Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O diretor-geral da British Broadcasting Corporation (BBC), Tim Davie, declarou nesta terça-feira (11/11) que a narrativa sobre o impasse com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “não será ditada apenas pelos inimigos” da emissora.

Em pronunciamento aos funcionários da emissora britânica, Davie — que renunciou ao cargo em meio às acusações de adulteração de imagens do discurso do mandatário norte-americano — falou em “um período muito difícil” enfrentado pela corporação pública de rádio e TV do Reino Unido.

“Estes são tempos difíceis para a BBC, mas vamos superar isso. Vamos superar isso e prosperar. Esta narrativa não será imposta apenas pelos nossos inimigos. É a nossa narrativa. Nós somos donos disso”, declarou Davie.

O diretor também denunciou que tais “inimigos” estão fazendo a “instrumentalização” dos erros da emissora, e apelou que os colaboradores da emissora defendam seus trabalhos.

“Vejo a imprensa livre sob pressão. Vejo a sua instrumentalização. Acho que temos de lutar pelo nosso jornalismo”, afirmou.

Davie, que permanecerá como diretor interino enquanto procura um sucessor para o cargo, reconheceu que a emissora “cometeu alguns erros que custaram caro”, mas disse “não se arrepender de nada” em sua trajetória na emissora.

Por outro lado, o presidente da BBC, Samir Shah disse ter “limpado o terreno” para organizar a “completa sucessão” de Davie.

A busca por um novo diretor-geral para a emissora se tornou a principal prioridade para Shah e o conselho da BBC, mas o representante alertou que a decisão pode levar tempo. “Este não é um cargo fácil de preencher”, admitiu.

Por fim, Shah disse considerar que “a forma como nós, como país, atacamos as pessoas de forma tão pessoal não é boa”.

Trump ameaçou processar BBC pela edição de duas imagens suas em momentos distintos durante discurso proferido em 2021
Official White House Photo by Daniel Torok

Posição do governo britânico

Apesar da BBC ser uma emissora pública, o governo britânico sinalizou que não intervirá na disputa com o presidente dos EUA. Durante coletiva de imprensa em Downing Street, um porta-voz do governo Keir Starmer afirmou que a pauta “é assunto da BBC”.

“Claramente, não cabe ao governo comentar sobre questões legais em andamento”. O porta-voz afirmou que a BBC é “editorial e operacionalmente independente” e que deve tomar suas próprias decisões acerca do caso.

Outra porta-voz reconheceu, na segunda-feira (10/11), a necessidade de “a BBC agir para manter a confiança pública” e “corrigir rapidamente os erros, quando ocorrerem”, visto que “a responsabilidade é um elemento vital de qualquer serviço público de radiodifusão”.

Entenda o caso

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou uma carta à BBC, ameaçando processá-la pela edição de duas imagens suas em momentos distintos durante um discurso proferido pelo republicano em 2021.

O magnata acusa a emissora de adulterar as imagens exibidas em um documentário da série investigativa Panorama, levando à “impressão de que ele teria incitado, de modo explícito, o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro do mesmo ano”, data em que apoiadores de Trump invadiram o local para protestar contra uma suposta fraude eleitoral em 2020, quando o republicano perdeu a eleição presidencial para o democrata Joe Biden.

No último domingo (09/11), o mandatário norte-americano chamou os envolvidos de “jornalistas corruptos”, acrescentando que “são pessoas muito desonestas que tentaram interferir no resultado de uma eleição presidencial”.

Já na segunda-feira (10), a emissora, que confirmou o recebimento da carta, pediu “desculpas pelo erro de julgamento na edição do discurso de Trump em um documentário” em seus canais.

A mídia também informou que o diretor-geral, Tim Davie, e a chefe de redação, Deborah Turness, deixaram seus cargos em meio às acusações de adulteração de imagens do discurso do chefe de Estado norte-americano. Os dois jornalistas declararam que assumiriam a responsabilidade pelo caso.

(*) Com Ansa