Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou nesta sexta-feira (22/08), no encontro de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), realizado em Bogotá, na Colômbia. O líder brasileiro ainda manteve um encontro de mandatários com entidades indígenas e da sociedade civil.

Nas ocasiões, Lula repudiou a violência e citou a morte “de quem luta pela Amazônia, como Chico Mendes, Dorothy Stang, Bruno Pereira e Dom Phillips e tantos outros”, referindo-se a ambientalistas que foram vitimados na região.

Lula criticou a falta de comprometimento dos países ricos com o enfrentamento à mudança do clima e cobrou que as decisões acordadas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive financeiras, sejam tratadas com seriedade.

O presidente cobrou novamente dos países mais ricos um financiamento mais robusto para o combate às mudanças do clima, para além dos US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) por ano prometidos na COP29, em Baku, no Azrebaijão. “É preciso que aqueles que acham que tem que manter a floresta em pé de toda forma ajudem a pagar para que a gente possa manter essa floresta em pé”, disse.

“Toda vez que alguém tenta me convencer que tem dinheiro para resolver esse problema, eu fico me perguntando: ‘Eu quero ver quem vai dar o dinheiro’. Porque de promessa nós estamos cheios”, declarou o presidente brasileiro, também cobrando dos países ricos metas ambiciosas de redução de gases de efeito estufa em suas localidades.

“O futuro do bioma não depende só dos países amazônicos, mas mesmo que mais nenhuma árvore seja derrubada, a floresta continuará em risco, se o resto do mundo não avançar na redução de gases de efeito estufa”, disse.

COP30

O líder brasileiro busca o engajamento dos países amazônicos para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) e apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, da sigla em inglês), que será lançado durante o evento em novembro, em Belém, no Pará. O fundo será um mecanismo de financiamento destinado a preservar esses biomas florestais, presentes em cerca de 70 países, e que são cruciais para a regulação do regime de chuvas e captura de carbono na atmosfera.

“Em toda COP que a gente vai, se toma muitas decisões e depois elas não são executadas. Poucos países se matam para tentar cumprir as decisões. Outros não dão a menor importância e outros, depois que termina a COP, negam a assinatura do acordo”, criticou Lula.

“Precisamos de uma nova governança mundial. Se a ONU é o lugar que criamos para tratar dos temas mais importantes da humanidade, é lá que a mudança do clima deve estar. Vamos trabalhar para que se crie um conselho de clima capaz de mobilizar os países a efetivarem seus compromissos”, acrescentou.

No encontro dos presidentes com entidades indígenas e da sociedade civil, Lula argumentou que, ao propor soluções para a Amazônia, é preciso considerar as populações que vivem na região, como os próprios indígenas, pescadores, extrativistas e pequenos trabalhadores rurais. Ele voltou a dizer que a COP30 será uma oportunidade para que os tomadores de decisões conheçam a floresta de perto.

“A gente tem que manter a floresta em pé e os trabalhadores e indígenas que moram lá, vivos. É isso que nos interessa nessa COP30, quem vai fazer o quê. Porque senão é importante a gente fazer outra coisa do que fazer as COP, gastar uma fortuna para fazer a COP e depois o resultado é quase zero”, disse.

“A gente está fazendo na Amazônia em situações [mais inferiores]… não é como Paris, não é como Dubai, não vai ser no lugar chique desse, é a Amazônia. E a gente quer que as pessoas vejam a real situação das florestas, dos nossos rios, dos nossos povos que moram lá, para a gente saber que nós temos uma tarefa quase que hercúlea para que a gente possa cuidar dessa questão climática”, acrescentou Lula.

Em seu discurso, o presidente brasileiro também fez referência às ações de governo dos Estados Unidos de enviar navios de guerra para a costa da Venezuela, no sul no Caribe, com o argumento de enfrentar ameaças de cartéis de drogas latino-americanos. Para Lula, isso é um pretexto para intervir nos países da região.

“Há muito tempo que os países ricos nos acusam de não cuidar da floresta. Aqueles que poluíram o planeta tentam impor modelos que não nos servem, utilizam a luta contra o desmatamento como justificativa para o protecionismo, usam o combate ao crime organizado como pretexto para violar nossa soberania. Mas está chegando o momento de mostrar ao mundo a realidade da Amazônia. Ela não é só feita de árvores, é também de gente que vive e respira todos os dias”, disse.

