Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Exército do Sudão suspendeu nesta quarta-feira (31/05) a sua participação nas negociações para alcançar uma trégua no conflito contra o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) e pôr fim à escalada de violência iniciada em 15 de abril, que mergulhou o país em uma grave crise humanitária.

Em breve comunicado divulgado por meio das redes sociais, a instituição anunciou sua decisão. Segundo o Exército, “as FAR violaram reiteradamente as tréguas sugeridas e não respeitaram os compromissos assumidos na rodada anterior de diálogo, como a retirada de hospitais e prédios residenciais que ocupavam durante os confrontos”. 

Por sua vez, o grupo paramilitar declarou que as forças armadas sudanesas atacaram as suas posições no terreno em Cartum e na cidade vizinha de Omdurman, e lançaram bombardeios aéreos e de artilharia pesada contra bairros residenciais nesta última cidade e em Bahri.

As FAR também indicaram que “apoiam incondicionalmente” a mediação de Riad e Washington, e que estão trabalhando para solucionar a crise humanitária que o Sudão enfrenta, embora não tenham se referido à possível suspensão das negociações.

Até o momento, as negociações estavam ocorrendo na cidade saudita de Jedah e mediadas pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos.

Segundo o jornal local Alrakoba, os diálogos para alcançar um acordo começaram no começo de maio “sobre o compromisso de proteger os civis”, confirmando que os acordos de tréguas de curto prazo “foram repetidamente violados”.

Durante uma visita às tropas em Cartum, o chefe das forças armadas sudanesas, general Abdel Fattah al Burhan, declarou que “o exército está pronto para lutar até a vitória”.

Já as FAR acusaram o Exército de violar a trégua e afirmaram que “exercerão o seu direito de defesa”.

Instituição armada e Forças de Apoio Rápido, em conflito desde abril, acusam-se mutuamente de violar acordos de cessar-fogo

Twitter/القوات المسلحة السودانية – الإعلام العسكري

General Abdel Fattah al Burhan, declarou que "o exército do Sudão está pronto para lutar até a vitória”

Na noite da última terça-feira (30/05), novos confrontos atingiram a capital Cartum e a cidade de El-Obeid, capital do estado de Cordofão do Norte.

Já sobre os acordos de trégua, o jornal afirmou que expirou na última segunda-feira (29/05) um cessar-fogo que durou sete dias, e que apesar das intenções de estender o acordo, os confrontos ainda persistem. 

A emissora Al Jazeera, apontou que a União Africana (UA) analisa que a suspensão das negociações “não deve desencorajar novas tentativas de mediação”. 

O chefe de gabinete do presidente da Comissão da UA e porta-voz para a crise do Sudão, Mohamed El Hacen Lebatt, afirmou que em negociações de conflito, uma das partes suspender sua participação é um “fenômeno clássico”, segundo o jornal. 

Os combates, que se estenderam também à região de Darfur (no oeste do país), já provocaram a deslocação forçada de quase um milhão e meio de pessoas segundo a Organização Internacional para Imigração (OIM), sendo que 25 milhões de sudaneses (metade da população nacional) necessitam de ajuda humanitária.

Segundo o balanço oficial, os combates deixaram até agora mais de 700 mortos, embora o Sindicato dos Médicos do Sudão considere que existam mais de 860 e o Projeto de Localização e Dados de Eventos de Conflitos Armados (Acled, por sua sigla em inglês) informe que mais mais de 1.800 pessoas perderam suas vidas.

O conflito no Sudão opõe os generais Abdel Fatah al-Burhan, chefe das Forças Armadas, e Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti e líder do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR).

Antigos aliados, os dois se distanciaram em meio a acusações mútuas de tentativas de concentrar o poder. Enquanto Hemedti denuncia uma tentativa de restaurar o antigo regime que sustentava o ditador Omar al-Bashir, Burhan quer integrar as FAR no Exército para reduzir a autonomia do grupo.

O Sudão não tem um governo funcional desde 2021, quando as forças armadas do país destituíram o governo de transição do então primeiro-ministro Abdalla Hamdok e instituíram um estado de emergência entendido como um golpe militar. 

Tal período de transição, desde a destituição de al-Bashir, deveria ser finalizado em possíveis eleições no início de 2024. 

(*) Com Monitor do Oriente Médio e TeleSUR