fecode) não foram para minha campanha, mas para o Partido Colômbia Humana, da mesma forma que fizeram para o Partido do Centro Democrático na campanha de Iván Duque em 2018; e o CNE absolvido em 28 de outubro de 2021”.
“Os supostos pagamentos a testemunhas eleitorais não correspondem a despesas de campanha. O primeiro turno foi até a abertura das urnas em 29 de maio de 2022 e o segundo turno até a abertura de 19 de junho de 2022. A contagem dos votos é feita posteriormente”, acrescentou.
Em seu discurso, explicou que todas as despesas da campanha para propaganda eleitoral foram realizadas de acordo com seus respectivos regulamentos e que, inclusive, tudo isso foi atestado pela auditoria externa contratada pelo próprio CNE, “que certificou a veracidade de todos os relatos que apresentamos 30 dias após a campanha”.
“Enquanto isso, os magistrados confundem as autorizações de voo que não foram necessariamente usadas pela campanha com os voos realizados. Todas as faturas apresentadas à Direção Nacional de Impostos e Alfândegas (DIAN) correspondem aos serviços da empresa de transporte SADI; mas eles não os reconheceram”, disse.
Referente à comemoração do triunfo eleitoral realizado em 19 de junho, na Movistar Arena, o mandatário apontou que o evento não mais contemplava o período de campanha, e que as despesas reservadas para a ocasião foram gastas conforme estabelecido por lei.
Petro apontou que todas as acusações do CNE são infundadas, e acrescentou que está enfrentando uma autoridade administrativa em função da oposição, que busca “a todo custo” questionar sua integridade.
O presidente ainda anunciou um pedido à Comissão de Investigação e Acusação da Câmara para tornar públicas as mais de 25 provas testemunhais, 34 documentários e três inspeções judiciais que foram realizadas.
“É através de provas que reivindico e denuncio o procedimento ilegal e inconstitucional do CNE”, afirmou.

Presidencia de Colombia
Presidente da Colômbia, Gustavo Petro discursa em Bogotá após acusações apresentadas pelo Conselho Nacional Eleitoral do país
Bastidores do processo
A Sala Plena do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Colômbia abriu na terça-feira uma investigação contra Gustavo Petro por supostamente ter extrapolado o limite de financiamento de sua campanha presidencial, em 2022. No processo foram incluídos o gerente de campanha e atual presidente da Ecopetrol, Ricardo Roa; a tesoureira, Lucy Aydée Mogollón; os auditores María Lucy Soto e Juan Carlos Lemus; e os partidos Colômbia Humana e Unión Patriótica (UP).
Todos os indiciados foram acusados por extrapolar o limite de gastos em mais de 5,3 bilhões de pesos (aproximadamente R$ 7 milhões). O órgão afirma também que a Federação Colombiana de Educadores (Fecode) fez doações para a campanha, o que é proibido pela lei eleitoral do país.
A investigação nasceu de um parecer assinado por dois juízes do órgão eleitoral que militam em partidos de direita. Um deles é Benjamín Ortíz Torres, membro do Partido Liberal, legenda de centro-direita que apoiou Federico Gutiérrez, candidato que foi terceiro colocado nas eleições de 2022.
O outro juiz vinculado ao processo é Álvaro Hernán Prada, ex-militar e membro do partido de extrema direita Centro Democrático, dos ex-presidentes Álvaro Uribe (2002-2010) e Iván Duque (2018-2022) – este último antecessor de Petro.
A participação de Álvaro Hernán Prada como juiz eleitoral no processo contra Petro é o principal foco de controvérsia do caso, já que o mesmo está sendo investigado pela Suprema Corte de Justiça da Colômbia por manipulação de testemunhas e fraude processual, crimes que ele supostamente teria cometido para beneficiar o ex-presidente Uribe em um caso que o político de extrema direita responde por corrupção.
Prada está envolvido no processo de Uribe desde 2019, mas passou a ter foro privilegiado a partir de 2021, após ser nomeado como membro do CNE pelo ex-presidente Duque. Os três formam parte do mesmo partido de extrema direita, o Centro Democrático.
(*) Com Telesur.























