Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

A coalizão governista do primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba perdeu a maioria absoluta na Câmara Alta do Parlamento nas eleições deste domingo (20/07), de acordo com projeções iniciais da imprensa local, incluindo a emissora pública NHK. O conservador Partido Liberal Democrático (PLD) de Ishiba e seu aliado de centro-direita Komeito conquistaram 41 dos 125 assentos em disputa no Senado, muito aquém dos 50 necessários para manter a maioria.

Esse revés político demonstra a insatisfação dos japoneses frente à alta da inflação no país e reflete, também, a ascensão do partido anti-imigração Sanseito.

Há meses, a aliança entre o PLD e o pequeno partido Komeito vinha enfrentando dificuldade para convencer os eleitores japoneses. Sem maioria entre os deputados, a administração Ishiba governava com apoio instável de pequenos partidos de oposição.

A inflação persistente, a alta no custo de vida e o impasse com os Estados Unidos de Donald Trump — que ameaça impor tarifas de 25% sobre produtos japoneses — desgastam ainda mais o premiê.

A inflação permanece alta no Japão (+3,3% em junho, excluindo produtos frescos), impulsionada por uma alta vertiginosa nos preços do arroz, que dobraram em um ano. “Os preços básicos estão subindo, mas o que mais me preocupa é que os salários não aumentam”, afirmou Atsushi Matsuura, 54, em uma seção eleitoral em Tóquio.

Hisayo Kojima, de 65 anos, lamentou a constante redução do valor real de sua aposentadoria: “Pagamos muito para sustentar o sistema previdenciário. Este é o problema mais urgente”, insistiu.

 Revés político demonstra insatisfação dos japoneses frente à alta da inflação no país e reflete ascensão do partido anti-imigração Sanseito
Dean Calma / IAEA

Extrema direita avança

Nesse contexto, o Sanseito, partido de extrema direita surgido durante a pandemia de covid-19 e muito ativo nas redes sociais, ganhou destaque ao canalizar frustrações populares contra os estrangeiros, acusando o governo de globalismo e de negligência com os cidadãos. Com o seu slogan “Japão Primeiro”, o partido populista e anti-imigração obteve ganhos significativos, conquistando entre 10 e 22 cadeiras, apesar de deter apenas duas na atual Assembleia.

A legenda atraiu eleitores decepcionados com o PLD, inclusive jovens e conservadores órfãos da era Shinzo Abe. “O PLD abriga correntes que vão da extrema direita ao centro-esquerda”, explica a pesquisadora Valérie Niquet, da Fundação para a Pesquisa Estratégica. “O Sanseito ocupa o espaço deixado por Abe. Com a sua morte, muitos conservadores nacionalistas passaram a apoiar o Sanseito”, disse ela em entrevista à RFI.

Este partido defende “regras e restrições mais rígidas” à imigração, critica duramente o “globalismo”, denuncia políticas de gênero “radicais” e pede uma revisão das estratégias de vacinação e descarbonização. Sob pressão pelo que considera posições pró-Rússia, o Sanseito negou veementemente qualquer vínculo com Moscou.

Ao perder a maioria no Senado, o governo de Shigeru Ishiba, de 68 anos, ficará em minoria nas duas casas do Parlamento — situação sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, alerta Toru Yoshida, professor de ciência política na Universidade Doshisha. Segundo analistas, a derrota pode levar ao fim de seu mandato.

O LDP governa o Japão quase ininterruptamente desde 1955, apesar das frequentes mudanças de liderança. Além disso, escândalos de corrupção mancharam a reputação do PLD, favorecendo a oposição.