Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou nesta terça-feira (02/09) que os jornalistas responsáveis pelo vazamento de áudios que denunciam um esquema de corrupção envolvendo o governo e a compra de medicamentos pela Agência Nacional de Deficiência (ANDIS) são “espiões disfarçados”.

“A cada momento, a rede ilegal de espionagem da qual um grupo de jornalistas faz parte fica mais clara. Esses espiões que se disfarçam de “jornalistas” querem desviar a atenção da questão real”, escreveu o mandatário argentino.

Milei também disse que os jornalistas “não estão acima da lei” e os ameaçou: “acham que podem ficar impunes, mas não ficarão”.

Os ataques do presidente à imprensa foram realizados na rede social X, em comentário a um posicionamento do presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, sobre o suposto esquema de corrupção.

Menem afirma que “se [os áudios] fossem reais, parecem ter sido gravados ilegalmente na Presidência da Câmara dos Deputados” e que a presença de Karina Milei, secretária-geral da Presidência, irmã do mandatário argentino e principal beneficiária do esquema de propina de acordo com os áudios vazados, participa para “exercer liderança política e garantir que o trabalho legislativo esteja totalmente alinhado com a direção” de Milei.

“A suposta gravação e divulgação ilegal de conversas privadas no exercício de nossas funções públicas é evidentemente uma tentativa deliberada de desestabilizar o processo eleitoral”, acusou, referindo-se às eleições legislativas de outubro na Argentina.

Menem — que é primo de Eduardo “Lule” Menem, ligado à farmácia Suizo Argentina mencionada como beneficiária e protetora do esquema de corrupção — ainda acusou os jornalistas de realizar “operações ilegais de inteligência e campanhas de difamação”.

Grupo de Senadores afirmou que medida do governo Milei contra jornalistas é “inconstitucional”
Casa Rosada/Wikicommons

Além dos ataques, o governo Milei agiu para reprimir a liberdade de imprensa. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, apresentou na última segunda-feira (01/09) uma denúncia intimidatória exigindo a prisão dos jornalistas.

A denúncia assinada pela ministra argumenta que as gravações são “uma operação de espionagem ilegal” e alega, sem apresentar provas, que o presidente Vladimir Putin da Rússia, Nicolás Maduro da Venezuela e o ex-presidente boliviano Evo Morales estão estariam envolvidos no vazamento dos áudios.

Os jornalistas acusados ​​incluem Jorge Rial e Mauro Federico, da C5N, e Fabián Doman, da A24 e do canal de streaming de televisão Carnaval Stream.

Perseguição contra jornalistas é ilegal, dizem senadores

Membros do Comitê de Sistemas, Mídia e Liberdade de Expressão do Senado rejeitaram, também nesta terça-feira (02/09), os ataques do governo Milei contra a imprensa argentina.

“Nunca, nos anos de democracia em que vivemos, um limite como este foi ultrapassado. É verdade que, dentro dos marcos normativos vigentes, existe a possibilidade de defesa contra diferentes denúncias relativas ao que foi dito, publicado ou exposto, mas nunca, jamais, uma decisão de censura prévia”, declarou a presidente da comissão, a senadora Carolina Moises, do partido União pela Pátria.

“Nós, como senadores e senadoras nacionais, devemos proteger a Constituição Nacional e, portanto, expressamos que o que o Poder Executivo fez neste caso, sob a assinatura do presidente e da ministra da Segurança, é inconstitucional”, instou.

Moises defendeu que os cidadãos argentinos tenham direito “de se comunicarem pelos meios que escolherem, de forma verdadeira e absoluta, sem condicionamentos”.

O comitê solidarizou-se não apenas com os três jornalistas identificados da denúncia de Bullrich, como também “com todos” que foram vítimas “de um governo que começou a atacar e continuou avançando com o discurso de ódio e violência que o sustenta em todos os âmbitos e em todos os termos”.