França amanhece sob greve geral e protestos em todo o país
Milhares de franceses participam de mais de 273 manifestações e 157 bloqueios contabilizados nesta manhã; número de prisões chega a 295, metade delas em Paris
Um dia após o anúncio do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, até então ministro das Forças Armadas, a França amanheceu nesta quarta-feira (10/09) mergulhada em uma greve geral, convocada em meio à crise política no país, sob o lema “Boqueemos Tudo” (Bloquons tout).
“Bayrou se foi, Lecornu tem que sumir”, gritavam os manifestantes em meio aos protestos que mobilizaram quase 29 mil participantes em mais de 273 atos e 157 bloqueios em diferentes regiões. Os franceses se levantam contra a crise política em torno da aprovação de um pacote de austeridade que levou à queda do ex-primeiro-ministro François Bayrou e a nomeação, na noite desta terça-feira (09/09), de seu sucessor.
Em entrevista ao canal France 3, a secretária-geral da CGT, Sophie Binet, a maior central sindical do país, alertou que o governo tentará tornar o movimento impopular: “é o discurso que [o ministro do Interior, Bruno] Retailleau tentará promover, fazendo com que aqueles que se mobilizam pareçam pessoas violentas”.
Em comunicado de imprensa, destaca L´Humanité, o sindicato Solidaires saudou a mobilização e afirmou que “apesar do significativo envio de forças policiais para impedir a greve e os bloqueios, relatos de campo indicam uma mobilização significativa”. 80 mil policiais foram mobilizados pelas forças de segurança francesa.
“Já podemos considerar um sucesso”, acrescenta o sindicato, ao comentar que vários setores profissionais apresentam altos índices de greve, entre eles, a mobilização na SNCF, na educação e nos armazéns da multinacional Amazon, informa o jornal.

França amanhece sob greve geral e protestos em todo o país
@Albert Lvy1
Mobilizações
Segundo Le Monde, em Paris, centenas de jovens se reuniram na Praça da República, em um ato contra o racismo e as discriminações que rapidamente ampliou a pauta com críticas aos cortes orçamentários, defesa da causa palestina e denúncias contra a nomeação de Lecornu, lembrado por suas posições conservadoras em temas sociais.
Durante a mobilização, informa o jornal francês, a presença do coletivo de extrema direita Némésis foi rechaçada, com a expulsão de seus militantes sob os gritos de “Paris anti-fascista”. Uma grande mobilização é aguardada na Place du Châtelet, no centro da cidade, nesta tarde.
No interior do país, os protestos também ganharam força. Em Lille, manifestantes bloquearam acessos à cidade com pneus e barricadas improvisadas, antes de serem dispersados pela polícia. Em Rennes, um incêndio de 30 minutos em um viaduto paralisou o tráfego, com autoridades alertando para risco estrutural. Ocupações de trilhos também paralisaram o tráfego ferroviário em Cherbourg e Valence.
Segundo o Ministério da Educação, cerca de uma centena de liceus (equivalentes ao ensino médio) foram afetados pela mobilização, com 27 totalmente bloqueados. A União Sindical dos Estudantes Secundaristas informa que houve ações em 150 estabelecimentos em todo o país.
Prisões
O então ministro do Interior, Bruno Retailleau, que já havia anunciado sua renúncia, informou que quase 200 pessoas foram detidas em todo o país pela manhã. Ao todo, foram registradas 430 ações, 273 manifestações e 157 bloqueios. O número de prisões até o meio-dia era de 295, mais da metade delas em Paris.
Até o meio-dia (horário local) desta quarta-feira, foram registradas em Paris, 145 prisões, das quais 34 levaram a detenções sob custódia, incluindo quatro menores de idade, informou o Ministério Público da capital francesa. Próximo ao Liceu Hélène-Boucher, houve mais de 30 detenções.
Apesar da repressão policial e das interrupções, estudantes e trabalhadores prometem intensificar a mobilização ao longo do dia, com grandes marchas previstas para a tarde em várias cidades.























