Evo Morales critica reforma militar de Arce às vésperas da eleição na Bolívia
Líder progressista afirmou que medida pode levar à ‘conspiração para fraude’ ou ‘renúncia’ do atual presidente
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales (2006-2019) alertou nesta sexta-feira (15/08) contra as mudanças realizadas pelo atual mandatário Luis Arce no Alto Comando das Forças Armadas do país às vésperas da eleição presidencial marcada para o próximo domingo (17/08).
O líder progressista, que foi impedido pelo Tribunal Constitucional de disputar a eleição por já ter governado o país por dois mandatos, classificou a reforma no comando militar boliviano como “surpreendente, inesperada e impactante”.
Llama profundamente la atención el sorpresivo e imprevisto cambio del mando militar a solo dos días de las elecciones, prestándose a distintas hipótesis: desde la preparación de un fraude para cumplir acuerdos políticos hasta una posible renuncia del presidente por temor al… pic.twitter.com/YPF8vd9RoP
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) August 15, 2025
Por meio de uma publicação na rede social X, Morales afirmou que a mudança “levanta duas possibilidades”, sendo a primeira “a conspiração de uma fraude para impor acordos políticos”.
O ex-mandatário também alertou para “uma possível renúncia do presidente [Luis Arce] devido a temores de discórdia interna nos sistemas policial, militar e Judiciário” da Bolívia.
Morales também denunciou que a mudança de última hora “viola estruturas institucionais, promove pessoas inadequadas e prioriza afiliações políticas em detrimento do mérito e do respeito às carreiras militares”.
Por fim, emitiu um alerta à comunidade internacional “para que permaneça vigilante diante de potenciais cenários de má conduta institucional e abuso de poder” durante a eleição no domingo.
“A transparência, o respeito à vontade popular e a garantia da ordem democrática devem prevalecer. O povo boliviano merece eleições justas, livres de manipulação e em pleno respeito à Constituição e à lei”, concluiu.
Na última quinta-feira (14/08), Morales discursou durante um evento em Mamoré Bulo Bulo, no Trópico de Cochabamba, seu reduto político, e reiterou aos seus apoiadores para anular seus votos em protesto por ter sido impedido de disputar a eleição.
“Aqui, voluntariamente, espontaneamente e com empenho, nos reunimos para refletir sobre o porquê de um voto nulo”, declarou. O líder ainda sustentou que seus seguidores farão “história” se conseguirem que o voto anulado prevaleça sobre o voto válido.
“Apelamos a todos para que exijamos respeito por nós mesmos democraticamente. Quando o Estado não respeita o povo e seus direitos, a revolta ou a rebelião são um direito. Esta será uma rebelião democrática contra um Estado e um governo corruptos, contra todos os partidos de direita da lista. Isso será demonstrado no domingo”, disse.
O ex-chefe de Estado voltou a usar o termo “traidor” para se referir ao presidente Arce e ao presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, que se distanciou da coalizão liderada por Morales para concorrer à Presidência representando a Aliança Popular.
Ele também criticou os candidatos que representam a direita, que apoiam políticas neoliberais: Samuel Doria Medina (Aliança da Unidade) e Jorge Tuto Quiroga (Liberdade e Democracia).

Morales reiterou aos seus apoiadores para anular votos em protesto por ter sido impedido de disputar a eleição
Evo Morales Ayma/X
Arce anuncia reforma em tom de despedida
Em cerimônia oficial realizada na noite da última quinta-feira (14/08), o presidente boliviano Luis Arce anunciou a renovação do Alto Comando das Forças Armadas.
As mudanças no Comando Militar foram: o Contra-Almirante Gustavo Primitivo Anibarro Escobar foi empossado como Comandante das Forças Armadas; o Brigadeiro-General Sherman Mario Sempertegui Tames assumiu como Chefe do Estado-Maior; o Brigadeiro-General Roberto Pablo Delgadillo Vázquez assumiu como Comandante do Exército; o Brigadeiro-General Marco Antonio Choquehuanca Marín assumiu como Comandante da Força Aérea Boliviana; e o Contra-Almirante Freddy Pozo Rodríguez assumiu como Comandante da Marinha Boliviana.
Durante a cerimônia, o mandatário enfatizou que “hoje, mais do que nunca, as Forças Armadas devem demonstrar esse compromisso com o povo boliviano”. Arce enfatizou que esse compromisso “não se limita ao marco constitucional, mas decorre de uma profunda reflexão sobre as origens populares das Forças Armadas bolivianas”.
Em meio à crescente tensão política, poucos dias antes das eleições nacionais, o presidente declarou que “jamais concordará em pegar em armas contra o povo”.
Arce aproveitou a oportunidade para instar o povo boliviano a “participar ativamente” das eleições do próximo domingo: “devemos respeitar o processo democrático. As diferenças devem ser resolvidas nas urnas, democraticamente”.
O mandatário orientou a população a “refletir profundamente” e estar pronta para “votar na sua melhor escolha”.
“Assim como entramos na casa deste povo pela porta principal, também devemos sair por essa mesma porta, deixando um legado democrático para todo o povo boliviano”, declarou, em tom de despedida.
Dois candidatos conservadores lideram as pesquisas para as eleições presidenciais na Bolívia. Segundo levantamento do institutos Ipsos Ciesmori, o empresário e ex-ministro do Planejamento Samuel Doria Medina, que se define como “social-democrata”, encabeça a preferência do eleitorado com 21,2% das intenções de voto, em empate técnico com o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga (2001-2002), com 20%.
Por outro lado, nem o presidente do Senado, o independente de esquerda Andrónico Rodríguez, nem o ex-ministro de Governo Eduardo del Castillo, candidato do presidente Luis Arce e do MAS, chegam aos dois dígitos nas pesquisas: o primeiro tem 5,5%, e o segundo, 1,5%.
Como todos os candidatos estão longe de obter maioria absoluta, espera-se um segundo turno em 19 de outubro.
(*) Com Prensa Latina e TeleSUR























