Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Um agente federal dos Estados Unidos tentou recrutar o piloto-chefe do presidente venezuelano Nicolás Maduro, propondo que desviasse secretamente o avião presidencial de sua rota original para um local onde autoridades norte-americanas pudessem capturá-lo. Em troca, o piloto se tornaria “um homem muito rico”. A informação foi publicada pela Associated Press (AP) na terça-feira (28/10).

A proposta em questão foi feita em 2024 pelo então agente do Departamento de Segurança Interna norte-americano, Edwin López, ainda sob o governo de Joe Biden. Em uma reunião secreta, o norte-americano sugeriu que o general da Força Aérea Venezuelana, Bitner Villegas, levasse Maduro para a República Dominicana, Porto Rico ou a base de Guantánamo, em Cuba, para ser preso. Embora Villegas tenha compartilhado o seu contato com o agente, não aderiu ao plano. 

Segundo a AP, tudo começou quando um informante procurou a Embaixada dos EUA na República Dominicana, onde López trabalhava, afirmando ter informações sobre dois aviões de Maduro em manutenção no país, alegando violações às sanções norte-americanas. Com base na informação, López rastreou as aeronaves, e viu que estavam localizadas no aeroporto La Isabela, em Santo Domingo. Ao mesmo tempo, identificou cinco pilotos venezuelanos que estavam na ilha, e que posteriormente foram interrogados por ele.

No encontro com Villegas, López confirmou que o general venezuelano havia pilotado tanto para Maduro quanto para o seu antecessor, o ex-presidente Hugo Chávez, e, assim, apresentou-lhe a proposta. O piloto, contudo, não se comprometeu ao plano, mas repassou o seu número de celular ao agente norte-americano.

Nos meses seguintes, mesmo após se aposentar do serviço público, López seguiu mantendo contato com o piloto através de aplicativos de mensagem criptografada, insistindo na proposta e mencionando o aumento da recompensa. Por exemplo, em 7 de agosto deste ano, o ex-agente chegou a anexar um link para um comunicado de imprensa do Departamento de Justiça que anunciava que a captura de Maduro havia aumentado para US$ 50 milhões (em torno de R$ 267 milhões).

“Ainda estou esperando sua resposta”, escreveu.

As negociações, no entanto, não prosperaram. Em 18 de setembro, Villegas endureceu seu posicionamento contrário ao plano dos EUA durante uma troca de mensagens com López, chamando o norte-americano de “covarde”.

“Nós, venezuelanos, somos feitos de um tecido diferente”, escreveu o piloto. “A última coisa que somos são traidores”. Villegas bloqueou o contato após uma última chantagem lançada pelo ex-agente norte-americano, que mencionou os filhos do venezuelano.

Print de vídeo postado na conta do Facebook do presidente venezuelano Nicolás Maduro, em 15 de dezembro de 2023, com piloto Bitner Villegas
Nicolás Maduro/Facebook

Depois do rompimento das comunicações, opositores de Maduro divulgaram publicamente uma foto de López e Villegas juntos, numa tentativa de semear desconfiança sobre a lealdade do piloto. Dias depois, Villegas reapareceu em um programa de televisão estatal venezuelano apresentado pelo ministro do Interior Diosdado Cabello, mantendo-se em silêncio e com o punho erguido em sinal de lealdade a Maduro.

A história foi revelada em meio à mobilização militar dos EUA no Mar do Caribe, perto da costa venezuelana que, desde setembro, tem realizado ataques fatais contra embarcações na região alegando se tratar de um mecanismo de combate ao tráfico de drogas – porém, sem apresentar provas. Este mês, Trump chegou a autorizar a agência secreta CIA a realizar ações dentro da Venezuela. De acordo com o presidente Maduro, Washington tenta derrubar o seu governo.