Escândalo de propina em Agência de Deficiência atinge alto escalão do governo Milei
Suposto esquema de suborno na compra de medicamentos envolveria a irmã do presidente, Karina Milei, e subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo Lule Menem
Após dias de silêncio, o governo de Javier Milei finalmente rompeu o mutismo diante do escândalo de corrupção que atinge o núcleo duro da Presidência argentina. A crise estourou após o vazamento de áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, advogado pessoal do presidente e até a semana passada diretor da Agência Nacional de Deficiência (ANDIS).
No áudio, Spagnuolo detalha um suposto esquema de cobrança de propinas envolvendo laboratórios farmacêuticos, a secretária-geral da Presidência e irmã do presidente argentino, Karina Milei, e o assessor Eduardo “Lule” Menem. Assim que vazaram as gravações, Milei demitiu o então chefe da Agência.
Nesta segunda-feira (25/08), Lule Menem publicou seu primeiro comunicado público sobre o caso, afirmando que tudo não passa de “uma burda operação política do kirchnerismo”. O porta-voz presidencial, Manuel Adorni, ministros e o próprio presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, primo de Lule, replicaram a mensagem em suas redes.
O deputado disse não poder garantir a autenticidade das gravações, mas negou o conteúdo: “é absolutamente falso”. Segundo Página 12, a duas semanas das eleições em Buenos Aires, marcadas para o próximo dia 7, a estratégia do governo será insistir na narrativa de “operação eleitoral”.
Até agora Karina Milei ainda não se pronunciou diretamente.
Áudios vazados
Os áudios vazados pela imprensa argentina na última sexta-feira (23/08) e ainda não confirmados pela Justiça, são atribuídos a Spagnuolo, amigo pessoal de Javier Milei e um dos fundadores do partido governista La Libertad Avanza.
Ele assumiu a ANDIS em 2023 sem experiência na área de políticas públicas para pessoas com deficiência, e sua gestão foi marcada por cortes orçamentários e cancelamentos em massa de pensões, que ele atribuía a “deficientes fraudulentos”.
Na gravação, Spagnuolo acusa Karina e Lula Menem de liderarem uma rede de coleta de propinas na compra de medicamentos para a Agência. Em um dos trechos mais comprometedores, ele afirma ter confrontado o presidente. “Eu disse: Javier, você sabe que estão roubando, que a sua irmã está roubando”, diz o áudio.

Secretária-geral da Presidência argentina e irmã do presidente argentino, Karina Milei
Celso Silva / Governo do Estado de São Paulo – Flicker
“Eles estão roubando. Você pode agir como um idiota, mas não jogue esse fardo em mim. Tenho todas as mensagens de WhatsApp da Karina”, acrescenta.
O esquema movimentaria entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão por mês, obrigando os laboratórios a pagarem até 8% de propina para fechar contratos com o Estado. Desse montante, 3% iriam diretamente para a irmã de Javier Milei. O aúdio também acusa Lule Menem de apadrinhar nomeações de funcionários ligados ao esquema.
Reação do governo
A denúncia envolve também os empresários Eduardo e Emmanuel Kovalivker, donos da distribuidora de medicamentos Suizo Argentina, apontada como peça-chave no esquema. Ambos e o ex-direitor da ANDIS estão proibidos de sair do país.
A justiça federal ordenou 15 operações de busca e apreensão. Na sexta-feira (22/08), a polícia localizou Spagnuolo em um condomínio de luxo em Pilar, quando tentava fugir, e apreendeu o seu celular. No mesmo dia, interceptou Emmanuel Kovalivker com US$ 266 mil em espécie escondidos em envelopes dentro de um carro.























