Governo Milei ataca imprensa em resposta às denúncias de corrupção
Presidente argentino disse que jornalistas que vazaram esquema são ‘espiões disfarçados’; Ministério da Segurança apresentou denúncia exigindo prisão dos profissionais
O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou nesta terça-feira (02/09) que os jornalistas responsáveis pelo vazamento de áudios que denunciam um esquema de corrupção envolvendo o governo e a compra de medicamentos pela Agência Nacional de Deficiência (ANDIS) são “espiões disfarçados”.
“A cada momento, a rede ilegal de espionagem da qual um grupo de jornalistas faz parte fica mais clara. Esses espiões que se disfarçam de “jornalistas” querem desviar a atenção da questão real”, escreveu o mandatário argentino.
A cada paso sigue quedando en claro la red de espionaje ilegal de la que un grupo de periodistas ha sido parte.
Estos espías que se disfrazan de “periodistas” quieren desviar la atención del tema real.
No están por encima de la ley. Se creen impunes y no lo son.
Fin. https://t.co/ONV54Afc7l— Javier Milei (@JMilei) September 2, 2025
Milei também disse que os jornalistas “não estão acima da lei” e os ameaçou: “acham que podem ficar impunes, mas não ficarão”.
Os ataques do presidente à imprensa foram realizados na rede social X, em comentário a um posicionamento do presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, sobre o suposto esquema de corrupção.
En primer lugar, quiero aclarar que ese audio, en el hipotético caso de que fuera real, pareciera haber sido grabado de manera ilegal en la Presidencia de la Cámara de Diputados.
Estos encuentros se realizan periódicamente para coordinar la labor parlamentaria y consolidar el…
— Martin Menem (@MenemMartin) September 2, 2025
Menem afirma que “se [os áudios] fossem reais, parecem ter sido gravados ilegalmente na Presidência da Câmara dos Deputados” e que a presença de Karina Milei, secretária-geral da Presidência, irmã do mandatário argentino e principal beneficiária do esquema de propina de acordo com os áudios vazados, participa para “exercer liderança política e garantir que o trabalho legislativo esteja totalmente alinhado com a direção” de Milei.
“A suposta gravação e divulgação ilegal de conversas privadas no exercício de nossas funções públicas é evidentemente uma tentativa deliberada de desestabilizar o processo eleitoral”, acusou, referindo-se às eleições legislativas de outubro na Argentina.
Menem — que é primo de Eduardo “Lule” Menem, ligado à farmácia Suizo Argentina mencionada como beneficiária e protetora do esquema de corrupção — ainda acusou os jornalistas de realizar “operações ilegais de inteligência e campanhas de difamação”.

Grupo de Senadores afirmou que medida do governo Milei contra jornalistas é “inconstitucional”
Casa Rosada/Wikicommons
Além dos ataques, o governo Milei agiu para reprimir a liberdade de imprensa. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, apresentou na última segunda-feira (01/09) uma denúncia intimidatória exigindo a prisão dos jornalistas.
A denúncia assinada pela ministra argumenta que as gravações são “uma operação de espionagem ilegal” e alega, sem apresentar provas, que o presidente Vladimir Putin da Rússia, Nicolás Maduro da Venezuela e o ex-presidente boliviano Evo Morales estão estariam envolvidos no vazamento dos áudios.
Os jornalistas acusados incluem Jorge Rial e Mauro Federico, da C5N, e Fabián Doman, da A24 e do canal de streaming de televisão Carnaval Stream.
Perseguição contra jornalistas é ilegal, dizem senadores
Membros do Comitê de Sistemas, Mídia e Liberdade de Expressão do Senado rejeitaram, também nesta terça-feira (02/09), os ataques do governo Milei contra a imprensa argentina.
“Nunca, nos anos de democracia em que vivemos, um limite como este foi ultrapassado. É verdade que, dentro dos marcos normativos vigentes, existe a possibilidade de defesa contra diferentes denúncias relativas ao que foi dito, publicado ou exposto, mas nunca, jamais, uma decisão de censura prévia”, declarou a presidente da comissão, a senadora Carolina Moises, do partido União pela Pátria.
? Nuestra solidaridad con los periodistas agraviados y denunciados antes y ahora, en una escalada que el Gobierno potencia con discursos de odio.
Desde @SenadoArgentina decimos NO a la #CensuraPrevia pic.twitter.com/YZpI79EnyH
— Bloque Convicción Federal (@conviccionfed) September 2, 2025
“Nós, como senadores e senadoras nacionais, devemos proteger a Constituição Nacional e, portanto, expressamos que o que o Poder Executivo fez neste caso, sob a assinatura do presidente e da ministra da Segurança, é inconstitucional”, instou.
Moises defendeu que os cidadãos argentinos tenham direito “de se comunicarem pelos meios que escolherem, de forma verdadeira e absoluta, sem condicionamentos”.
O comitê solidarizou-se não apenas com os três jornalistas identificados da denúncia de Bullrich, como também “com todos” que foram vítimas “de um governo que começou a atacar e continuou avançando com o discurso de ódio e violência que o sustenta em todos os âmbitos e em todos os termos”.























