Ex-primeira-ministra de Bangladesh é condenada à morte por repressão aos protestos de 2024
Manifestações antigovernamentais, que deixaram cerca de 1.400 mortos, em sua maioria civis, forçaram Sheikh Hasina a renunciar após 15 anos no poder
A ex-primeira-ministra Sheikh Hasina, de 78 anos, foi condenada à morte nesta segunda-feira (17/11) por ordenar a violenta repressão aos protestos estudantis que derrubaram seu governo no verão de 2024. As manifestações deixaram cerca de 1.400 mortos, em sua maioria civis, segundo a ONU.
A sentença de pena de morte contra a ex-primeira-ministra foi determinada por um tribunal especial de Dacca, capital de Bangladesh. “Todos os elementos constitutivos de crime contra a humanidade estão reunidos”, declarou o juiz Golam Mortuza Mozumder. Sheikh Hasina foi julgada à revelia. Ela fugiu de helicóptero, em agosto de 2024, para a Índia, onde está exilada.
O tribunal também condenou à morte o ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan Kamal, que também está foragido. Já o ex-chefe da polícia, que está preso e confessou envolvimento na repressão, obteve uma pena de cinco anos de prisão.
O histórico judicial de Sheikh Hasina não se limita a este processo. Ela responde a diversas denúncias por assassinatos, sequestros e desaparecimentos atribuídos a seu governo, segundo opositores e ONGs. De acordo com dados de uma comissão de inquérito, mais de 250 opositores despareceram durante seu mandato.
Ao menos 1.400 mortos, segundo a ONU
A ex-líder, apelidada de “princesa de ferro”, estava sendo julgada desde junho por cinco acusações de crimes contra a humanidade. Ao final do processo, os juízes a consideraram culpada por vários crimes, incluindo incitação e ordens de assassinato. Ela sempre negou as acusações.
Em julho e agosto de 2024, manifestações antigovernamentais, que deixaram milhares de mortos, forçaram Hasina a renunciar, após 15 anos no poder. “Esperamos que esta decisão marque o fim dos crimes contra a humanidade e sirva de exemplo”, declarou na semana passada o procurador Tajul Islam, quando pediu a pena de morte para a ex-primeira-ministra.

Sentença contra a ex-premiê foi determinada por tribunal especial da capital de Bangladesh
Kuhlmann/ MSC / Wikimedia Commons
“Para um simples assassinato, a pena de morte é regra. Para 1.400 assassinatos, ela merece 1.400 vezes”, afirmou diante dos juízes. “Ela é uma criminosa contumaz e não demonstrou nenhum remorso por sua brutalidade,” ressaltou. Após a sentença desta segunda-feira, Hasina afirmou que o veredicto tem “motivações políticas”.
“As sentenças proferidas contra mim foram ditadas por um tribunal manipulado, estabelecido e presidido por um governo não eleito e sem mandato democrático”, declarou em um comunicado.
Polícia em alerta
O tribunal de Dacca aproveitou para reiterar o pedido de extradição da ex-dirigente. Nova Délhi “tomou conhecimento do veredicto”, sem mais comentários.
A decisão da Justiça de Bangladesh era muito aguardada no país de mais de 170 milhões de habitantes, que se prepara para as próximas eleições legislativas dentro de três meses. A polícia da capital foi mobilizada para garantir a segurança nas imediações do tribunal e em todos os pontos estratégicos da cidade.























