Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O aplicativo norte-americano de comunicação, comumente usado pela comunidade gamer no mundo, Discord, também incluído na lista das 26 plataformas que seriam proibidas pelo governo do Nepal em 4 de setembro, tornou-se uma espécie de pleito para a Geração Z, que resultou na eleição de Sushila Karki como a primeira-ministra interina na última sexta-feira (12/09).

O encontro online por intermédio do aplicativo foi articulado pelo Hami Nepal, uma organização sem fins lucrativos criada em 2015 e dedicada a apoiar indivíduos necessitados em meio a crises.

De acordo com a imprensa local, a plataforma online já era muito usada pelos jovens nepaleses como palco de protestos contra os chamados “nepo kids”. Em meio ao contexto de crise social, seus usuários publicavam vídeos expondo a vida luxuosa dos filhos de políticos e questionavam se a ala elitista alcançava os privilégios que ostentava por meritocracia ou pelo nepotismo.

Os recentes protestos violentos no Nepal ganharam proporção quando o primeiro-ministro K. P. Sharma Oli, renunciado em 9 de setembro, censurou a categoria ao proibir o uso das mídias sociais sob alegação de que elas não condiziam com as regras do governo. De acordo com a agência Reuters, a repressão causou pelo menos 51 mortes e 1.3 mil pessoas feridas.

Democracia digital

Na busca para preencher o vácuo no poder com a renúncia de Oli, iniciou-se uma discussão informal, entre os mais de 160 mil membros participantes de um grupo do Discord, sobre quem assumiria o cargo político, de acordo com o jornal Nepali Times. O Discord permite que os usuários se conectem por meio de mensagens de texto, chamadas de voz e vídeo, e compartilhamento de mídia. Também permite a comunicação via mensagens diretas ou dentro de espaços comunitários, os servidores.

Sob a direção do Hami Nepal, o canal “Juventude Contra a Corrupção”, reuniu, a princípio, 10 mil pessoas, incluindo muitas da diáspora nepalesa. Como muitos usuários que tentavam ingressar falhavam, optaram por transmitir o “pleito” ao vivo no YouTube, permitindo que outras milhares de pessoas assistissem aos debates em tempo real.

Segundo o Nepali Times, antes mesmo da intensificação da crise nepalesa nos últimos dias, o Hami Nepal já possuía um histórico de desempenho na orientação de manifestações locais, principalmente por meio do uso de plataformas de mídia social como o Instagram e o próprio Discord.

Capturas de tela do debate do Discord sobre o próximo líder do Nepal

De acordo com relatos de manifestantes que entraram no debate do Discord, “muitos não entendiam o que significava dissolver o Parlamento ou formar um governo interino”, mas o compartilhamento de informações e as consultas com especialistas auxiliavam a tirar as dúvidas.

Conforme a mídia local, a discussão girou em torno de uma ampla gama de questões que o Nepal deve combater, tais como empregos, reformas policiais e universitárias, e a formação do governo.

Entre os cinco finalistas, estavam os nomes de Harka Sampang, ativista social e prefeita da cidade oriental de Dharan; Mahabir Pun, um popular ativista social que dirige o Centro Nacional de Inovação; Sagar Dhakal, um político independente que concorreu contra o líder do Congresso Nepalês, Sher Bahadur Deuba, em 2022; o advogado Rastra Bimochan Timalsina, conhecido como Random Nepali pelo canal no YouTube; e, por fim, Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte.

Após horas de discussões, Karki foi eleita para liderar o posto de primeira-ministra interina do Nepal. Em seu primeiro pronunciamento após assumir o cargo, neste domingo (14/09), Karki reiterou que ficará apenas seis meses no poder, convocando uma nova eleição para março de 2026.