Na Cúpula da Amazônia, Lula cobrou novamente dos países mais ricos financiamento mais robusto para combate às mudanças do clima 
Ricardo Stuckert / PR

Leia o discurso de Lula na Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)

Estar aqui é ver a semente que plantamos há dois anos crescer e frutificar.

Na Cúpula de Belém, eu disse que aquele momento representava o início de um novo sonho amazônico.

Uma canção brasileira diz que sonhos que sonhamos juntos viram realidade.

Se estamos aqui hoje é porque o governo e o povo colombianos sonharam conosco e trabalharam para avançar na construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

Em 2023, os Diálogos Amazônicos reuniram quase 30 mil pessoas, que nos ajudaram a formar essa nova visão.

Hoje, este encontro dos presidentes com a Sociedade Civil e Povos Indígenas abre caminho para a COP30.

Eu quero outra vez agradecer à Colômbia por dar continuidade a essa experiência e manter a porta da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica aberta a todos.

A OTCA é uma plataforma viva, que precisa estar à altura dos desafios da atualidade e sensível aos anseios da sociedade.

Nesses dois anos, avançamos muito no seu fortalecimento.

Testemunhamos a histórica estruturação do Mecanismo Amazônico de Povos Indígenas, que vai incluir quem tem sido excluído há mais de cinco séculos.

Espero que, em breve, possamos contar com a OTCA Social, para garantir contato permanente entre a sociedade civil e as instâncias decisórias da Organização.

A OTCA forte depende de meios institucionais e financeiros adequados.

Mas não se sustenta sem estratégias e políticas nacionais robustas.

No Brasil, a Amazônia voltou ao centro da ação governamental.

Nos primeiros dois anos de governo, reduzimos quase que pela metade o desmatamento na região.

Vamos transformar o Arco do Desmatamento no Arco da Restauração, recuperando 12 milhões de hectares de vegetação nativa.

Temos hoje quase 130 unidades de conservação na Amazônia, e homologamos dezesseis novas terras indígenas em todo o país.

O povo amazônico merece viver livre da violência.

Violência que destrói a floresta e envenena as águas.

Que acaba com o sustento dos pescadores e dos extrativistas.

Que expulsa indígenas de suas terras e ribeirinhos das suas casas.

Que tira a vida de quem luta pela Amazônia, como Chico Mendes, Dorothy Stang, Bruno Pereira, Dom Philips e tantos outros.

Por isso, fortalecemos ações de fiscalização ambiental.

Reduzimos a praticamente zero o índice de áreas de garimpo ilegal no Território Yanomami, no estado de Roraima.

Inauguramos, em Manaus, o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, que vai facilitar a coordenação com países amazônicos no combate ao crime organizado.

A falta de oportunidades é uma injustiça contra o povo amazônico.

O acesso à educação, à saúde e à moradia não pode ser privilégio de poucos.

O povo amazônico quer empreender, trabalhar, produzir e viver.

Estamos colocando em prática a noção de bioeconomia.

Nosso programa de Florestas Produtivas vai fomentar o plantio de espécies nativas em paralelo com o cultivo de alimentos.

Não faz sentido que uma região tão rica sofra tanto com a fome e a pobreza.

Expandimos o Bolsa Verde, que transfere renda para famílias que vivem em unidades de conservação e comunidades tradicionais.

Queridas amigas e amigos,

Quando oferecemos o Brasil como sede da COP30, sabíamos que essa reunião não poderia acontecer em nenhum outro lugar senão na Amazônia.

Há muito tempo que os países ricos nos acusam de não cuidar da floresta.

Aqueles que poluíram o planeta tentam impor modelos que não nos servem.

Utilizam a luta contra o desmatamento como justificativa para o protecionismo.

Usam o combate ao crime organizado como pretexto para violar nossa soberania.

Mas está chegando o momento de mostrar ao mundo a realidade da Amazônia.

Ela não é só feita de árvores. É também de gente – que vive e respira todos os dias.

O futuro do bioma não depende só dos países amazônicos.

Mesmo que mais nenhuma árvore seja derrubada, a floresta continuará em risco se o resto do mundo não avançar na redução de gases de efeito estufa.

A dependência de combustíveis fósseis nos condena a um futuro incerto.

O caminho mais promissor é o da diversificação das fontes.

A descarbonização não é uma escolha, ela vai se tornando uma necessidade.

(*) Com Agência Brasil