Guerra no Sudão: paramilitares atacam área próxima ao aeroporto de Cartum

A capital sudanesa, Cartum, foi alvo de ataques com drones e mísseis pelo quarto dia consecutivo, lançados pelas Forças de Apoio Rápido (RSF), paramilitares em guerra contra o governo. De acordo com a emissora catari Al Jazeera, moradores locais relataram bombardeios nas primeiras horas desta sexta-feira (24/10) no Aeroporto Internacional de Cartum.

A operação do aeroporto foi suspensa devido à intensificação dos ataques, conforme relatou um funcionário anónimo à agência France-Presse (AFP). As autoridades, que haviam programado o reinício das operações para 26 de outubro, veem agora a possibilidade do plano ser adiado indefinidamente perante a insegurança.

“Apesar das autoridades dizerem que as operações estão programadas para começar em 26 de outubro, há preocupações de que isso não aconteça”, relatou Hiba Morgan, da Al Jazeera, direto de Cartum

A guerra, que eclodiu em abril de 2023 entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF), leais ao governo, e as RSF, já ceifou dezenas de milhares de vidas. O conflito deslocou cerca de 12 milhões de pessoas e deixou aproximadamente 30 milhões – mais de metade da população do país – dependentes de assistência humanitária, configurando a maior crise humanitária do mundo atual.

Enquanto Cartum é palco de conflito, os residentes que começaram a regressar provisoriamente à capital, com a retomada das forças militares em março,  deparam-se com um cenário de devastação, segundo depoimentos colhidos pela Al Jazeera.

Ao veículo, Alfatih Bashir, residente de Omdurman, cidade-irmã de Cartum, relatou tetos desabados e paredes danificadas. “Eu a construí quando estava trabalhando no exterior”, disse, acrescentando que agora ele não possui os fundos necessários para reparar os danos. “Não estou trabalhando, estou apenas sentado à toa com minha esposa e dois filhos. Às vezes, mal temos o suficiente para comer. Como posso começar a reconstruir?”

Aeroporto de Cartum tem reabertura indefinida em meio à intensificação de ataques de grupo paramilitar
Khartoum International Airport

As autoridades ainda estão avaliando quantas casas foram danificadas no conflito, Outra moradora, Afaf Khamed, disse que desmaiou quando viu a extensão dos danos.

“Esta casa é onde nascemos, onde todos os membros da nossa família se casaram. Agora moro aqui com minha irmã e não podemos reconstruir porque não temos ninguém para nos ajudar”, disse.

A economia sudanesa está em colapso, com a libra sudonesa a desvalorizar-se drasticamente. A moeda passou de 600 libras por dólar americano no início do conflito, em abril de 2023, para cerca de 3.500 libras atualmente.

Mohammed Ali, dono de uma loja de materiais de construção, explicou à Al Jazeera que a logística se tornou um obstáculo. “Os materiais demoram muito a chegar por causa das verificações de segurança, e isso torna-os mais caros”, afirmou. Como consequência, “cada vez menos pessoas vêm comprar materiais de construção”, refletindo o desespero da população.

O governo sudanês prometeu reconstruir a capital, mas os seus esforços têm-se concentrado, até agora, na recuperação de instituições estatais.