Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O deputado italiano Angelo Bonelli, responsável pela denúncia que levou Carla Zambelli à prisão, revelou nesta quarta-feira (30/07) ter recebido ameaças de morte após informar o paradeiro da deputada federal brasileira à polícia.

“Estou recebendo numerosas ameaças, inclusive de morte, pelo ocorrido”, contou Bonelli, líder da coligação Aliança Verdes e Esquerda (AVS), força de centro-esquerda no parlamento da Itália, em um comunicado.

“Agora caberá à Justiça italiana decidir, e depois caberá ao governo decidir sobre a extradição de Zambelli”, completou a nota do parlamentar à imprensa, de acordo com o UOL.

Bonelli disse ter recebido uma informação com o endereço de Zambelli às 18h40 do horário local (13h40 no horário de Brasília) da última terça-feira (29/07). “Às 19h50, informei a Polícia de Estado. Às 21h, a Polícia localizou e identificou Carla Zambelli naquele apartamento no bairro Aurelio, em Roma”, acrescentou o deputado.

“Acredito ter desempenhado meu dever de cidadão, ao contrário de quem pensava em se tornar intocável explorando a cidadania italiana”, destacou, citando a impunidade que Zambelli acreditava ter devido à condição jurídica de também pertencer ao Estado italiano.

Em meio às ameaças, as redes sociais de Bonelli também têm sido inundadas com mensagens de brasileiros de agradecimento pela denúncia contra Zambelli.

Bonelli, que costumava receber apenas algumas poucas centenas de comentários em suas publicações no Instagram, contra agora com milhares de mensagens.

“Vamos providenciar para esse querido um CPF, carteirinha do SUS, uma caipirinha, um chinelo havaianas e uma cadeira na praia”, disse uma usuária.

“O senhor foi um anjo”, escreveu outra, em referência ao primeiro nome do deputado, Angelo, palavra em italiano para “anjo”.

Até mesmo a mais recente tendência gastronômica do Brasil apareceu nos agradecimentos: “Como a gente faz para enviar uns morangos do amor?”, perguntou uma internauta.

Mensagens como “gratidão”, “o Brasil te ama” e “obrigado” também se repetiram inúmeras vezes na página de Bonelli, que tem aparecido com frequência na imprensa brasileira desde a fuga de Zambelli para a Itália.

“Acredito ter desempenhado meu dever de cidadão, ao contrário de quem pensava em se tornar intocável explorando a cidadania italiana”, declarou Bonelli
Angelo Bonelli/X

Zambelli é presa e aguarda interrogatório

A parlamentar bolsonarista foi capturada e aguarda o andamento de seu processo de extradição na penitenciária feminina de Rebibbia, uma das principais do país e que sofre com problemas de superlotação.

Começando com uma audiência agendada para a próxima sexta-feira (01/08), para que a prisão seja validada, o processo de extradição tem duração incerta, e a palavra final caberá ao Ministério da Justiça italiano.

Segundo a Folha de S. Paulo, o interrogatório de Zambelli na sexta-feira questionará se a parlamentar “gostaria de ser enviada espontaneamente para o Brasil, sem a necessidade de um processo de extradição”, uma vez que há um mandado de prisão internacional contra ela.

Caso Zambelli rejeite o envio espontâneo, a Justiça italiana deve decidir medidas cautelares para que a parlamentar cumpra no país europeu enquanto o processo de extradição tramitar. De acordo com a Folha, há três possibilidades: que ela continue presa em penitenciária, prisão domiciliar ou aguardar em liberdade.

A deputada chegou a gravar um vídeo antes de ser presa, no qual garantiu estar “tranquila” e que não vai “voltar ao Brasil para cumprir pena”. “Se eu tiver que cumprir pena, vai ser aqui na Itália, que é um país justo e democrático”, declarou.

Após a prisão, disse por meio de seu advogado na Itália, Pieremilio Sammarco, que a visitou na cadeia nesta quarta-feira, “ter esperança de que a Itália negará sua extradição”, solicitada em junho por meio da Embaixada brasileira em Roma.

“Eu sofri no Brasil uma perseguição política, sem provas e sem qualquer garantia de defesa. Não vou desistir, minha esperança é que a Itália se oponha à minha extradição”, declarou.

Segundo Sammarco, o “interesse de alguns políticos italianos pelo caso” pode ajudar a “esclarecer o que ocorreu com Zambelli nos tribunais da Justiça brasileira”, em referência à intenção do vice-premiê e ministro da Infraestrutura italiano, Matteo Salvini, aliado da família Bolsonaro, de se encontrar com a deputada na cadeia.

Contudo, Zambelli afirmou que esperava “mais” do governo da Itália, segundo o jornal la Repubblica e que não sabe se haverá alguma demonstração de apoio por parte da gestão da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

“Não sei se Salvini prometeu algo para ele [Flávio Bolsonaro]. Mas não somos amigos. Eu esperava algo mais. De Salvini, mas também de Meloni, que é amiga de Trump. E Trump sabe o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Zambelli.

Segundo a assessoria de imprensa do ministro da Infraestrutura, ele tem intenção de visitar a deputada na cadeia, mas Meloni nunca comentou o caso.

Zambelli estava foragida na Itália desde o início de junho após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão por conta de uma invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O crime foi cometido com a ajuda do hacker Walter Delgatti Neto, sentenciado a oito anos e três meses de detenção, e tinha o objetivo de prejudicar a credibilidade do poder Judiciário brasileiro.

(*) Com Ansa