Especialista analisa violência política em caso de extremista assassinado nos EUA
Ao Democracy Now, Jeff Sharlet comentou as principais ideias de Charlie Kirk e a tentativa de Trump de culpar 'esquerda radical' por sua morte
O assassinato do influenciador e ativista de extrema direita Charlie Kirk, fundador da organização estudantil Turning Point USA, nesta quarta-feira (11/09), provocou forte comoção nos Estados Unidos e reacendeu discussões sobre a violência política no país.
Kirk foi morto por um único disparo de rifle enquanto respondia a perguntas do público na noite de ontem durante um evento na Universidade de Utah Valley. O atirador, posicionado em um telhado, ainda não foi identificado e agora o FBI lidera as investigações.
O influenciador tinha um podcast com milhões de seguidores nas redes sociais e realizava debates nas universidades do país. Era amigo pessoal de Donald Trump Jr. e do vice-presidente J.D.Vance. Recentemente, em um de seus programas, ele defendeu as tarifas contra o Brasil em retaliação ao julgamento do ex-presidente e réu na Corte Suprema, Jair Bolsonaro.
Em entrevista ao Democracy Now, o jornalista e professor no Dartmouth College, Jeff Sharlet, especialista em movimentos de extrema direita e supremacistas nos Estados Unidos, analisou suas principais ideias do ativista. Ele também comentou a tentativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de culpar a “esquerda radical” pelo episódio.
Ataques
“Durante anos, a esquerda radical comparou americanos maravilhosos como Charlie a nazistas e aos piores assassinos em massa e criminosos do mundo. Esse tipo de retórica é diretamente responsável pelo terrorismo que vemos em nosso país hoje, e precisa acabar agora mesmo”, disse Trump, em discurso oficial.
Figuras proeminentes da direita engrossaram o coro do republicano nas redes sociais. Elon Musk escreveu no X que “a esquerda é o partido do assassinato”. A influenciadora de extrema direita Laura Loomer postou na mesma plataforma que “a melhor maneira de o presidente Trump reforçar o legado de Charlie é reprimir a esquerda com toda a força do governo”.
“Estamos em um momento de grande perigo… alguns estão vendo isso como uma licença para escalar ainda mais a violência política”, avaliou Sharlet, autor de “A Ressaca: Cenas de uma Guerra Civil Lenta”. Para o especialista, a devoção de Kirk a Donald Trump era central.
“A percepção de Kirk era a devoção absoluta ao grande líder, o culto à personalidade — um princípio central do fascismo. Ele era, de muitas maneiras — e acho que Trump o via assim — como o filho que ele realmente queria ter, uma figura de tremenda influência”, afirmou.

Charlie Kirk e Donald Trump
Gage Skidmore / Wikimedia Commons
Racismo
Ele também detalhou a retórica violenta de Kirk, destacando que seu grande problema “era a branquitude”. O jovem, relatou, vinha se radicalizando cada vez mais, chegando a chamar “a Lei dos Direitos Civis de um dos grandes erros da vida americana” e de se envolver abertamente em conversas racistas. “Era uma linguagem extrema”, destacou.
Sharlet lembrou que o ativista “expressava de inúmeras maneiras diferentes” teorias conspiratórias como a chamada “grande substituição” para justificar a política imigratória de Trump no país. Também “era explícito em suas ideias antissemitas” e “um oponente da liberdade de expressão”. Ele contou, ainda, que Kirk chegou a pedir “execuções públicas televisionadas” que considerava “uma experiência sagrada e de ensino para crianças”.
Kirk “tinha uma presença maior no TiK Tok do que a maioria das figuras políticas” e por isso, era interpretado como um influenciador, mas foi, principalmente e fundamentalmente, “um organizador muito eficaz” para o projeto MAGA de Trump, apontou o jornalista.
Em sua avaliação, o influenciador foi essencial para direcionar os votos jovens para Trump nas últimas eleições presidenciais; e também para transformar a política juvenil de extrema direita nos Estados Unidos. Sharlet condenou a morte do ativista, destacando que “assassinato é assassinato. Você não o celebra”.
“Mas também não use eufemismos. Não encubra os mortos. Temos que nomear o assassinato de Kirk com precisão como o que ele foi: um assassinato”, complementou.
Confira a íntegra da entrevista no Democracy Now























