Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

O novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, tomou posse em Paris nesta quarta-feira (10/09), em uma cerimônia de apenas 10 minutos, a mais rápida do governo do presidente Emmanuel Macron. Expressando sua vontade de evitar “grandes discursos”, Lecornu agradeceu seu antecessor, François Bayrou, e prometeu trabalhar para acabar com “o descompasso entre a vida política e a vida real” do país.

Menos de três minutos de fala: esse foi o tempo utilizado por Lecornu para assumir a chefia de governo da França, homenagear Bayrou e se comprometer a colocar em prática “rupturas profundas” no país. Apesar de ser reconhecido por sua habilidade oratória, o novo premiê disse acreditar que o momento era inadequado para se prolongar na fala, num contexto de crise política que exige “humildade” e “sobriedade”.

Paralelamente à cerimônia, milhares de pessoas estão nas ruas da França nesta quarta-feira, participando do movimento de protesto “Vamos bloquear tudo”.

Após cinco minutos de discurso de Bayrou, Lecornu exaltou “a extraordinária coragem” do ex-premiê, que permaneceu apenas nove meses no cargo, e garantiu que “não há caminhos impossíveis” para tirar a França da crise. Para isso, o novo chefe de governo prometeu “ser mais criativo” e “mais sério na maneira de trabalhar com as oposições”.

O líder conservador receberá representantes de todas as forças políticas “nos próximos dias”, garantiu. “Vamos conseguir”, afirmou.

Ascensão fulminante

Aos 39 anos, Lecornu chega ao poder após uma aposta fracassada de François Bayrou de pedir um voto de confiança à Assembleia Nacional da França na segunda-feira (08/09). Dos 577 parlamentares, 364 votaram contra e 194 deputados da coalizão governista se pronunciaram a favor.

Conforme determina a Constituição, o ex-premiê centrista apresentou na terça-feira (09/09) sua renúncia ao presidente Emmanuel Macron, que poucas horas depois, nomeou um fiel aliado para chefiar o governo.

Lecornu é o quinto primeiro-ministro do segundo mandato de Macron, e o quarto em apenas um ano. Ex-ministro das Forças Armadas (equivalente à Defesa no Brasil), o macronista chega ao poder em meio a uma crise política, econômica e social sem precedentes nas últimas décadas. Fiel escudeiro do presidente e originário de partidos da direita conservadora, Lecornu teve uma ascensão fulminante e, apesar de ter liderado um ministério-chave em tempos de guerra na Europa, é desconhecido de grande parte dos franceses.

Novo premiê garantiu que “não há caminhos impossíveis” para tirar França da crise
Serviço de Informação Governamental da França

Em uma sucinta mensagem publicada nas redes sociais após a divulgação de sua nomeação, o novo premiê agradeceu “a confiança” do presidente e disse estar pronto para assumir a tarefa de defender “a independência, a potência e a estabilidade política e institucional pela união do país”.

“Quero dizer, sinceramente, aos nossos compatriotas que meço suas expectativas e conheço as dificuldades. Estamos trabalhando, com humildade, e vamos fazer de tudo para chegar lá”, publicou no X.

Sem surpresas

A escolha de Macron não causou surpresa: Lecornu já era um dos maiores cotados para assumir o governo em dezembro de 2024, não fosse a ameaça de Bayrou de acabar com a aliança com o partido governista, caso não fosse nomeado primeiro-ministro. Nove meses depois, o presidente aposta em seu aliado para evitar uma nova dissolução da Assembleia Nacional e tentar estabilizar o Executivo, diante das pressões parlamentares e sociais.

A nomeação de Lecornu é saudada pela direita francesa, mas a virulenta reação da oposição deixa claro que o novo premiê terá de fazer valer seu apelido de “rei do flerte”. Da esquerda radical, passando pelos socialistas e a extrema direita, a escolha do conservador não foi bem acolhida.

“O presidente está dando o último tiro do macronismo”, afirmou Marine Le Pen, do partido ultranacionalista Reunião Nacional. “Uma triste comédia”, avalia Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, da esquerda radical.

“Os franceses esperavam mudanças: Lecornu no governo é Macron no governo. É difícil acreditar em uma retomada com o homem que apoiou o chefe de Estado em tudo”, criticou Olivier Faure, secretário-geral do Partido Socialista.

Em um país extremamente polarizado, Lecornu inaugura seu mandato com uma missão de alto risco: consultar as forças parlamentares antes de formar um governo, a fim de aprovar um orçamento para 2026 e evitar um novo voto de censura na Assembleia, como seus dois últimos antecessores.