Nova York vai às urnas: Mamdani lidera em meio a ataques de Trump e islamofobia nas redes
Republicano ameaça cortar verbas caso democrata vença; postagens antimuçulmanas aumentam mais de 450% na plataforma X
Os nova iorquinos vão às urnas eleger o prefeito da cidade nesta terça-feira (04/11). Zohran Mamdani, de 34 anos, muçulmano, socialista e pró-Palestina está à frente das pesquisas pelo Partido Democrata (PD), apesar dos ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de um forte aumento da onda islamofóbica nas redes sociais.
Segundo pesquisa Atlas Intel, divulgada nesta segunda-feira (03/11), Mamdani lidera com 44% das intenções de voto, seguido pelo ex-governador Andrew Cuomo (39%) e Curtis Sliwa (16%). Frente a este quadro, Trump vem ameaçando cortar as verbas federais para a cidade, em uma tentativa de conter o avanço do socialista.
Ele postou na Truth Social, nesta segunda-feira (03/11), véspera da eleição, que se o “candidato comunista” vencer nesta terça, “é altamente improvável que eu contribua com fundos federais, além do mínimo exigido, para minha amada primeira casa. Não quero, como presidente, desperdiçar dinheiro”. Ele também afirmou que a vitória do socialista seria “um desastre econômico e social”.
E acrescentou: “goste você ou não de Andrew Cuomo, você realmente não tem escolha. Você deve votar nele e torcer para que ele faça um trabalho fantástico. Ele é capaz disso, Mamdani não!”
Mamdani
Mamdani respondeu. Em comício em Astoria, no Queens, ele disse que “a adesão do movimento MAGA a Andrew Cuomo reflete a compreensão de Donald Trump de que este seria o melhor prefeito para ele – não o melhor prefeito para a cidade de Nova York, não o melhor prefeito para os nova-iorquinos, mas o melhor prefeito para Donald Trump e sua administração”.
Ele afirmou que irá “lidar com essa ameaça pelo que ela é: uma ameaça. Não é a lei”, observando que “com muita frequência, tratamos tudo o que sai da boca de Donald Trump como se já fosse legal, simplesmente por ser quem está dizendo”. E acrescentou: “esse financiamento não é algo que Donald Trump está nos dando aqui na cidade de Nova York. É algo que, na verdade, nos é devido em Nova York.”

Mamdani lidera em meio a ataques de Trump e onda de islamofobia nas redes
Reprodução/ @ZohranKMamdani
Como destaca The Guardian, desde o começo do ano, o governo Trump deu início a uma disputa com o estado de Nova York sobre um plano de implementar uma taxação de congestionamento para o tráfego de veículos. A Casa Branca reteve US$ 18 bilhões destinados a um projeto de túnel e já foi instada pela Justiça norte-americana a reverter o corte de cerca de US$ 34 milhões em fundos antiterroristas para a cidade.
As eleições ocorrem ao longo desta terça-feira (04/11) e a expectativa é de alta participação após as votações antecipadas terem registrado mais de 735 mil votos, com forte presença de jovens. A previsão é de que o resultado seja divulgado hoje à noite.
Islamofobia no X
Os ataques de Trump se somam à criação de uma onda islamofóbica na plataforma X. Relatório divulgado nesta segunda-feira (03/11) pelo Centro de Estudos do Ódio Organizado (CSOH, em inglês) revela que publicações anti-Mamdani e anti-muçulmanas na plataforma de Elon Musk aumentaram mais de 450% entre setembro e outubro.
Ao analisar 35.522 postagens em quase 18 mil contas, com alcance estimado de 1,5 bilhão de visualizações desde junho, o levantamento mostra que 72% das postagens enquadram Mamdani em narrativas de “terrorismo”, tentando associar identidade muçulmana a extremismo.
Cerca de 11% dessas postagens defendem a deportação do candidato socialista ou contestam sua cidadania; 9% o classificam como “antiamericano” ou “inimigo interno”; e 8% difundem teorias conspiratórias sobre “imposição da sharia” ou “tomada islâmica” de Nova York.
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Segundo o relatório, reportado pelo Middle East Eye, a frase “New York has fallen” (“Nova York caiu”) tornou-se um bordão repetido nesses ataques. “Isso sugeriu que a candidatura de Mamdani simbolizava a perda do domínio cultural americano ou ocidental, ecoando movimentos de extrema direita na Europa e no Reino Unido”, diz o relatório.
O CSOH alerta que o discurso de ódio e desumanização online pode se traduzir em violência política presencial, dado o aumento recente de crimes de ódio contra muçulmanos no país. A entidade cobra medidas urgentes da plataforma, como moderação reforçada, limitação de contas verificadas que disseminam ódio e inserção automática de alertas contextuais.
Os responsáveis por “múltiplas violações em rápida sucessão” devem “enfrentar atritos graduais”, com algo como um pop-up de caixa de fatos “leia antes de compartilhar”, diz o relatório. O CSOH também exige que o algoritmo da plataforma aumente os contra-argumentos corretivos e exponha “os usuários a informações equilibradas em um momento em que alegações falsas ou odiosas ganham força”, incluindo a expansão do recurso “Notas da Comunidade”, integrado ao X.























