Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou nesta quarta-feira (24/09) que a democracia é o ponto central “do futuro da humanidade”, pois somente ela “será capaz de reconstruir o multilateralismo, a harmonia entre os seres humanos e a civilidade entre a relação dos estados”.

A fala de Lula ocorreu durante a segunda edição do evento “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, com lideranças de cerca de 30 países às margens da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Ao relatar para os líderes mundiais presentes na reunião a trajetória do início de sua militância na esquerda, com operário metalúrgico, reconheceu que quando jovem tinha “orgulho de dizer que não gostava de política”, mas alertou contra a “ignorância” que esse pensamento representa.

“A desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta. E se quem gosta pensa diferente de nós, nunca teremos o governo que sonhamos ter”, afirmou.

O líder brasileiro também contou aos seus homólogos sobre o início de sua vida política, com a ida para o sindicato e a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) após perceber que “não havia trabalhadores no Congresso”.

“Como é que eu, um operário, quero que votem leis favoráveis à classe trabalhadora, se não tem trabalhadores no Congresso Nacional?”, disse questionar à época.

Considerava “impossível um operário chegar à Presidenta da República pelo voto. Mas descobri que era possível sim, porque eu disputei em 1989, fui para o segundo turno e obtive 47% dos votos”, declarou.

Segundo o presidente, a partir desse resultado, convocou uma reunião com toda a esquerda latino-americana, intitulada “Fórum de São Paulo”, para promover integração entre os movimentos progressistas da região, e disse que suas experiências nas consquetentes décadas na política o leva a refletir sobre o que cada mandatário faz para “garantir a democracia”.

“Todos nós precisamos acordar todos os dias e perguntar a nós mesmos o qe vamos fazer pela democracia? Quando vão dormir à noite, encostem a cabeça no travesseiro e se perguntem: o que você fez durante o dia para fortalecer a democracia? Com quantas pessoas você falou de democracia?Com quantas pessoas você falou da necessidade da organização popular? Quantas pessoas você chamou para se organizar?”, apelou Lula.

O brasileiro resgatou os anos iniciais de sua vida política e da existência do PT para inspirar os demais presidentes: “quando o meu partido foi criado, havia núcleo de categoria, por bairro, por vila, por local de trabalho, por local de estudo. Ou seja, era a sociedade civil organizada que fazia com que a democracia pudesse vencer”.

A partir disso, questionou seus colegas sobre “o que estão fazendo hoje” pela democracia e apelou para que “coloquem a mão na consciência”. “Se nós não falamos e não organizamos, a democracia perdeu”, acrescentou.

O presidente brasileiro disse se importar em procurar “onde a esquerda errou” e como permitiu “que a extrema direita crescesse”.

“Vamos responder para nós mesmos o que nós deixamos de fazer para fortalecer a democracia. Onde nós erramos? O que que eu fiz como presidente da República para fortalecer a organização popular e social?”, indagou.

Falas de Lula sobre democracia ocorrem em Nova York, onde participou da Assembleia Geral da ONU na última terça-feira (23/09)
Ricardo Stuckert / PR

Segundo Lula, muitas eleições são vencidas “com discurso de esquerda”, mas os governos acabam atendendo “muito mais os interesses dos inimigos do que dos eleitores”.

“A necessidade de contentar o mercado e os adversários fazem com que muitas vezes os eleitores que foram para a rua e apanharam” não sejam atendidos, afirmou, referindo-se a isso como “o fracasso da democracia”.

Nesta linha, sugeriu que os líderes presentes “procurem os erros que a democracia cometeu na relação com a sociedade civil” antes de questionarem a “virtude do extremismo de direita”

“Como é que nós estamos exercendo a democracia nos nossos países? Se encontrássemos a resposta, voltaríamos a vencer a direita”, instou.

Mas “se não encontrarmos a resposta, vamos continuar sufocados pelo negacionismo, extremismo e discurso fascista que nós estamos vendo agora”, concluiu.

Encerramento da agenda de Lula em Nova York

Lula cumpre seus últimos compromissos em Nova York, onde participou da abertura da 80ª Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira (23/09).

Na parte da manhã, o presidente brasileirou coordenou a segunda edição do evento Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo. Além do Brasil, lideram a iniciativa os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e da Espanha, Pedro Sánchez.

A iniciativa procura avançar em uma diplomacia ativa que promova a cooperação internacional contra a deterioração das instituições, a desinformação, o discurso de ódio e a desigualdade social.

O primeiro encontro sobre a democracia ocorreu no Chile, em julho deste ano, com a participação dos presidentes do Brasil, da Espanha, Colômbia e do Uruguai. Na ocasião, foi publicada declaração conjunta dos países.

Outra prioridade da agenda de Lula em Nova York, marcada para o período da tarde, é o Evento Especial sobre Clima para Chefes de Estado e de Governo, que será copresidido pelo Brasil e pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

O encontro tem o objetivo de impulsionar a mobilização dos Estados-membros para a ação climática, incluindo a apresentação de novas contribuições nacionalmente determinadas, as NDCs, rumo à Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém.

As NDCs são os compromissos que cada país assume para reduzir a emissão de gases de efeito estufa que aquecem a Terra e são o principal motor das mudanças climáticas. No caso do Brasil, a meta é reduzir de 59% a 67% as emissões. Até o momento, cerca de 47 países apresentaram suas NDCs, segundo o Itamaraty. O evento em Nova York será uma nova oportunidade para que as nações atualizem essas metas.

Após os compromissos desta quarta, ainda na sede da ONU, Lula concederá entrevista coletiva para avaliar os resultados da viagem. Logo depois, segue para o aeroporto internacional John F. Kennedy, para embarcar de volta ao Brasil. O voo está programado para decolar às 18h de Nova York (19h no horário de Brasília). A previsão é chegar na madrugada de quinta-feira (25/09) em Brasília.

(*) Com Agência Brasil