Guerra comercial de Trump gera oposição dentro e fora dos EUA; tarifas são anunciadas hoje
Segundo a Casa Branca, medidas tarifárias sobre produtos, e que afetam países, incluindo o Brasil, entrarão em vigor de forma imediata
É esperado que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncie nesta quarta-feira (02/04) o seu pacote de medidas econômicas com novas tarifas que passarão a ser cobradas sobre as importações de todos os parceiros comerciais do país.
Publicizado, na retórica imperialista, como “O Dia da Libertação” e “uma das datas mais marcantes da história moderna”, a guerra comercial norte-americana vem promovendo apreensão de líderes mundiais e de representantes econômicos dentro e fora do país.
Até o momento, não há um consenso de como será o pacote previsto para ser anunciado nesta tarde. As tarifas apresentadas serão adicionais às já implementadas pela administração Trump, como as taxas adicionais de 20% sobre todas as importações chinesas, de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, de 10% sobre as importações de energia do Canadá e a tarifa, que entra em vigor nesta quinta-feira (03/04), de 25% sobre todos os veículos (e eventualmente autopeças) importados.
A implementação dessas tarifas tem sido aleatória, com múltiplos recuos, atrasos e promessas vagas, e vem promovendo uma generalizada reação contrária pelos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, além de abalar o mercado de ações globais. Às vésperas da divulgação das novas cobranças, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que as medidas entrarão em vigor “imediatamente” após o anúncio.
Ela frisou que o governo passou a terça-feira (01/04) “aperfeiçoando” o plano comercial para “garantir que ele seja um acordo perfeito para o povo e trabalhador norte-americanos”.
‘O mundo tem roubado os EUA’
Em suas declarações à imprensa, Trump bate na tecla de que está promovendo “justiça”, já, para o republicano, nos últimos 40 anos “o mundo tem roubado a América”.
Anunciado logo após a sua posse, em 20 de janeiro, o tarifaço é apresentado internamente como um instrumento para restaurar a “justiça no comércio global” e trazer a indústria de volta ao país, aumentar a receita tributária e incentivar a repressão à migração e ao tráfico de drogas.
Os funcionários da gestão Trump insistem que as empresas estrangeiras pagarão o custo das tarifas pelo privilégio de vender no mercado norte-americano, mas tanto os economistas como os executivos da indústria dizem que os importadores provavelmente passarão parte do custo das tarifas para os consumidores.
O receio de que o tarifaço aumente os preços para os consumidores e empresas internas e provoque retaliações capazes de prejudicar os agricultores e outros exportadores do país fez a confiança do consumidor despencar nos Estados Unidos.
Como destaca o jornal britânico Guardian, a guerra comercial de Trump levou ao pior trimestre em mais de dois anos de duas das três principais bolsas de valores. A confiança do consumidor também caiu para o nível mais baixo em quatro anos. “É a mudança de confiança mais dramática de que me lembro, exceto quando a covid chegou. É concebível que o golpe na confiança possa ter um efeito maior do que as próprias tarifas”, afirmou o presidente do Federal Reserve de Minneapolis à Bloomberg News.
Países aguardam
Trump chegou a mencionar a proposta de impor tarifas recíprocas – as mesmas taxas que os países usam para as exportações norte-americanas – para o Brasil, Coreia do Sul, Índia e União Europeia, que classificou a medida como um “plano forte” de retaliação.
Sobre o México e Canadá, dois dos maiores parceiros comerciais, a proposta é chegar a 25% sobre todas as importações. O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, classificou-as de “injustificadas” e comprometeu-se a retaliar.

White House / Shealah Craighead
Gestão Trump deve anunciar pacote com medidas tarifárias que afetam países, incluindo Brasil
Nesta terça-feira, Carney conversou por telefone com a presidenta mexicana Claudia Sheinbaum e ambos falaram em integração econômica norte-americana, com respeito às soberanias, como a melhor forma de competir com outras regiões do mundo”, destacou o jornal mexicano La Jornada.
Canadá e China também já retaliaram as tarifas de Trump com as suas próprias taxas. E os governos da Europa, do México e de outros países aguardam o anúncio desta tarde para divulgarem suas respostas. Uma das ideias dos europeus é impor restrições ou sanções a empresas como a Google, a Meta ou mesmo a bancos norte-americanos.
Brasil também busca saídas
Para o Brasil, por enquanto, estão em vigor as tarifas de 25% sobre as exportações para os EUA de aço e alumínio. É sobretudo isso o que o governo brasileiro tenta negociar nesse momento, embora os dois lados estejam repassando a relação comercial nessas reuniões técnicas.
Há algumas semanas, Trump havia acusado o Brasil de sobretaxar o etanol norte-americano com uma tarifa de 18%, enquanto a aplicada pelos EUA ao etanol brasileiro era de 2,5%. Este é um item que está na pauta dessas negociações. Duas reuniões já aconteceram. Mas pode ser que não haja avanços, neste caso, já que o setor reagiu mal à possibilidade de se baixar a tarifa para o produto norte-americano. Tudo isso terá de ser visto à luz do que será anunciado nesta quarta-feira.
Enquanto negocia com Washington, o Brasil aposta na aprovação do projeto de lei da reciprocidade ambiental aprovado nesta terça-feira. Criado para reagir a restrições ambientais que vinham sendo impostas pela Europa a produtos brasileiros, o PL 2.008/2023 teve seu alcance ampliado após substitutivo da senadora Tereza Cristina (PP-MS). Ele permite ao Brasil reagir de maneira mais ágil, como já acontece hoje nos EUA e na Europa.
Turbulências internas
O tarifaço provocou turbulências também nas bolsas de valores e entre grandes empresas do país que dependem de cadeias de fornecimento internacionais, como as de peças e produtos.
Analistas da Goldman Sachs, em nota recente, aumentaram a previsão de inflação para o final do ano nos Estados Unidos e reduziram as projeções de crescimento econômico do país para 2025. Também subiram as expectativas de desemprego e o índice de probabilidade de uma recessão nos próximos 12 meses.
A mudança, apontam, reflete “a nossa linha de base de crescimento mais baixa, a recente deterioração acentuada da confiança das famílias e das empresas e as declarações dos responsáveis da Casa Branca, que indicam uma maior vontade de tolerar a fraqueza econômica a curto prazo na prossecução das suas políticas”, informa The New York Times.
(*) Com Ansa.























