Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O primeiro-ministro indiano Narendra Modi reivindicou nesta terça-feira (04/06), a vitória nas eleições legislativas com uma mensagem publicada na rede social X. “As pessoas depositaram sua confiança na NDA (Aliança Democrática Nacional) pela terceira vez consecutiva”, disse Modi referindo-se à sua coalizão. “Esse é um fato inédito na história da Índia”, acrescentou.

O partido de Modi, que está no poder há 10 anos, já é tido como vencedor das eleições legislativas, mas com uma maioria menos confortável do que o esperado, e um número menor de cadeiras do que no pleito anterior. A oposição e os ativistas de direitos humanos denunciam um retrocesso na democracia e acusando Modi de favorecer os hindus, que formam a maioria no país, em detrimento das grandes minorias, incluindo 210 milhões de muçulmanos indianos, que estão preocupados com seu futuro.

Cerca de 642 milhões de indianos votaram nessa eleição, que ocorreu em sete fases em um período de seis semanas. om base nos 968 milhões de eleitores contados pela comissão, 66,3% dos eleitores participaram da pesquisa, um ponto percentual abaixo dos 67,4% de comparecimento nas eleições gerais de 2019.

O partido nacionalista hindu BJP do primeiro-ministro conquistou cerca de 250 assentos, uma maioria relativa que forçará Modi a formar alianças com partidos regionais para conseguir governar. Esta será a primeira vez em que o chefe de governo indiano terá que administrar uma coalizão.

“E isso faz uma diferença muito grande, porque há apenas dois partidos que poderão tirar o BJP de sua situação. Esse é o TDP, Telugu Desam Part, de Chandrababu Naidu e o JYU, Janata Yunda United, de Nitish Kumar. E esses dois homens têm feito e desfeito as principais alianças políticas nos últimos 20 anos na Índia de uma forma bastante sistemática. Eles são políticos experientes. Eles serão cortejados por ambos os lados, de Modi e da oposição”, analisa Christophe Jaffrelot, diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa Internacional (CERI), Sciences-Po-CNRS, da França.

“Modi não tem muita cultura de coalizão, nunca teve que administrar uma coalizão. Quando era chefe do governo de Gudjarat, ele já tinha maioria absoluta. E desde 2014, na Índia, o BJP sempre teve maioria absoluta. Portanto, provavelmente seremos testemunhas de negociações muito apertadas, e a formação do governo provavelmente levará um bom tempo”, detalha Jaffrelot em entrevista à RFI. “E não é de forma alguma certo que o BJP manterá Narendra Modi como seu líder”, acrescenta.

Narendra Modi/site
Partido de Modi, que está no poder há 10 anos, já é tido como vencedor das eleições legislativas

Linha dura

Em um contexto em que Narendra Modi adota uma política cada vez mais dura, denunciada por vários partidos políticos, os resultados não pareciam confirmar as pesquisas de boca de urna locais, normalmente pouco confiáveis.

O BJP perdeu muitos votos no norte da Índia, como o Uttar Pradesh. O maior estado da região, onde vive uma população de 100 milhões de habitantes e conta com 85 assentos de 543 na câmara baixa do parlamento, é considerado crucial para o cenário político do país.

“É lá que se decidem as eleições indianas. E nesse estado, o que vimos foi o retorno em força de um partido, poderíamos dizer da plebe, do campesinato. O Partido Socialista está voltando com força e reflete a impressão que temos hoje do fim de um ciclo”, diz Jaffrelot.

“O fim de um ciclo, nesse caso, é o fim de uma política dominada por castas religiosas, dominadas pela identidade hindu, o que significa que, seja qual for o caso, seja qual for a classe, as pessoas votaram no BJP, especialmente para construir o templo Ayodia, o famoso templo que Modi inaugurou em janeiro passado. Bem, se o jogo vira dessa forma, é porque muitos daqueles que anteriormente apoiavam essa visão da política por meio de um prisma religioso estão redescobrindo outras identidades”, assinala o especialista.

“Obviamente, isso ocorre no contexto de uma crise social sobre a qual ninguém queria falar e que a campanha política evitou completamente: uma crise no campo, uma crise entre os agricultores, um desemprego absolutamente maciço, principalmente entre os jovens. E o símbolo dessa reviravolta, dessa transição, é o fato de que no distrito eleitoral onde Modi inaugurou o famoso templo em 24 de janeiro, não é o BJP que está vencendo, é o Partido Socialista, e isso é um símbolo importante”, explica Jaffrelot.

Bem, podemos supor que o Congresso recuperará o papel que teve há 10 anos, entre 2004 e 2014, quando foi o pivô de uma coalizão de 14 partidos, a maioria dos quais eram partidos regionais. E esse é o seu papel natural. porque o Congresso respeita o federalismo e, portanto, não centraliza o poder tanto quanto o BJP, o que os partidos regionais apreciam muito”, afirma. Desse ponto até a construção de uma maioria alternativa, há sempre um passo difícil de ser dado, porque o BJP e Narendra Modi farão de tudo para se manter no poder. No caso de Narendra Modi, este é um dilema quase existencial, o fato de se encontrar fora do poder e correr riscos absolutamente incalculáveis”, conclui o cientista político.