Festival pró-Palestina em Berlim causa atrito dentro do partido Die Linke
Parte da sigla de esquerda afirma que evento pede ‘paz’ no enclave; SPD, CDU e imprensa acusam de suposto antissemitismo
O partido alemão Die Linke (A Esquerda) tem sido alvo de críticas nesta semana, após seu capítulo do distrito de Neukölln, em Berlim, organizar um “evento de solidariedade” à Palestina, marcado para o próximo sábado (09/08).
Outros partidos, como o Partido Social Democrata (SPD), e a União Democrática Cristã (CDU), tem pressionado para fazer com que o “Soli-Kiez-Event”, um festival de verão com o lema “Neukölln se une pela Palestina”, seja cancelado, alegando que o Comitê Nacional Palestino Unido (VPNK), que faria parte do evento, possui ligações com o Hamas.
A participação do VPNK, no entanto, seria resumida à fala de um integrante. Entre as outras atividades, descritas pela revista Der Spiegel como “bastante inofensivas”, estão danças do Oriente Médio, lanches, programação infantil e uma “serigrafia solidária”.
Gerrit Kringel, vice-prefeito do distrito de Neukölln e membro da CDU, teria associado, em entrevista ao jornal Bild, o evento com antissemitismo, dizendo que “o antissemitismo e a hostilidade contra Israel, independentemente da origem, não devem ter lugar em Berlin-Neukölln”.
Na mesma linha, Martin Matz, deputado do SPD, disse ao jornal local B.Z. que “não se trata aqui de compaixão pelas pessoas que sofrem no conflito do Oriente Médio”, alegando que o Die Linke estaria deixando a máscara cair, uma vez que, para ele, “aparições conjuntas com apoiadores do terrorismo certamente não promovem a paz”.

Membros do Die Linke de Neukölln seguram faixa dizendo: ‘Parem a guerra, parem o genocídio’
Die Linke Neukölln/X
Reverberação dentro do partido
A cobertura do caso por órgãos midiáticos alemães têm seguido linha parecida, e o festival foi mencionado por múltiplos membros do Die Linke, entre eles, a co-líder do partido, Ines Schwerdtner, que, durante reunião em Münster na última segunda-feira (03/08) teria explicado que cada célula distrital pode organizar seus eventos a qualquer momento. “Vocês não precisam esperar a aprovação da direção do partido”, enfatizou.
De qualquer forma, nem todas as figuras do partido estão em concordância. Kerstin Wolter, co-presidente da divisão do partido em Berlim, já havia criticado o capítulo de Neukölln anteriormente. “Vemos as coisas da mesma forma que o Die Linke berlinense”, afirmou Janis Ehling, secretário-geral federal do partido.
Wolter teria pedido à sua associação regional que esclarecesse quais pessoas específicas foram convidadas para o evento. “Die Linke de Neukölln precisa agora esclarecer quem vai se apresentar, pois nossa posição é clara”, disse. “Organizações e pessoas próximas ao Hamas ou que aprovam seu terrorismo definitivamente não são nossos aliados”.
Em resposta ao jornal Tagesspiegel, o Die Linke de Neukölln informou: “nosso evento local é um evento pela paz justa na Palestina e em Israel. Todos os vizinhos de Neukölln estão convidados. Juntos, exigimos o fim imediato do genocídio em Gaza, do bloqueio e da ocupação na Cisjordânia, a suspensão do fornecimento de armas a Israel e a libertação dos reféns pelo Hamas.” Além disso, a associação se posiciona “contra o racismo antimuçulmano e contra o antissemitismo”.
Além do VPNK, representantes dos grupos “Eye 4 Palestine” (Olho para a Palestina) e “Comitê de Gaza” também devem participar do evento. De acordo com o convite, o ativista Ramsis Kilani, expulso do partido em dezembro de 2024, faria um discurso.























