Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Durante visita à ilha de Mayotte nesta sexta-feira (20/12), no oceano Índico, o presidente da França, Emmanuel Macron, fez discurso acalorado para a população da ilha.

Macro disse que “vocês estão felizes por estarem na França. Se não fosse pela França, vocês estariam 10 mil vezes pior”.

O discurso foi marcado por vaias dos moradores do território mais pobre da França, que reclamam da incapacidade do governo de reestabelecer o fornecimento de água e outros mantimentos essenciais na ilha.

“Sete dias e vocês não são capazes de fornecer água para nós”, falou um morador do bairro de Tsingoni durante visita do presidente.

Chido, o ciclone mais destrutivo a atingir Mayotte nos últimos 90 anos, levou ventos de pelo menos 220 quilômetros por hora quando chegou em 14 de dezembro no arquipélago, localizado a leste de Moçambique.

O ciclone destruiu boa parte da infraestrutura vital da ilha, além de centenas de casas de madeira.

A torre de controle do aeroporto também sofreu danos significativos, o que significa que a retomada dos voos comerciais não deve acontecer antes de 10 dias, segundo uma fonte da prefeitura local.

Chido também causou o corte no fornecimento de eletricidade e comunicações, além de interromper o abastecimento de água potável, um problema em Mayotte mesmo em tempos normais, que agora se tornou uma prioridade.

“Eu entendo a impaciência de vocês. Podem contar comigo”, Macron respondeu, e afirmou que a água será distribuída nas prefeituras de Mayotte.

Até o momento, as mortes oficiais na ilha causadas pelo ciclone Chido chegaram a 35 nesta sexta-feira (20), segundo balanço das autoridades. O ministério do Interior francês também informou sobre 67 feridos graves e 2.432 feridos leves, e alertou que o balanço é “muito difícil de consolidar”.

No entanto, este número é considerado impreciso, visto que os enterros imediatos, conforme a tradição islâmica, e o grande número de migrantes sem documentos, que evitam as autoridades por medo de serem deportados, podem tornar o número total de mortos desconhecido.

emmanuel macron

Reprodução
Macron foi vaiado por moradores do território mais pobre da França

“Aqui estamos isolados do mundo”, “há gente dormindo ao relento, no chão… As doenças estão vindo”, alertou Badirou Abdou, durante uma visita à remota localidade de Tsingoni.

Mayotte tem, oficialmente, uma população de 320 mil habitantes, mas as autoridades afirmam que pode haver entre 100 mil e 200 mil habitantes a mais do que o oficial, a maioria proveniente das vizinhas Comores e vivendo nas favelas das ilhas. Mayotte tornou-se parte da França em 1841 e votou para permanecer francesa em 1974, quando as ilhas Comores escolheram a independência.

Além de Mayotte, o ciclone também atingiu Moçambique, matando 73 pessoas. Em Malaui, também atingido, 13 pessoas morreram. Macron já disse frases polêmicas durante discursos públicos anteriormente, e tem sido alvo de diversas críticas tanto de políticos franceses como da imprensa do país e internacional.

Segundo ele, as declarações tinham a intenção de “dizer as coisas como elas são”, mas que foram considerados insensíveis ou condescendentes por muitos franceses, contribuindo para a queda acentuada de sua popularidade nos sete anos em que foi presidente.

Diversos políticos franceses se manifestaram sobre a fala de Macron. O líder do partido socialista, Olivier Faure, postou no X (antigo Twitter, dizendo que “um presidente não pode dizer isso. Em que outro território francês o presidente daria um sermão aos nossos concidadãos pedindo que parassem de reclamar de sua tragédia, já que eles já têm a sorte de serem franceses?”.

Éric Coquerel, político da esquerda radical francesa, disse que o comentário de Macron foi “completamente indigno”.